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BRASIL PROFUNDO
Auditores verificavam condições de remuneração e de alojamento em fazendas de feijão na região de Unaí
Fiscais do Trabalho são mortos em Minas
JAIRO MARQUES
TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA
Uma operação de fiscalização
em fazendas de feijão na região
noroeste de Minas Gerais culminou no assassinato de três auditores do Ministério do Trabalho,
um deles ameaçado de morte, e
do motorista do grupo, ontem pela manhã, nas proximidades de
Unaí (604 km de Belo Horizonte).
O objetivo dos fiscais, que estavam na área desde segunda-feira,
era vistoriar as condições de trabalho, remuneração e acomodação das pessoas arregimentadas
para colherem a safra de feijão,
que acontece de 15 de janeiro até o
final de fevereiro. Os auditores
também iriam averiguar as condições das instalações das fazendas.
No ano passado, um político local
foi acusado de manter trabalhadores em regime de escravidão
em uma de suas propriedades.
O crime, segundo a polícia,
ocorreu em um trevo conhecido
como Sete Placas, numa rodovia
vicinal da MG-188, que dá acesso
aos municípios de Unaí, Paracatu
e Bonfinópolis de Minas. A camionete Ford Ranger, oficial da
Delegacia Regional do Trabalho
de Paracatu, foi abordada no trevo, por volta das 8h, por dois veículos: uma outra Ranger, preta, e
uma picape Fiat Strada cinza, no
relato do motorista do grupo, Aílton Pereira de Oliveira, 52, que,
mesmo ferido na cabeça e depois
de ter ficado desacordado, dirigiu
quatro quilômetros até encontrar
um fazendeiro que o socorreu.
Oliveira, que morreu por volta
das 13h de ontem no Hospital de
Base, em Brasília, disse à polícia
que conseguiu ver dois homens
atirando de dentro da Ford Ranger. Segundo a polícia, os disparos
foram direcionados para as cabeças dos auditores e do motorista.
Já o policial militar que se identificou só como Fernandes, da PM
mineira, disse ter levado o motorista ao pronte-socorro de Unaí
após o encontrar no trevo, por
volta das 8h45, ainda lúcido na caminhonete de quem o ajudou.
O PM disse ter ouvido de Oliveira que eles haviam saído de manhã e que o carro em que estavam
parou para dar informações aos
ocupantes de um outro veículo,
provavelmente um Fiat Strada. Os
dois homens queriam saber o caminho para uma fazenda. Depois,
eles teriam anunciado um assalto,
portando pistolas automáticas.
Aí, teriam pedido só os celulares
das vítimas e começado a atirar.
Morreram também o chefe de
fiscalização da DRT em Paracatu,
Nelson José da Silva, 53, além de
Erastótenes de Almeida, 42, e João
Batista Soares Lage, 51, auditores
em Belo Horizonte. De acordo
com a delegada-regional-substituta do Trabalho em Minas, Denise Déia, Silva havia recebido, em
2003, ameaças de morte por parte
de dois fazendeiros e de um aliciador (chamado de "gato") de mão-de-obra da região de Paracatu.
"A Polícia Federal e a DRT estão
investigando as ameaças. A casa
do Nelson [José da Silva] foi invadida três vezes e sofreu outras cinco tentativas de arrombamento
no ano passado", afirmou Déia.
Para Irmo Casavechia, 51, presidente do Sindicato Rural de Unaí,
os assassinatos foram "uma lástima". "Os auditores são conhecidos dos produtores. Eles têm nos
ajudado há muito tempo", disse.
Segundo a delegada Déia, a fiscalização dos auditores não incluía fazendas com denúncias de
trabalho escravo ou áreas cujos
fazendeiros estavam sendo investigados por ameaças. Por isso, a
DRT avaliou que não havia necessidade da presença de policiais.
O governador de MG, Aécio Neves (PSDB), ordenou a formação
de um grupo de investigação integrado pela PM, a Polícia Civil e o
Departamento Estadual de Operações Especiais -atua em conflitos agrários. O governo federal
também criou uma força-tarefa.
Os primeiros passos ontem das
investigações foram conduzidos
pela PF em Brasília. Uma equipe
de oito peritos e um helicóptero
foram deslocados para o local para fazer as perícias e começar as
buscas a suspeitos. Tanto a Polícia
Federal quanto o Ministério Público Federal já descartavam a hipótese de tentativa de assalto.
Ontem mesmo, os ministros Ricardo Berzoini (Trabalho) e Nilmário Miranda (Secretaria Especial de Direitos Humanos) foram
para Unaí acompanhar o caso.
Os corpos dos auditores estavam até ontem à noite no Instituto Médico Legal de Unaí, e o do
motorista, no IML de Brasília. O
velório deve ocorrer hoje, de forma coletiva, em Belo Horizonte.
Colaborou Iuri Dantas, enviado especial
a Unaí
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