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Opiniões divergentes e reformas adiam discussão da autonomia do BC
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A proposta de autonomia do
Banco Central entrou em banho-maria no governo por dois motivos: o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva diverge da equipe econômica, e as reformas tributária e
previdenciária estão num patamar de prioridade infinitamente
superior.
Para o presidente, segundo a
Folha apurou, o BC já goza de
uma autonomia que seria suficiente até na visão do mercado, o
que é parcialmente verdadeiro.
Lula também crê ter conquistado
a confiança do mercado financeiro e, por isso, não precisaria enfrentar neste ano o desgaste de
aprovar a autonomia do Banco
Central.
Já o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, avalia que é preciso continuar a cultivar a confiança do mercado e que, por isso,
o tema não pode ser esquecido. A
intenção do ministro é debater internamente no governo e tentar
aprovar a autonomia no segundo
semestre.
Apesar da divergência, Lula e
Palocci estão de acordo em um
ponto: a hora é de priorizar as reformas constitucionais da Previdência e do sistema tributário. O
governo, portanto, não deve gastar energia imediatamente com
um tema que não é consenso dentro do próprio governo.
A autonomia
Esse é o pano de fundo de toda a
discussão que está sendo travada
em torno da regulamentação do
artigo 192 da Constituição, que
trata do sistema financeiro. Na
Câmara, há propostas de emenda
constitucional para deixar a regulamentação do sistema financeiro
a cargo de leis complementares.
A aprovação dessa mudança
constitucional é o primeiro passo
para o envio, no futuro, de um
eventual projeto sobre a autonomia do Banco Central. Essa autonomia, grosso modo, preveria
mandato fixo para o presidente e
a diretoria do BC, bem como um
roteiro determinado de prestação
de contas da atuação do banco.
Ao longo da semana, a ala esquerda do PT e setores da base governista, como parte do PSB e do
PDT, manifestaram-se contrários
à votação da emenda para desconstitucionalizar as regras do
sistema financeiro.
Já a oposição -PFL e PSDB-
gostaria de acelerar a votação e o
envio de uma proposta de autonomia do BC. A avaliação de Lula
de que o tema não é prioritário
serviu de combustível para os
contrários à votação de uma
emenda constitucional.
Bombeiros
O presidente do PT, José Genoino, e o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, deram declarações públicas conflitantes com a
de Palocci. Segundo os dois primeiros, a autonomia do BC saiu
da pauta imediata do governo e só
será enviado um projeto à Câmara sobre o tema após exaustivo
debate. Palocci disse que não há
decisão do governo.
No fundo, Genoino e Dirceu
cumpriram o papel de bombeiros
políticos. E Palocci seguiu na sua
linha de buscar a confiança do
mercado, sinalizando que não está morto um tema caro aos investidores financeiros.
Anteontem, Lula afirmou a Dirceu que o governo deve se esforçar para votar logo a emenda sobre o artigo 192, a fim de mostrar
força perante o mercado e acomodar de vez sua base política,
que anda rebelde -especialmente os radicais petistas.
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