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FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL
Ministros de 25 países se reúnem em Davos com o objetivo de retomar Rodada Doha e definir cronograma para as discussões comerciais
Brasil terá que negociar logo setor de serviços
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
O Brasil terá que apressar a sua
definição sobre a abertura do setor de serviços, no bojo da Rodada Doha de Desenvolvimento,
porque um encontro de 25 ministros realizado ontem em Davos
decidiu que os pedidos que cada
parte quer fazer às outras devem
ser postos a mesa até o fim de fevereiro. Depois, até o fim de julho,
começarão negociações, no formato plurilateral.
O anúncio foi feito pelo comissário europeu do Comércio, Peter
Mandelson. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, esclareceu, depois, que o modelo plurilateral
não é obrigatório. Em tese, o país
poderá optar por não participar
da negociação, mas seria uma escolha complicada se quer de fato
obter concessões de seus parceiros na área agrícola.
O Brasil não tem maiores problemas com a abertura do setor de
serviços porque, na prática, ela já
foi feita. Mas os países desenvolvidos reclamam garantias legais
que o governo está pouco disposto a conceder.
Exemplo: o sistema financeiro.
Já abriu para bancos estrangeiros,
mas ainda vigora regra constitucional pela qual só o presidente da
República pode autorizar a entrada ou ampliação dos serviços de
bancos já instalados.
Os parceiros do Brasil querem
suprimir essa restrição, no pressuposto de que, em algum momento, pode ser eleito um presidente nacionalista que vetaria
uma presença maior de bancos
estrangeiros.
É verdade que o cronograma
ontem anunciado por Mandelson
começa com os pedidos de abertura, não com a oferta. O Brasil
não precisará, já em fevereiro, dizer o que pretende fazer no setor
de serviços.
Mas, assim mesmo, o cronograma desencadeia uma dinâmica
que levará forçosamente a colocar
na mesa um setor que o governo
brasileiro preferia deixar em segundo plano, na expectativa de
que a União Européia fizesse uma
proposta mais ampla de liberalização do seu setor agrícola, especialmente a redução das tarifas de
importação.
Amorim disse que o "movimento" brasileiro na área de serviços, que está longe de ser sua
prioridade, era um gesto para ajudar a destravar a negociação.
A reunião mini-ministerial de
Davos, de acordo com Mandelson
e com Robert Portman, responsável pelo comércio externo norte-americano, mudou o jogo: em vez
de cada país se dispor a avançar se
o parceiro avançasse antes, o consenso foi o de que o avanço será
conjunto e simultâneo.
Traduzindo: todo o jogo na Ministerial de Hong Kong girava em
torno de extrair da UE uma proposta agrícola mais suculenta. Estados Unidos, Brasil e o G20, o
grupo de países em desenvolvimento que luta pela abertura da
agricultura do mundo, faziam
pressão conjunta, isolando Mandelson.
Agora, pelo menos na versão de
Mandelson, o jogo é outro: " Em
vez da pressão concentrada em
agricultura, haverá movimentos
conjuntos em todos os temas da
negociação".
Significa dizer que bens industriais e serviços retomam lugar de
honra na mesa de negociação, ao
lado da antes predominante agricultura.
Amorim não concorda com essa interpretação. Diz que, três meses atrás, numa reunião em Zurique, ele já havia sinalizado com
uma oferta que considera bastante suculenta em bens industriais
que, no entanto, Mandelson só
agora, em Davos, teria entendido.
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