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São Paulo, sábado, 29 de março de 2003

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ENTREVISTA

Acuado por escândalo dos fiscais e inquérito, ex-governador cobra Lula

Aliança não é rendição, diz Garotinho

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PSB) cobrou ontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o cumprimento de promessas de campanha e disse que até agora o governo segue a cartilha do "malanismo". "Aliança, apoio, não significa rendição", disse à Folha o candidato derrotado do PSB à Presidência.
Garotinho, 42, tentou minimizar os próprios problemas -o maior é o escândalo de corrupção supostamente envolvendo fiscais estaduais, entre eles, Rodrigo Silveirinha Corrêa, subsecretário de Administração Tributária em sua gestão (1999 a abril de 2002). Garotinho é alvo ainda de inquérito no Ministério Público Estadual.
O ex-governador não quis responder a perguntas sobre o caso dos fiscais. Disse apenas que a elevada movimentação bancária deles no Brasil começou antes de seu governo -o que é verdade-, mas não quis falar sobre seu encontro com David Birman, amigo e confidente de Silveirinha.
Sobre a sua influência no governo de Rosinha Matheus (PSB), sua mulher, afirmou que é ela quem manda no governo.
 

Folha - Como o sr.avalia o governo Lula até agora?
Anthony Garotinho
- Qualquer cidadão que queira avaliar um governo que não tem seis meses estará cometendo uma injustiça. As dificuldades herdadas foram enormes. Porém, aliança, apoio, não significa rendição. Assuntos que foram objeto de compromisso na campanha precisam ser postos em prática. Por exemplo, no caso [da autonomia] do BC. Os primeiros passos do governo indicam que não há sinalização diferente do "malanismo".

Folha - O senhor está indo para a oposição?
Garotinho
- A minha posição é a do partido, o partido está no governo. Eu não irei sozinho, irei [para a oposição" quando o PSB for, se for. O doutor [Miguel] Arraes [presidente do PSB] não rasgará sua história se mantendo no governo só por cargos.

Folha - O sr. se sentiu desprestigiado em episódios como o bloqueio do ICMS do Rio, a ausência de indicações na diretoria da Petrobras e a nomeação de seu adversário Luiz Eduardo Soares para a Secretaria de Segurança Pública?
Garotinho
- Nunca vetei o sr. Soares. O sr. José Dirceu, chefe da Casa Civil, pediu que transmitisse à governadora um recado: o presidente não nomearia para a Secretaria Nacional de Segurança Pública uma pessoa que não se relacionasse com a governadora. O compromisso em dar uma diretoria da Petrobras foi assumido com o partido. Não foi cumprido. Os ministros José Dirceu e Antonio Palocci [Fazenda] disseram que o segundo bloqueio do ICMS não iria ocorrer. O bloqueio foi feito.

Folha - Como está hoje sua relação com o ministro Dirceu?
Garotinho
- Já tivemos uma relação mais amistosa. Creio que o ministro está muito ocupado. Ele me telefonou, disse que estará no Rio e pediu um encontro comigo na terça. Provavelmente será no Palácio Laranjeiras. Dizem que não posso trabalhar lá porque é a casa da governadora. Esquecem que ela é minha esposa.

Folha - Como vê as críticas de que o senhor é quem manda no governo dela?
Garotinho
- É normal que a governadora converse com seus aliados. Ela poderia se aconselhar politicamente com quem? Mas se engana quem pensa que decido algo. A última palavra é dela.

Folha - O sr. tem enfrentado problemas com o caso Silveirinha. Foi aberto inquérito para investigar se o sr. cometeu improbidade administrativa. O que o sr. tem a dizer?
Garotinho
- Eu sou favorável à investigação. Não conheço outro político que tenha aberto seus sigilos por tempo indeterminado. Eu não temo absolutamente nada. Esse dinheiro deles [dos fiscais" é anterior ao meu governo.

Folha - Como foi sua conversa com David Birman? [Silveirinha teria confessado a Birman ter contas na Suíça. Birman afirma ter procurado Garotinho]
Garotinho
- Tudo que eu tiver para falar sobre isso vocês ouvirão na CPI.

Folha - O senhor vai ser candidato a presidente em 2006?
Garotinho
- O tempo dirá. Eu tenho 42 anos. Tenho um grande aliado a meu favor, o tempo.

Folha - O senhor está mais magro. Isso é dieta ou estresse?
Garotinho
- Comecei a fazer dieta. Estava com 94 quilos, perdi 15. Por que estaria estressado? A governadora é Rosinha; a CPI não me diz respeito; quanto ao governo federal, não sou o presidente. Quem tem de se estressar é o Lula.


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