São Paulo, sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

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"Isso é coisa de argentino", diz irmão de Figueiredo

Euclydes Figueiredo Filho lembra que ele nem comandava o 1º Exército na época

General afirma que o então presidente nunca lhe falou nada da Operação Condor e ironiza jornais que disseram que ele já havia morrido

João Bittar - 3.out.1984/Folha Imagem
General João Baptista de Figueiredo, que presidiu o país de 79 a 85


MARCELO BERABA
DA SUCURSAL DO RIO

O general aposentado Euclydes de Oliveira Figueiredo Filho, 88, não comandava o 1º Exército (Comando Militar do Leste) em março de 1980, como consta nos documentos do caso Horacio Domingo Campiglia.
Figueiredo é um dos brasileiros com mandado de prisão expedido pela Justiça italiana por fazer parte da cadeia de comando do Exército no período em que ocorreu o desaparecimento de Campiglia no Aeroporto do Galeão, no Rio. Na época, ele comandava a 1ª Divisão do Exército na Vila Militar, no Rio, subordinada ao 1º Exército.
Questionado se sabia por que teve a prisão determinada pela Justiça italiana, disse: "Sei lá! Isso é coisa de argentino". Como alguns jornais publicaram nos últimos dias que ele já tinha morrido, ele reagiu inicialmente com humor, mas depois criticou a imprensa. "Infelizmente ainda estou vivo. Vocês queriam me matar [risos]. Vocês [jornalistas] são maus profissionais porque fazem reportagem sem conhecimento de causa, não investigam."
Filho do general Euclides Figueiredo, um dos líderes da Revolução de 1932, e irmão do ex-presidente João Baptista de Figueiredo (1979-1985), último presidente da ditadura militar, o general voltou ontem a negar que tivesse participado de qualquer ação como a que lhe acusa a Justiça italiana e disse desconhecer a Operação Condor.
"Servi na 2ª Seção [serviço de informações] do Estado Maior do Exército durante dois anos [64-66] e servi no Gabinete Militar do presidente Médici [Emílio Garrastazu Médici, 1969-1974], subordinado ao João [Baptista de Figueiredo], mais de um ano. O João nunca me falou nesta Operação Condor. Se houvesse, ele teria me falado naquele período. De modo que eu não sei de nada."
Figueiredo foi promovido a general de Exército em 1982 e exerceu, no final da carreira, o Comando Militar da Amazônia (82-83) e a direção da Escola Superior de Guerra, até ser reformado em outubro de 1985.
Em 1969, ele presidiu um Inquérito Policial Militar em Belo Horizonte sobre a participação de religiosos em atos subversivos. Segundo ele, entre os acusados estavam três padres franceses, mas ninguém foi condenado. Depois ele foi adido militar na Colômbia (71), comandou a 2ª Brigada de Cavalaria em Uruguaiana (73), cursou a Escola Superior de Guerra (75), comandou a 8ª Região Militar, em Belém (76-78), serviu no Estado Maior do Exército em Brasília (79) e, em agosto, passou a comandar a 1ª Divisão.


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