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Procurador italiano critica omissão de países da Condor
Autor dos pedidos de extradição diz que autoridades não ajudaram na
investigação
Giancarlo Capaldo quer que
acusados sejam julgados na
Itália; governo brasileiro
diz não haver pedido de
colaboração na apuração
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O procurador italiano Giancarlo Capaldo quer a colaboração do Brasil para que os brasileiros que tiveram o pedido de
extradição decretado por crimes da ditadura possam ser julgados na Itália.
Capaldo, que investiga desde
1999 a tortura e o desaparecimento de cidadãos italianos na
Operação Condor -plano de
repressão conjunta de ditaduras sul-americanas contra opositores nos anos 70 e 80-, foi o
autor dos pedidos de prisão expedidos na segunda, em Roma,
pela juíza Luisanna Figliola.
Em entrevista à Folha, Capaldo confirmou que entre os
140 acusados citados no pedido
de extradição há 11 brasileiros.
Mas disse que não poderia revelar os nomes. Embora a
Constituição não preveja a extradição de cidadãos brasileiros, como deixou claro o ministro da Justiça, Tarso Genro,
Capaldo reiterou que o objetivo do pedido de prisão é interrogar e julgar na Itália os responsáveis pela Operação Condor. Ou, no mínimo, fazer com
que sejam processados no Brasil. "Esperamos contar com a
colaboração das autoridades
brasileiras para que os acusados sejam julgados na Itália."
Pouco antes, em entrevista à
agência de notícias espanhola
Efe, ele se queixou da pouca
ajuda recebida dos governos na
investigação iniciada há 18
anos sobre o desaparecimento
de 25 cidadãos italianos no
Brasil, Chile, Argentina, Uruguai e Bolívia. "A falta de colaboração das autoridades desses
países complicou muito as coisas", disse. "É dificílimo investigar em outro país sem a ajuda
de suas autoridades."
O Itamaraty afirmou não ter
encontrado, em "consulta rápida na área jurídica", nenhum
registro desde 1998 de pedido
relativo à Operação Condor,
nem com o nome do procurador Capaldo. O Ministério da
Justiça disse não haver "registros sobre qualquer solicitação
feita pelo governo italiano sobre o caso Condor nesta gestão
e em nenhuma outra".
A Embaixada do Brasil em
Roma não recebeu até ontem
nenhuma notificação das autoridades italianas. Diplomatas
dos dois países esperam que o
pedido de prisão seja feito pelo
Ministério da Justiça italiano a
seu equivalente no Brasil.
Este é o procedimento que
costuma ser seguido por países
que mantêm acordos de cooperação em matéria penal, como
Brasil e Itália. Diplomatas prevêem que a notificação ao Ministério da Justiça brasileiro,
contudo, poderá demorar semanas, já que a documentação
precisa ser traduzida para os
idiomas dos países dos acusados, espanhol e português.
O advogado Giancarlo Maniga, que defende na Itália parentes argentinos e chilenos de vítimas da Operação Condor, comemorou os pedidos de prisão.
Para ele, a decisão tem grande
importância simbólica, pois indica que os crimes são graves
demais para ficar impunes,
mesmo depois de tanto tempo.
Ele reconheceu, no entanto,
que a execução dos pedidos não
será tarefa fácil, diante da "extrema complexidade" dos processos. "O nível de cooperação
judicial varia de país para país e
as legislações domésticas também são diferentes em cada lugar", disse Maniga à Folha, de
Roma. "É preciso examinar,
por exemplo, como as leis de
anistia se aplicam a cada caso."
Pelo que se sabe da investigação, os 11 brasileiros citados são
acusados pelos desaparecimentos de Horacio Domingo
Campiglia e Lorenzo Ismael
Viñas. Ambos cidadãos ítalo-argentinos, foram vistos pela
última vez em 1980, o primeiro
no Rio e o segundo em Uruguaiana (RS). Seus casos não se
enquadrariam na Lei da Anistia brasileira, que perdoou crimes políticos cometidos até
agosto de 1979.
O pedido de extradição, feito
na véspera do Natal, pegou de
surpresa até os que acompanham o dia-a-dia do caso, como
o advogado Maniga. Para ele, a
decisão parece ter sido especialmente acelerada para surpreender Jorge Néstor Troccoli Fernandez , ex-agente da Marinha uruguaia acusado de seqüestros para fins de homicídio
na época da ditadura, o único
da lista que estava na Itália.
O uruguaio foi preso na segunda em Salerno, no sul do
país, e ontem teve sua primeira
audiência em Roma. À juíza
Luisanna Figliola, Troccoli negou as acusações. Disse que era
só um subtenente encarregado
de recolher informações.
Com a Sucursal de Brasília
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