|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
INVESTIGAÇÃO
Sanção recorde aplicada pela Receita Federal atinge 32 empresas acusadas de irregularidades em projetos
Fraude na Sudam dá multa de R$ 420 mi
WLADIMIR GRAMACHO
ENVIADO ESPECIAL A BELÉM
A Receita Federal aplicou multa
recorde de R$ 420 milhões em 32
empresas que fraudaram a Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) ao
utilizar incentivos fiscais para investir em projetos-fantasma.
As sanções foram aplicadas neste mês, após rigorosa investigação
feita pela Superintendência da
Receita no Pará. Os fiscais envolvidos na operação atestam: 100%
dos projetos analisados apresentaram fraudes de algum tipo.
As irregularidades da Sudam
vêm desgastando o presidente do
Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), que há anos controla as indicações para o comando do órgão.
Se for aprovada, a CPI da Corrupção terá entre seus objetivos desvendar essas fraudes e apontar
seus responsáveis.
A investigação da Receita apurou superfaturamento de bens registrados nos projetos e uma farta
utilização de notas fiscais frias.
Quem analisou os documentos da
fiscalização afirma que as empresas constituídas para receber recursos da Sudam tornaram-se fábricas de papéis fraudulentos.
Devido ao alto grau de irregularidades identificado pelos auditores da Receita, já foi deflagrada
uma nova investigação. Desta vez,
o grupo selecionado tem 34 empresas que receberam da Sudam
financiamentos expressivos.
Devido ao sigilo fiscal, os técnicos da Receita estão impedidos de
divulgar os nomes das empresas e
dos empresários atingidos pelas
multas. A investigação da Receita
correu paralelamente à apuração
encomendada pelo ministro da
Integração Nacional, Fernando
Bezerra.
Os casos analisados pelos auditores do Fisco são diferentes dos
atingidos pela investigação ministerial. O que leva a crer que os números e valores dos desvios na
Sudam conhecidos atualmente
ainda são preliminares.
Entre dezembro de 2000 e fevereiro de 2001, 95 projetos foram
auditados por ordem do ministro
Bezerra, após intensa troca de
acusações envolvendo os senadores Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA) e Jader Barbalho.
Nessa amostra, foram analisados financiamentos que somam
R$ 1,6 bilhão. Os desvios encontrados eram de R$ 108 milhões,
segundo os técnicos do Ministério
da Integração Nacional.
A maior fraude foi descoberta
na Usimar Componentes Automotivos, de onde sumiram R$ 44
milhões. Nesse caso são citados
José Artur Guedes Tourinho e de
Maurício Vasconcelos, ex-superintendentes da Sudam que foram indicados por Jader e depois
demitidos sob acusação de envolvimento em irregularidades.
O relatório com essas conclusões foi apresentado ao presidente Fernando Henrique Cardoso,
que decidiu pelo afastamento de
toda a diretoria da autarquia e pela nomeação de um interventor,
José Diogo Cyrillo da Silva. A investigação concluiu que pelo menos 40 funcionários da Sudam estão envolvidos nas fraudes.
De acordo com a Receita, as irregularidades na Sudam se aproveitam de brechas da legislação
para prosperar. Os incentivos que
alimentam o caixa da Sudam, definidos pela lei 8.167, de 1991, geram um círculo vicioso que há
anos é conhecido.
Atualmente, a Sudam tem R$
3,8 bilhões a liberar para 548 projetos. Os recursos estão bloqueados até que o governo decida o
que fazer com a autarquia: extinção, manutenção ou transformação em agência de fomento.
A Folha apurou que autoridades envolvidas na investigação
das irregularidades na autarquia
temem pela segurança dos documentos que contém provas das
fraudes cometidas e estão arquivados na Sudam.
Em 1988, um incêndio destruiu
todo o arquivo da superintendência, em Belém, quando um interventor foi designado pelo governo federal para revisar os projetos
e recursos utilizados pelo órgão.
Doze anos depois, os documentos que serviram para liberar recursos da Sudam continuam sujeitos a atentados e estão guardados sem qualquer segurança.
Texto Anterior: Congresso: Líder propõe semana "de folga" a cada mês Próximo Texto: Servidores do DNER levam multa do TCU Índice
|