São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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FÓRUM SOCIAL

RAFAEL CERIELLO
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

Caracas adota discurso antiimperialista

O Fórum Social Mundial deu uma guinada à esquerda e é cada vez menos o simples espaço de encontro e debate da sociedade civil proposto pelos seus idealizadores do lado brasileiro, antes caracterizado por uma quase neutralidade -já que o que unia os participantes era a adesão aos valores muito amplos da paz e da crítica ao neoliberalismo.
Os sinais e os resultados práticos disso estão na adoção, pela primeira vez, do termo "antiimperialismo" como caracterizador do fórum, pela substituição de marchas "pela paz" por marchas e campanhas "contra a guerra".
Essa inflexão, em que grupos da esquerda mais tradicional, muitos deles marxistas com militância política desde os anos 60, tentam tomar o poder do fórum das mãos de "ongueiros" mais típicos dos anos 90, se tornou patente na edição americana do fórum deste ano, que termina hoje.
O ponto culminante foi a primeira participação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, no fórum de Caracas, anteontem à noite em que o texto proferido para cerca de 10 mil pessoas foi combinado com o grupo mais de esquerda do fórum, em que esse mesmo discurso demonstrou apoio claro a esse grupo na disputa interna por poder, e em que boa parte da cúpula do fórum estava representada numa bancada ao lado de Chávez.
Entre os principais defensores dessa idéia, representados na bancada ao lado de Chávez, estão Ignacio Ramonet e Bernard Cassen, do jornal de esquerda francês "Le Monde Diplomatique", e Samir Amin, pensador marxista egípcio, todos integrantes do Conselho Internacional, o principal comitê político do fórum.
Entre os que representam o outro lado no Conselho Internacional, favoráveis à diversidade e ao debate, menos que a campanhas políticas a partir do fórum, estão os brasileiros Oded Grajew, do Instituto Ethos, e Cândido Grzybowski, do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas). Para Grajew, "a queda do Muro de Berlim" e algumas "experiências mais problemáticas", como ele qualificou o caso do PT no Brasil, "coloca em xeque a ação política velha, que procura, em nome da felicidade geral, direcionar ou passar por cima da democracia ou afrouxar seus princípios éticos".

APOIO ESPONTÂNEO
Durante ato com Chávez, na sexta, um brasileiro foi abordado por uma rádio favorável ao venezuelano. "Você não quer entrar no ar gritando o nome de Chávez e dizendo que o apóia?"

COMPANHEIRO
No mesmo evento, num espaço "nobre" -junto aos movimentos sociais que convidaram o presidente venezuelano-, o companheiro José Dirceu (PT) ouvia atento todas as palavras do comandante Chávez.


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