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LONGE DO GABINETE
Comportamento de "ministro-premiê" incomoda presidente
Lula vai enquadrar Dirceu por "atropelar" ministros
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Assim que voltar do exterior, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai enquadrar o ministro José
Dirceu (Casa Civil), por avaliar
que ele está extrapolando a ordem
para se dedicar exclusivamente ao
gerenciamento do governo.
Segundo a Folha apurou, já chegou ao Palácio do Planalto a contrariedade de Lula com as atropeladas que outros ministros sofreram de Dirceu nos últimos dias,
além de seu incômodo com a publicidade dos novos poderes do
ministro -que vem se comportando de fato como chefe de governo na ausência do presidente.
Em visita à Índia (7 horas e 30
minutos adiante do horário de
Brasília), Lula acompanhou os fatos políticos da semana. Chateou-se, por exemplo, com a declaração
de Dirceu dizendo que o ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda)
não é contra o projeto de lei do
presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que amplia benefícios fiscais na região Norte.
De uma só tacada, Dirceu atropelou Palocci, que se opõe ao projeto, e Aldo Rebelo, porque falou
de um assunto que deveria ser
conduzido a partir de agora pelo
novo ministro da Coordenação
Política e Assuntos Institucionais.
Rebelo teme que Dirceu não desencarne da coordenação política.
Lula também não gostou da
afirmação de Dirceu de que reformularia órgãos do governo, como
Funai e Embrapa, que estão lotados em outros ministérios. Alguns ministros viram a declaração como uma espécie de autorização para intervenções públicas
em outras pastas.
Não foi isso o que Lula combinou com Dirceu quando tirou da
Casa Civil as funções políticas e levou para a pasta a parte de gestão
governamental que estava no Planejamento. Dirceu tem poder delegado por Lula para se dedicar ao
gerenciamento de governo, mas
não para se comportar publicamente como primeiro-ministro.
Segundo a Folha apurou, Lula
disse a Dirceu desejar que ele atue
"para dentro do governo", acompanhando melhor as ações ministeriais e a execução orçamentária.
Lula quer ainda que Dirceu saia
dos holofotes.
Estilo Dirceu
Sua contrariedade se deve mais
ao estilo de Dirceu do que ao conteúdo das decisões de governo
propriamente ditas. Exemplo: o
ministro da Casa Civil disse publicamente que o governo não enviaria ao Congresso em 2004 o
projeto de autonomia do BC
(Banco Central). É o que deve
acontecer, mas não era para ser
dito. Palocci reclamou, e Dirceu
recuou depois de ser enquadrado
por Lula no Palácio da Alvorada.
Políticos ligados a Dirceu avaliam que ele precisa tomar o cuidado de não repetir Clóvis Carvalho, ministro da Casa Civil no primeiro mandato do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso
(1995-1998). Ou seja, com uma
eventual reeleição de Lula, não
reassumir a Casa Civil.
Carvalho começou como um
discreto chefe da Casa Civil, que
se orgulhava de governar com os
secretários-executivos (aqueles
que são a segunda posição em cada ministério). Nunca falava de
política. No entanto, terminou o
primeiro mandato com fama de
homem forte, mais até do que Pedro Malan (Fazenda), que enfrentaria desgaste logo em seguida,
com a desvalorização do real.
No início do segundo mandato,
Carvalho, à época no Ministério
do Desenvolvimento por manobra de FHC para afastá-lo do Palácio do Planalto, trombou com
Malan e acabou caindo.
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