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AGENDA SUSPENSA
Votos contrários de governistas não ameaçam aprovação da PEC 192, mas podem simbolizar falta de controle
Governo ameaça punir dissidências na base
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal e sua liderança no Congresso vão intensificar
nos próximos quatro dias as negociações e reuniões de bancada
para tentar obter o mínimo possível de votos contrários da base
aliada à Proposta de Emenda à
Constituição sobre o sistema financeiro nacional, que deve ser
votada na quarta-feira. A ordem é
mostrar linha dura com aqueles
que ameaçam votar contra.
Primeiro importante projeto
defendido pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara, a
PEC abre a brecha para a discussão sobre a autonomia operacional do Banco Central e, devido a
isso, sofre resistência dentro do
PT e em outros partidos da base,
principalmente PDT e PSB.
Os possíveis votos contrários
desses governistas não ameaçam
a aprovação da PEC, já que o governo tem o apoio do PMDB e da
oposição, mas poderiam simbolizar uma falta de controle do governo sobre sua própria base.
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) insistiu, ontem, na necessidade de aprovação do projeto que
regulamenta o artigo 192: "É uma
excrescência, um absurdo o país
ter um artigo na Constituição dizendo que o sistema financeiro,
em qualquer aspecto, será regulamentado por uma única lei".
Os dois principais problemas,
na avaliação dos governistas, estão na ala radical do PT e no PDT.
A bancada petista se reúne na terça à noite -com a possível presença de Dirceu-, e o discurso
antecipado dos líderes é o de que
oposição à PEC será punida.
Segundo o líder do PT na Câmara, deputado Nelson Pellegrino
(BA), a reunião servirá para "não
haver nenhuma dúvida sobre a
posição da bancada".
O deputado Babá (PA), expoente do grupo contrário à PEC, diz
estar sendo pego como "bode expiatório" da história, já que o governo estaria querendo atribuir
apenas a ele e a um pequeno grupo interno do PT um descontentamento que seria bem mais amplo dentro da base aliada. "Tentar
me intimidar não vai resolver o
problema", disse o petista, que está ameaçado de expulsão.
Moderado, o deputado federal
Paulo Bernardo (PT-PR) disse
que "o PT respeita o direito de todo mundo discursar, mas expulsará quem não votar com o governo". Há outros moderados que
pensam como Bernardo.
Já a situação do PDT parece ser
mais complicada para o Planalto.
Os governistas dizem que a maioria da bancada está disposta a votar com o governo, mas o fato é
que pesa fortemente contra isso a
posição do presidente nacional da
legenda, Leonel Brizola, contrário
ao projeto. Líderes do governo
também vão procurar Brizola para tentar um entendimento.
No PSB, cerca de 15 dos 28 deputados do partido ameaçam seguir orientação do ex-governador
Anthony Garotinho (que cobra
de Lula auxílio financeiro ao Rio)
de não apoiar a PEC. A bancada
federal do partido também se reúne na terça, e, de acordo com o
que a Folha apurou, será cobrada
fidelidade ao governo -caso
contrário, ocorrerão punições.
Descontentes
Os descontentes do PT poderão
fazer declaração de voto contrária, mas só após marcar "sim" no
painel eletrônico da Câmara.
O fechamento de questão é uma
regra seguida há 22 anos pelo PT.
Inclusive no que se refere à DVS
(Declaração de Voto em Separado), o instrumento a que os dissidentes petistas pensavam recorrer para alterar o projeto já aprovado no Senado.
Em apenas três ocasiões, em 22
anos, deputados se posicionaram
contra questão fechada pelo partido: na eleição de Tancredo Neves
pelo Colégio Eleitoral, na votação
do projeto que criou a CPMF e em
outro que estabeleceu regras para
o aborto legal na rede pública.
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