São Paulo, quinta, 29 de janeiro de 1998

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VIAGEM À SUÍÇA
No Fórum, presidente defenderá controle no fluxo de capitais em debate com megainvestidor e outros
FHC vai discutir mercado com George Soros


CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Davos


O presidente Fernando Henrique Cardoso compartilhará uma mesa de debates, no sábado, com o megainvestidor George Soros, uma das figuras mais polêmicas do cenário financeiro internacional.
FHC, Soros, Leon Brittan (vice-presidente da Comissão Européia, braço executivo da União Européia) e o sindicalista norte-americano John Sweeney, presidente da central AFL-CIO, debaterão como evitar que falhas do mercado produzam sociedades injustas.
O debate de sábado, como parte do encontro anual do Fórum Econômico Mundial, será uma das três ocasiões em que FHC poderá exercitar, desta vez para ouvidos mais receptivos, a sua antiga defesa de algum tipo de controle sobre o fluxo de capitais internacionais.
Essa questão está no centro da crise asiática, que ricocheteou no Brasil e forçou o governo a dobrar os juros, em outubro. Até agora, não conseguiu voltar aos níveis anteriores, exatamente porque a crise externa continua latejando.
Tanto é assim que acabou por alterar o temário central da reunião do Fórum. A intenção inicial era discutir o futuro, a partir do tema "Prioridades para o Século 21".
A crise asiática impôs um subtítulo ("Agenda 98 - Administrando a Volatilidade"), que tende a roubar a cena. "A recente turbulência financeira na Ásia é o tema número um que precisa ser discutido", diz Katsuhiro Nakagawa, vice-ministro japonês para Assuntos Internacionais e membro da delegação de seu país.
O Fórum Econômico Mundial é uma fundação que tem status de consultora das Nações Unidas e desde 1971 promove, na cidadezinha suíça de Davos, um encontro anual que se tornou a maior concentração de personalidades que o planeta consegue colocar num mesmo local anualmente.
Participam cerca de mil empresários do mais alto calibre, entre 200 e 250 autoridades governamentais de todo o mundo e outros tantos acadêmicos das mais badaladas universidades.
FHC faz sua primeira intervenção amanhã, a partir de 16h40 (13h40 em Brasília), em um discurso sobre "Brasil - A Construção de um Gigante Continental".
Tanto amanhã como no sábado o presidente poderá insistir na sua tese de que, sem algum tipo de controle sobre o fluxo de capitais, especialmente de curto prazo, não há banco central que resista a um eventual ataque especulativo.
Pelo menos em Soros encontrará boa receptividade. O megainvestidor (ou megaespeculador, como alguns preferem) é um crítico dos excessos do capitalismo.
No ano passado, também em Davos, chegou a dizer que capitalismo e comunismo tinham características semelhantes.
No sábado, FHC almoça com outro governante que defende (e pratica) controles sobre capitais de curto prazo, o chileno Eduardo Frei. À mesa estarão também o argentino Carlos Menem e ministros dos três países e da Bolívia.
O próprio FHC reconhece que toda a sua pregação sobre controle de capitais deu pouco resultado.
Agora o ambiente parece ter mudado, devido ao tumulto asiático. Até a revista britânica "The Economist", de secular tradição liberal, defendeu, no seu número mais recente, alguma ação do gênero.
A revista citou eloquente frase do presidente do banco central dos EUA, Alan Greenspan, a respeito da crise: "Em retrospecto, ficou claro que o fluxo de investimento para essas economias foi maior do que poderia ser empregado lucrativamente a um custo razoável".



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