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São Paulo, sábado, 29 de março de 2003

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TENSÃO NO CAMPO

Presidente diz a sem-terra que prioridade é qualidade de assentamentos

Lula afirma que meta não é ampliar a reforma agrária

Moacyr Lopes Júnior/Folha Imagem
Sem-terra acompanhando discurso de Lula, em Ponta Porã (MS)


LILIAN CHRISTOFOLETTI
ENVIADA ESPECIAL A PONTA PORÃ

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que não irá assentar mais famílias do que os governos anteriores. A preocupação, segundo ele, é com a qualidade do assentamento, e não com a quantidade. "Se formos disputar pelos números, já perdemos a batalha. A nossa vitória não estará na quantidade, mas na qualidade de vida dos assentados", disse.
A declaração de Lula foi feita ontem para cerca de 5.000 sem-terra -segundo a Polícia Militar- durante um evento do projeto de assentamento Itamarati, em Ponta Porã (MS), fronteira com o Paraguai. O projeto existe há dois anos e é considerado pelo governo do Mato Grosso do Sul um modelo para todo o mundo.
Foram assentadas no local 1.143 famílias, mas elas reclamam da falta de energia elétrica, de rede de esgoto e de água encanada.
O descontentamento estava reproduzido em uma das faixas dos sem-terra: "Promessas FHC também fazia. Não temos água e energia. Como [o assentamento] pode ser modelo?". Após uma pequena discussão, a faixa foi removida por outros assentados.
Segundo Lula, essas reivindicações serão atendidas. "Trazer água e energia não é nenhum ato de coragem. É obrigação moral e ética fazer os benefícios chegarem à parte pobre da população."
No mesmo ato, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, acenou com a liberação de R$ 15 milhões para atender o assentamento ainda neste ano, entre infra-estrutura e créditos agrícolas para os assentados.
"Reforma agrária não é aumentar o número de miseráveis no campo. Temos de ter a responsabilidade de garantir, no tempo necessário, as condições de o assentado conquistar a cidadania no campo", afirmou o presidente.
Ao anunciar que uma de suas prioridades seria levar energia elétrica para o assentamento Itamarati, Lula brincou: "Assim vocês poderão comparar se eu sou mais bonito do que Antonio Fagundes". O público reagiu com risos e aplausos à brincadeira.
Para todas as promessas feitas, o presidente pediu paciência aos sem-terra. Lula ressaltou que tem "apenas dois meses e 20 e poucos dias de governo".

Paciência
"Mas vamos fazer muito mais do que jamais se imaginou que fosse feito neste país para a agricultura familiar e para a reforma agrária. É só ter um pouco de paciência e acreditar que cada palavra que nós falamos na campanha, cada vírgula será cumprida. Não quero perder o direito de andar de cabeça erguida", afirmou o presidente durante o discurso.
No evento, o presidente recebeu também uma carta dos índios guarani e kaiowá, que reclamam das invasões de áreas indígenas e dos constantes conflitos com fazendeiros e posseiros.
No início do ato, Lula chamou a atenção do cerimonial pela "gafe" de não terem anunciado a presença de seis ministros. A apresentação ficou por conta do próprio presidente da República.
Lula foi acompanhado no ato por Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Ciro Gomes (Integração Nacional), José Graziano (Segurança Alimentar), Roberto Rodrigues (Agricultura), José Viegas Filho (Defesa) e Anderson Adauto (Transportes).
Outra gafe ocorreu antes de o presidente subir no palco. Alegando motivos de segurança, a equipe da Presidência solicitou a presença de 35 policiais militares em frente ao palco. Quando Lula foi anunciado pelo cerimonial, Ciro Gomes o reteve a caminho do palco. Eles só subiram depois que o cerco foi desmontado.


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