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ENTREVISTA
Acuado por escândalo dos fiscais e inquérito, ex-governador cobra Lula
Aliança não é rendição, diz Garotinho
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PSB) cobrou
ontem do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) o cumprimento
de promessas de campanha e disse que até agora o governo segue a
cartilha do "malanismo". "Aliança, apoio, não significa rendição",
disse à Folha o candidato derrotado do PSB à Presidência.
Garotinho, 42, tentou minimizar os próprios problemas -o
maior é o escândalo de corrupção
supostamente envolvendo fiscais
estaduais, entre eles, Rodrigo Silveirinha Corrêa, subsecretário de
Administração Tributária em sua
gestão (1999 a abril de 2002). Garotinho é alvo ainda de inquérito
no Ministério Público Estadual.
O ex-governador não quis responder a perguntas sobre o caso
dos fiscais. Disse apenas que a elevada movimentação bancária deles no Brasil começou antes de seu
governo -o que é verdade-,
mas não quis falar sobre seu encontro com David Birman, amigo
e confidente de Silveirinha.
Sobre a sua influência no governo de Rosinha Matheus (PSB),
sua mulher, afirmou que é ela
quem manda no governo.
Folha - Como o sr.avalia o governo Lula até agora?
Anthony Garotinho - Qualquer
cidadão que queira avaliar um governo que não tem seis meses estará cometendo uma injustiça. As
dificuldades herdadas foram
enormes. Porém, aliança, apoio,
não significa rendição. Assuntos
que foram objeto de compromisso na campanha precisam ser
postos em prática. Por exemplo,
no caso [da autonomia] do BC. Os
primeiros passos do governo indicam que não há sinalização diferente do "malanismo".
Folha - O senhor está indo para a
oposição?
Garotinho - A minha posição é a
do partido, o partido está no governo. Eu não irei sozinho, irei
[para a oposição" quando o PSB
for, se for. O doutor [Miguel] Arraes [presidente do PSB] não rasgará sua história se mantendo no
governo só por cargos.
Folha - O sr. se sentiu desprestigiado em episódios como o bloqueio do ICMS do Rio, a ausência de
indicações na diretoria da Petrobras e a nomeação de seu adversário Luiz Eduardo Soares para a Secretaria de Segurança Pública?
Garotinho - Nunca vetei o sr.
Soares. O sr. José Dirceu, chefe da
Casa Civil, pediu que transmitisse
à governadora um recado: o presidente não nomearia para a Secretaria Nacional de Segurança
Pública uma pessoa que não se relacionasse com a governadora. O
compromisso em dar uma diretoria da Petrobras foi assumido com
o partido. Não foi cumprido. Os
ministros José Dirceu e Antonio
Palocci [Fazenda] disseram que o
segundo bloqueio do ICMS não
iria ocorrer. O bloqueio foi feito.
Folha - Como está hoje sua relação com o ministro Dirceu?
Garotinho - Já tivemos uma relação mais amistosa. Creio que o
ministro está muito ocupado. Ele
me telefonou, disse que estará no
Rio e pediu um encontro comigo
na terça. Provavelmente será no
Palácio Laranjeiras. Dizem que
não posso trabalhar lá porque é a
casa da governadora. Esquecem
que ela é minha esposa.
Folha - Como vê as críticas de que
o senhor é quem manda no governo dela?
Garotinho - É normal que a governadora converse com seus
aliados. Ela poderia se aconselhar
politicamente com quem? Mas se
engana quem pensa que decido
algo. A última palavra é dela.
Folha - O sr. tem enfrentado problemas com o caso Silveirinha. Foi
aberto inquérito para investigar se
o sr. cometeu improbidade administrativa. O que o sr. tem a dizer?
Garotinho - Eu sou favorável à
investigação. Não conheço outro
político que tenha aberto seus sigilos por tempo indeterminado.
Eu não temo absolutamente nada. Esse dinheiro deles [dos fiscais" é anterior ao meu governo.
Folha - Como foi sua conversa
com David Birman? [Silveirinha teria confessado a Birman ter contas
na Suíça. Birman afirma ter procurado Garotinho]
Garotinho - Tudo que eu tiver
para falar sobre isso vocês ouvirão
na CPI.
Folha - O senhor vai ser candidato
a presidente em 2006?
Garotinho - O tempo dirá. Eu tenho 42 anos. Tenho um grande
aliado a meu favor, o tempo.
Folha - O senhor está mais magro.
Isso é dieta ou estresse?
Garotinho - Comecei a fazer dieta. Estava com 94 quilos, perdi 15.
Por que estaria estressado? A governadora é Rosinha; a CPI não
me diz respeito; quanto ao governo federal, não sou o presidente.
Quem tem de se estressar é o Lula.
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