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JANIO DE FREITAS
Sem parceiros
Pode ser por desinformação,
talvez seja por apatia, mas
nem o que interessa diretamente
à vida de nossas cidades e Estados, da qual tanto nos queixamos,
é capaz de provocar alguma atitude. Nem que seja indireta, por via
da mídia não menos desinteressada.
Há duas semanas, centenas de
prefeitos foram a Brasília lutar
pelo Fundo de Participação dos
Municípios, que esperavam desse
a suas cidades R$ 1,2 bi ainda neste ano, além de razoável melhoria
em 2005. Viagem perdida. Se fossem prefeitos alemães ou coreanos
teriam mais cobertura da mídia
brasileira, mais atenção dos seus
munícipes.
Agora está aí um punhado de
governadores batalhando pela inclusão no Orçamento de 2005, a
ser votado (ou empurrado) nesta
semana, de recursos para compensar os Estados por perdas de
arrecadação do ICMS, impostas
pela Lei Kandir em benefício das
exportações (ou dos exportadores). A compensação devida, pelos
cálculos dos Estados, é da ordem
R$ 9 bi. Visitado na semana passada pelos governadores, o ministro Antonio Palocci só admitiu incluir no Orçamento R$ 4,3 bi, nem
a metade das contas estaduais.
Nova reunião marcada para ontem, com a finalidade de discutir
possível acréscimo ao aceito por
Palocci, não encerra o problema,
porque falta a votação no Congresso, onde o governo pode atuar
ainda contra os Estados.
Os bilhões reivindicados pelos
governadores poderiam resultar
em enormes benefícios para os Estados, mesmo que nem toda a sua
aplicação seja a necessária ou a
melhor. Retidos pelo governo, vão
engrossar os outros muitos bilhões
destinados a fazer supostos saldos
governamentais, acima dos exigidos pelo FMI, e pagar juros pela
taxa mais alta do mundo. Mas
não fazer investimentos necessários e despesas indispensáveis à
população, para apresentar uma
sobra de recursos financeiros, não
resulta em saldo verdadeiro. É, na
realidade, um prejuízo para a população e para a economia mesma.
Embora trave a batalha certa, o
grupo de governadores não conta
com apoio algum. Nem o de suas
bancadas parlamentares.
O aumento das exportações é
muito conveniente sob vários aspectos, mas não é proveitoso e não
é justo que traga desvantagem para as populações de vários Estados
(São Paulo, Minas, Rio Grande do
Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Bahia, entre outros) e numerosos
municípios. Desvantagens que
não se dão apenas sob a forma de
impostos dispensados. Em breve
se concretizará, nesse sentido, um
exemplo gigantesco. São as PPPs.
O governo federal festeja a aprovação das parcerias em que o próprio governo entra com 70% e o
capital privado com o restante (o
que não dizer dinheiro próprio,
que o BNDES mudou de orientação para repetir sua generosidade
nas grandes privatizações). Com
essa interessante sociedade, o governo quer começar pela reforma
do sistema portuário, para servir
melhor à exportação.
Mas, como se deu em todos os
pólos industriais e correlatos, o
município e o Estado é que vão
arcar com as obras de infra-estrutura requeridas por cada porto reformado: vias de acesso adequadas às modernas jamantas, sistemas apropriados de água, saneamento e outros serviços. São altos
custos pagos pela população, e duplamente: em impostos e em destinação de recursos que não beneficiam o seu modo de vida. Para arrematar esse processo de crescente
deterioração de cidades e das condições de seus habitantes, Estados
e municípios não são ressarcidos
do seu investimento e não podem
fazer a arrecadação normal sobre
produtos e atividades de exportação, para melhorar os preços dos
exportadores brasileiros na competição internacional.
Os governadores que buscam a
devida compensação batalham
sem apoio.
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