São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL

Investidores estrangeiros estão mais preocupados com o baixo ritmo de crescimento do país do que com o clima pré-eleitoral deste ano

Eleição não barra investimentos no Brasil

MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS

Investimentos estrangeiros no mercado brasileiro devem seguir no mesmo ritmo em 2006, apesar de este ser um ano de eleição. É o que a Folha apurou com participantes do Fórum Econômico Mundial, que acontece em Davos. Investidores estão mais preocupados com o baixo crescimento do país do que com as eleições.
"A melhor maneira de ganhar repercussão, como a Índia teve em Davos, é ter um crescimento melhor em 2006", afirma Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, (2001- 2003) e hoje professor de Economia da Universidade de Harvard. Para ele, o Brasil pode crescer mais se continuar a fazer a lição de casa em direção a uma economia mais flexível.
"Mesmo que o progresso seja lento, continuo otimista que o crescimento seja energizado conforme os juros caiam para um ponto sustentável", diz.
"As preocupações mudaram", diz Armínio Fraga, ex- presidente do Banco Central do Brasil (1999-2002), atualmente sócio da Gávea Investimentos. "São agora mais ligadas ao crescimento. Há algumas pessoas que perguntam sobre eleições, mas não sinto que investidores podem sair do Brasil por causa disso. O medo de mudança súbita pela chegada do PT ao governo quase desapareceu. O que preocupa agora é o crescimento." Fraga não quis comentar o ritmo da redução da taxa básica de juros da economia brasileira. "Não sei se, de certa forma, ainda estou na quarentena."
Com relação a apostas de fundos hedge (de maior risco) no mercado futuro de câmbio, antecipando a valorização do real, Fraga afirma que não é claro que a posição seja assim tão grande.
"Ninguém sabe direito o tamanho dessas estruturas de investimento, com derivativos. A gente observa o que está no balanço de pagamentos. É muito saudável: um superávit em conta corrente, mais uns 2% do PIB [Produto Interno Bruto] ao ano de investimento direto."
O ex-presidente do BC lembra também que com a taxa de câmbio flutuante, se ocorrer alguma coisa, poderá haver pressão no câmbio, "mas aquela pressão da época do câmbio fixo não tem por que acontecer".
Com relação à América Latina, Fraga disse que "sente um cheiro de populismo no ar, na Venezuela, na Argentina. Mas, no Brasil, esse risco é baixo, ainda que algum risco sempre exista".
Para Kenneth Rogoff, as eleições também não assustam. "A visão de investidores estrangeiros é que, se houver mudança no governo, a estabilidade macroeconômica e fiscal será mantida. O Banco Central parece sereno ao reduzir a taxa de juros numa boa velocidade, apesar das eleições."
Rogoff tampouco mostrou-se preocupado com a significativa posição de fundos hedge (mais agressivos) no mercado futuro, apostando na valorização da moeda doméstica. "Ficaria muito mais preocupado com relação a grandes posições em derivativos, se o Brasil ainda tivesse a vulnerabilidade externa que já teve, e se ainda tivesse câmbio fixo."
O ex-economista-chefe do FMI notou que o Brasil teve um papel menor em Davos neste ano. "Foi devido à ausência do presidente Lula. Sua presença teria aumentado a visibilidade do país."


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