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FÓRUM SOCIAL
RAFAEL CERIELLO
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Caracas adota discurso antiimperialista
O Fórum Social Mundial deu
uma guinada à esquerda e é cada
vez menos o simples espaço de
encontro e debate da sociedade
civil proposto pelos seus idealizadores do lado brasileiro, antes
caracterizado por uma quase
neutralidade -já que o que unia
os participantes era a adesão aos
valores muito amplos da paz e da
crítica ao neoliberalismo.
Os sinais e os resultados práticos disso estão na adoção, pela
primeira vez, do termo "antiimperialismo" como caracterizador
do fórum, pela substituição de
marchas "pela paz" por marchas
e campanhas "contra a guerra".
Essa inflexão, em que grupos
da esquerda mais tradicional,
muitos deles marxistas com militância política desde os anos 60,
tentam tomar o poder do fórum
das mãos de "ongueiros" mais típicos dos anos 90, se tornou patente na edição americana do fórum deste ano, que termina hoje.
O ponto culminante foi a primeira participação do presidente
da Venezuela, Hugo Chávez, no
fórum de Caracas, anteontem à
noite em que o texto proferido
para cerca de 10 mil pessoas foi
combinado com o grupo mais de
esquerda do fórum, em que esse
mesmo discurso demonstrou
apoio claro a esse grupo na disputa interna por poder, e em que
boa parte da cúpula do fórum estava representada numa bancada ao lado de Chávez.
Entre os principais defensores
dessa idéia, representados na
bancada ao lado de Chávez, estão
Ignacio Ramonet e Bernard Cassen, do jornal de esquerda francês "Le Monde Diplomatique", e
Samir Amin, pensador marxista
egípcio, todos integrantes do
Conselho Internacional, o principal comitê político do fórum.
Entre os que representam o outro lado no Conselho Internacional, favoráveis à diversidade e ao
debate, menos que a campanhas
políticas a partir do fórum, estão
os brasileiros Oded Grajew, do
Instituto Ethos, e Cândido
Grzybowski, do Ibase (Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e
Econômicas). Para Grajew, "a
queda do Muro de Berlim" e algumas "experiências mais problemáticas", como ele qualificou
o caso do PT no Brasil, "coloca
em xeque a ação política velha,
que procura, em nome da felicidade geral, direcionar ou passar
por cima da democracia ou
afrouxar seus princípios éticos".
APOIO ESPONTÂNEO
Durante ato com Chávez,
na sexta, um brasileiro foi
abordado por uma rádio favorável ao venezuelano.
"Você não quer entrar no ar
gritando o nome de Chávez e
dizendo que o apóia?"
COMPANHEIRO
No mesmo evento, num espaço "nobre" -junto aos
movimentos sociais que convidaram o presidente venezuelano-, o companheiro
José Dirceu (PT) ouvia atento todas as palavras do comandante Chávez.
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