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REDUTO ELEITORAL
Estimativa é da Receita; João Paulo diz que votação de proposta de incentivos fiscais para o Norte foi adiada
Projeto de Sarney pode lesar erário em R$ 831 milhões
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Secretaria da Receita Federal
estima que os cofres públicos podem deixar de arrecadar R$ 831,4
milhões anuais caso seja aprovado o projeto de lei que amplia benefícios fiscais para a região Norte, de autoria do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
A projeção foi feita partindo do
pressuposto de que a Área de Livre Comércio de Macapá e Santana (AP) e a Amazônia Legal
(Amazonas, Acre, Rondônia e
Roraima), beneficiadas pela proposta, atingirão o mesmo patamar de desenvolvimento da Zona
Franca de Manaus (AM).
O projeto original só ampliava a
concessão de benefícios à Área de
Livre Comércio de Macapá e Santana -reduto eleitoral de Sarney-, mas, no Senado, parte dos
incentivos da Zona Franca foram
estendidos ao Amazonas, Acre,
Rondônia e Roraima. Mesmo
com parecer contrário da Receita,
o projeto foi aprovado no Senado
em outubro de 2003.
Hoje, a área de livre comércio
do Amapá dá incentivos apenas à
compra e venda de produtos, não
à produção. O projeto determina
a renúncia de IPI, impostos de
importação/exportação para bens
feitos com matérias-primas regional, derivados de oito segmentos.
Uma das preocupações da Receita é que o excesso de incentivos
fiscais causem danos ao restante
da indústria nacional. O projeto
de lei também infringe a Lei de
Responsabilidade Fiscal, por não
apontar medidas compensatórias
à ampliação de renúncia fiscal.
O projeto ainda contraria, segundo o órgão, acordo do Mercosul que proíbe a criação de novas
áreas similares à Zona Franca de
Manaus, no Brasil, e à Área Aduaneira da Terra do Fogo, na Argentina, e estabelece que as já existentes não podem sofrer alterações.
A Receita alerta para dificuldades
de interpretação legal devido à sobreposição de incentivos e para
brechas na definição dos segmentos que poderão ter renúncia fiscal caso utilizem matéria-prima
de origem regional.
Entre os defensores do projeto,
o argumento básico é que há má
compreensão da idéia e que o incentivo irá promover regiões economicamente esquecidas. "Queremos dar aos produtos de matéria-prima regional, do interior da
Amazônia, o incentivo fiscal",
disse o governador Eduardo Braga (PPS-AM). O líder do governo
no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP), votou a favor do projeto,
alegando que não tinha condições
políticas de contrariar Sarney, um
importante aliado do Planalto.
Votação adiada
Mas o polêmico projeto de Sarney não vai mais ser votado durante a convocação extraordinária do Congresso. A decisão envolveu uma articulação suprapartidária, com aval até do Sarney.
A informação foi dada ontem
pelo presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), que telefonou para Sarney na terça-feira e
combinou que o projeto seria
"mais bem debatido".
O telefonema foi para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo,
onde Sarney está internado para
tirar um cálculo renal. Cunha foi
cauteloso: "Não telefonei para falar de política", avisou. Mas Sarney foi direto ao ponto: "Mas não
tem jeito. A gente tem de falar daquele meu projetinho".
Conforme a Folha apurou, a
versão de Sarney foi a de que o
projeto "foi mal compreendido",
o que facilitou a decisão de que
fosse retirado para ser mais debatido, talvez "aprimorado".
Colaborou ELIANE CANTANHÊDE, da
Sucursal de Brasília
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