São Paulo, quinta, 29 de janeiro de 1998

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NO AR
Estátua

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

(A Musical FM entrevistou FHC por uma hora e meia. Como locutor, ele anunciava músicas de Elis Regina. Um trecho editado:)
Roseli Tardelli - O sr. se deslumbra com o poder?
FHC - Olha, acho que não. É uma coisa muito relativa. Eu nasci numa família que tem trato com problemas de governo há 200 anos. Por outro lado, cheguei à Presidência maduro, com experiência de vida. Espero que não tenha mudado, como pessoa. Eu não sou formal. Eu não sou de muitas intimidades, mas não sou formal. E acho que continuo não sendo. Não que seja um presidente distante. Às vezes leio no jornal, "ah, está isolado, é vaidoso".
Tardelli - É, presidente?
FHC - Intelectualmente, sim. Mas não como pessoa. Todo intelectual tem satisfação do que fez. Gosta de ser o primeiro, essas coisas. Mas aqui traduzem como se fosse uma coisa pessoal, até física. Não é o meu jeito. Eu procuro colocar as pessoas à vontade comigo. Eu nunca tive essa coisa de "sabe com quem está falando". Eu sempre peço "por favor". Pode ver. Não tem um garçom que me sirva que eu não agradeça.
Eu tenho horror de "entourage", de corte, de gente que quer ficar perto de mim. Eu tenho hor-ror disso. Hor-ror. Se há uma coisa de que não gosto é ver que estão disputando prestígio. Eu acho uma coisa ruim, desagradável. Aí a relação já fica meio torta. E o poder entorta as pessoas. Mas entorta muito.
Tardelli - O sr. não entortou, presidente?
FHC - Só a coluna. (risos) Tem mais o seguinte. Como a vida intelectual é composta de símbolos, e eu desde jovem tive certo prestígio intelectual, eu vi colegas meus virarem estátua. Vira estátua. Eu sempre tive horror desse negócio, de virar estátua.
(No final, embananou-se ao identificar a si mesmo com o título do disco de Elis Regina. "Falso Brilhante".)



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