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JANIO DE FREITAS
Atentado ao pudor
De autoria do líder do governo na Câmara, o deputado do PSDB Arthur Virgílio Neto, é de reconhecida utilidade
pública a proposta de que os
parlamentares desfrutem de
uma semana inteira de folga a
cada mês, ou, o que dá no mesmo, ganhem por quatro e só tenham atividade (teoricamente,
bem entendido) por três semanas.
O argumento para uso externo é de que os parlamentares
deixariam de estar em Brasília
apenas entre a tarde de terça e o
meio da quinta-feira, como fazem, e ficariam de segunda a
sexta em três semanas. O líder
do partido no governo propõe
ao Congresso e ao país, portanto, que os parlamentares tenham folga remunerada de
uma semana por mês para que,
nas outras três, cumpram os horários de atividades que lhes são
prescritos pelos regimentos da
Câmara e do Senado, e aos
quais burlam ostensivamente e
impunemente o ano todo, todos
os anos.
Se a proposta de Arthur Virgílio não é atentado ao pudor, então é melhor retirar do Código
Penal esse gênero de atentado. E
pensar que esse deputado do
Amazonas chegou a ser visto como promissor. Até o dia em que
foi chamado por Sérgio Motta
para um almoço a dois, mas à
vista de todos em um daqueles
restaurantes (mal) frequentados por políticos em Brasília.
Virgílio andava criticando muito, inclusive em entrevista, o
abandono dos compromissos
programáticos do PSDB e de
Fernando Henrique na campanha eleitoral.
Entrou e sentou diante de Sérgio Motta como o valente Arthur Virgílio, lutador de judô,
sem freio na língua para manifestar sua independência e fidelidade ao eleitorado. Bem à sua
maneira, Sérgio Motta começou
por um esfrega e, dobrada a
crista, lançou a isca, sob a forma
de promessa para um Arthur
Virgílio bem comportado, de
um posto de líder. Como se comprova nos arquivos de jornais:
desde então não houve um deputado mais disposto a praticar
da pior maneira tudo o que lhe
pareça favorável ao governo.
Sua proposta tem a utilidade
de mostrar com perfeição o tipo
de mentalidade e grau de moralidade que constitui a "base do
governo", refletida pela melhor
representação possível, que é a
do seu líder.
Outra divisão
O problema das pesquisas eleitorais, antes de formalizada a
definição dos candidatos, é a
composição das possíveis listas
de competidores. A pesquisa do
Datafolha divulgada na Folha
de domingo ainda suscita discussões e artigos, mas convém
notar um pormenor capaz de
derrubar as elucubrações feitas.
As três listas de candidatos
submetidas aos votantes incluem Paulo Maluf, Antonio
Carlos Magalhães, Enéas e Ciro.
Nada nas circunstâncias políticas sugere, porém, que Maluf se
candidate à Presidência, mas ao
governo de São Paulo, por sinal,
candidato forte.
Os 9 e 10% de preferência dados a Maluf distorcem ou, no
mínimo, dificultam a percepção
do quadro eleitoral na atualidade. Já porque os votos da direita
explícita ficaram indevidamente divididos, mas também porque parte dos votos atribuídos
agora a Maluf tenderiam a fortalecer mais do que a Antonio
Carlos e Enéas. A parcela populista do malufismo pode favorecer, por exemplo, Ciro Gomes,
com seu discurso de agressividade em vôo baixo, e mesmo Anthony Garotinho, que em populismo deve muito pouco aos
principais especialistas do ramo.
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