São Paulo, quinta-feira, 29 de março de 2001

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JANIO DE FREITAS

Atentado ao pudor

De autoria do líder do governo na Câmara, o deputado do PSDB Arthur Virgílio Neto, é de reconhecida utilidade pública a proposta de que os parlamentares desfrutem de uma semana inteira de folga a cada mês, ou, o que dá no mesmo, ganhem por quatro e só tenham atividade (teoricamente, bem entendido) por três semanas.
O argumento para uso externo é de que os parlamentares deixariam de estar em Brasília apenas entre a tarde de terça e o meio da quinta-feira, como fazem, e ficariam de segunda a sexta em três semanas. O líder do partido no governo propõe ao Congresso e ao país, portanto, que os parlamentares tenham folga remunerada de uma semana por mês para que, nas outras três, cumpram os horários de atividades que lhes são prescritos pelos regimentos da Câmara e do Senado, e aos quais burlam ostensivamente e impunemente o ano todo, todos os anos.
Se a proposta de Arthur Virgílio não é atentado ao pudor, então é melhor retirar do Código Penal esse gênero de atentado. E pensar que esse deputado do Amazonas chegou a ser visto como promissor. Até o dia em que foi chamado por Sérgio Motta para um almoço a dois, mas à vista de todos em um daqueles restaurantes (mal) frequentados por políticos em Brasília. Virgílio andava criticando muito, inclusive em entrevista, o abandono dos compromissos programáticos do PSDB e de Fernando Henrique na campanha eleitoral.
Entrou e sentou diante de Sérgio Motta como o valente Arthur Virgílio, lutador de judô, sem freio na língua para manifestar sua independência e fidelidade ao eleitorado. Bem à sua maneira, Sérgio Motta começou por um esfrega e, dobrada a crista, lançou a isca, sob a forma de promessa para um Arthur Virgílio bem comportado, de um posto de líder. Como se comprova nos arquivos de jornais: desde então não houve um deputado mais disposto a praticar da pior maneira tudo o que lhe pareça favorável ao governo.
Sua proposta tem a utilidade de mostrar com perfeição o tipo de mentalidade e grau de moralidade que constitui a "base do governo", refletida pela melhor representação possível, que é a do seu líder.

Outra divisão
O problema das pesquisas eleitorais, antes de formalizada a definição dos candidatos, é a composição das possíveis listas de competidores. A pesquisa do Datafolha divulgada na Folha de domingo ainda suscita discussões e artigos, mas convém notar um pormenor capaz de derrubar as elucubrações feitas.
As três listas de candidatos submetidas aos votantes incluem Paulo Maluf, Antonio Carlos Magalhães, Enéas e Ciro. Nada nas circunstâncias políticas sugere, porém, que Maluf se candidate à Presidência, mas ao governo de São Paulo, por sinal, candidato forte.
Os 9 e 10% de preferência dados a Maluf distorcem ou, no mínimo, dificultam a percepção do quadro eleitoral na atualidade. Já porque os votos da direita explícita ficaram indevidamente divididos, mas também porque parte dos votos atribuídos agora a Maluf tenderiam a fortalecer mais do que a Antonio Carlos e Enéas. A parcela populista do malufismo pode favorecer, por exemplo, Ciro Gomes, com seu discurso de agressividade em vôo baixo, e mesmo Anthony Garotinho, que em populismo deve muito pouco aos principais especialistas do ramo.


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