CARLOS EDUARDO ALVES
enviado especial a Camaragibe


O petista Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem, em Camaragibe (PE), mais um sinal do pragmatismo que quer na sua campanha presidencial.
Na cidade, administrada pelo PT, participou de inauguração e discursou para funcionários municipais. Fez o que, em outros tempos, quando a prática era de adversários, os petistas classificavam como "uso da máquina".
Localizada na região metropolitana de Recife, Camaragibe tem cerca de 115 mil habitantes. Lula começou o dia visitando uma unidade do programa de agentes de educação. Contou sua vida para as crianças, beijou-as, comeu bolo e partiu para a inauguração de uma unidade de saúde da família.
Ao lado do prefeito Paulo Roberto de Santana, descerrou a placa comemorativa, cortou a fita e teve direito a discurso. Mais tarde, em entrevista, Lula negou que estivesse fazendo campanha política em recinto municipal: "Qualquer prefeitura que me convidar para um ato como esse daqui eu irei. A questão da saúde é fundamental".
De fato, Lula tem razão em querer explorar na TV, como prometeu em discurso, a qualidade do sistema de saúde da cidade. Em janeiro de 93, a taxa de mortalidade infantil era de 100 óbitos no primeiro ano entre 1.000 crianças nascidas vivas. Hoje pára em 15.
Na inevitável visita à sede da prefeitura local, o locutor do ato pediu a presença dos funcionários municipais, que estavam em horário de trabalho. Crianças de uma creche municipal dançaram frevo para Lula. Na parte política, Lula fez críticas ao Proer e acrescentou que "só o PT e a esquerda garantem a estabilidade".

Arraes
Na noite de anteontem, Lula reuniu-se com a direção do PT pernambucano, que não quer apoiar a provável candidatura do governador Miguel Arraes (PSB) à reeleição. Lula defende o aval do PT local a Arraes para, em troca, ter o PSB em sua campanha.
Apesar de o PT pernambucano ainda manter resistência ao acordo com Arraes, Lula conseguiu aparar arestas. O deputado federal Fernando Ferro, presidente do partido no Estado e contrário ao acordo com Arraes, já admite mudar de posição: "Se formos olhar o projeto nacional do partido, vamos ter que afinar as violas".
Lula não escondeu que na reunião foi enfático ao defender o apoio do PT a Arraes. "Quero a união com o PSB em todo o Brasil, e o PT precisa entender que, quando se faz aliança política, alguém tem que ceder ou ganhar um milímetro", declarou.



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