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ROMBO AMAZÔNICO
Valadares diz que poderia indiciar Roseana
Delegado afastado do caso Sudam diz ser vítima de "grande armação"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O delegado da Polícia Federal
Deuselino Valadares afirmou ontem à Folha que está sendo vítima
de "uma grande armação" para
impedir as investigações do desvio de recursos da extinta Sudam
(Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) que implicam a ex-governadora Roseana Sarney (PFL-MA), seu marido,
Jorge Murad, empresários e outros políticos.
Valadares afirmou que já há elementos suficientes no inquérito
para indiciar Roseana, Murad,
empresários e políticos acusados
nos processos. Era o que ele pretendia fazer nos próximos dias.
O delegado, que presidia 52 inquéritos sobre desvios de verbas
na Sudam, foi afastado semana
passada. Ele não obteve autorização da direção geral da Polícia Federal para ficar mais 30 dias em
São Luís e foi obrigado a retornar
para Tocantins, Estado onde é lotado funcionalmente.
"Não poderia aguardar a Justiça
"ad eternum" (eternamente). Não
queria nem quero fazer execração
pública de ninguém, apenas agi
dentro da lei", disse o delegado.
"Jamais iria recuar porque o trabalho poderia provocar prejuízos
políticos, como a votação da
CPMF", acrescentou ele, referindo-se ao PFL, partido da ex-governadora.
Parlamentares da sigla ameaçaram não votar a favor da prorrogação da CPMF (Contribuição
Provisória sobre Movimentação
Financeira) na Câmara, depois da
operação da PF na empresa Lunus, de propriedade de Roseana e
de Murad, no dia 1º de março,
quando foram apreendidos documentos e R$ 1,34 milhão.
Aprovada na semana passada
pela Câmara, a prorrogação da
CPMF até 2004 ainda precisa ser
votada no Senado.
Suspeitas
Pesam sobre Valadares suspeitas de que estaria disposto a
apressar o andamento do processo envolvendo Roseana e seu marido para beneficiar o casal. O delegado, por exemplo, não dispõe
ainda do material apreendido na
empresa Lunus, que, segundo a
PF e o Ministério Público Federal,
reforçaria a ligação do casal com o
projeto de instalação de fábrica de
autopeças Usimar. O projeto resultou num desvio de R$ 44,2 milhões da Sudam.
"Dizem que não perguntei a
respeito dos documentos e do dinheiro [R$ 1,34 milhão apreendidos na empresa]. Eu não poderia
fazer isso, porque está tudo sob
segredo de Justiça", disse.
O delegado teria também mantido com Roseana um encontro
reservado, no último dia 7, na casa da ex-governadora, em São
Luís. O que ele nega. Mas admite
que teve problemas com integrantes do Ministério Público:
"Não tive problema algum com
colegas da PF. Discuti, sim, tecnicamente com procuradores. Não
aceito interferência no meu trabalho. Cabe à Polícia Federal investigar. Já o Ministério Público deve
fazer o controle externo. É assim
que se age", afirmou.
O delegado disse que deixou o
caso porque o "prazo de sua missão se esgotou". Segundo ele, o
período de trabalho poderia ser
renovado, mas dificilmente isso
ocorrerá, diante das críticas que
tem recebido.
"Estou sendo vítima de uma
grande armação. Não sei de quem
está partindo, mas com certeza é
gente que quer impedir o andamento das investigações, mas isso
não acontecerá", disse.
Vítimas
Integrantes da Polícia Federal e
do Ministério Público rechaçam
as acusações envolvendo Valadares. Para eles, todos os que trabalham no processo podem vir a ser
vítimas de denúncias.
"O objetivo disso tudo é desmoralizar as investigações de uma
forma geral, atrapalhando os
avanços já obtidos e impedindo
outros progressos", afirmou Hélbio Dias Leite, delegado da PF.
"Todo mundo sabe que corre esse
risco. Não faço idéia de onde partiu, mas os investigados são pessoas que estão desesperadas e que
tentam paralisar os trabalhos",
acrescentou.
"Fico preocupado com esse tipo
de coisa, mas nada impedirá o
trabalho. Se um ou outro deixar o
caso, será substituído por alguém
que dará continuidade. Não há
possibilidade de parar as investigações", disse José Santoro, procurador da coordenação da 5ª Câmara da Procuradoria Geral da
República.
(RENATA GIRALDI)
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