São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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ROMBO AMAZÔNICO

Valadares diz que poderia indiciar Roseana

Delegado afastado do caso Sudam diz ser vítima de "grande armação"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O delegado da Polícia Federal Deuselino Valadares afirmou ontem à Folha que está sendo vítima de "uma grande armação" para impedir as investigações do desvio de recursos da extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) que implicam a ex-governadora Roseana Sarney (PFL-MA), seu marido, Jorge Murad, empresários e outros políticos.
Valadares afirmou que já há elementos suficientes no inquérito para indiciar Roseana, Murad, empresários e políticos acusados nos processos. Era o que ele pretendia fazer nos próximos dias.
O delegado, que presidia 52 inquéritos sobre desvios de verbas na Sudam, foi afastado semana passada. Ele não obteve autorização da direção geral da Polícia Federal para ficar mais 30 dias em São Luís e foi obrigado a retornar para Tocantins, Estado onde é lotado funcionalmente.
"Não poderia aguardar a Justiça "ad eternum" (eternamente). Não queria nem quero fazer execração pública de ninguém, apenas agi dentro da lei", disse o delegado.
"Jamais iria recuar porque o trabalho poderia provocar prejuízos políticos, como a votação da CPMF", acrescentou ele, referindo-se ao PFL, partido da ex-governadora.
Parlamentares da sigla ameaçaram não votar a favor da prorrogação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) na Câmara, depois da operação da PF na empresa Lunus, de propriedade de Roseana e de Murad, no dia 1º de março, quando foram apreendidos documentos e R$ 1,34 milhão.
Aprovada na semana passada pela Câmara, a prorrogação da CPMF até 2004 ainda precisa ser votada no Senado.

Suspeitas
Pesam sobre Valadares suspeitas de que estaria disposto a apressar o andamento do processo envolvendo Roseana e seu marido para beneficiar o casal. O delegado, por exemplo, não dispõe ainda do material apreendido na empresa Lunus, que, segundo a PF e o Ministério Público Federal, reforçaria a ligação do casal com o projeto de instalação de fábrica de autopeças Usimar. O projeto resultou num desvio de R$ 44,2 milhões da Sudam.
"Dizem que não perguntei a respeito dos documentos e do dinheiro [R$ 1,34 milhão apreendidos na empresa]. Eu não poderia fazer isso, porque está tudo sob segredo de Justiça", disse.
O delegado teria também mantido com Roseana um encontro reservado, no último dia 7, na casa da ex-governadora, em São Luís. O que ele nega. Mas admite que teve problemas com integrantes do Ministério Público:
"Não tive problema algum com colegas da PF. Discuti, sim, tecnicamente com procuradores. Não aceito interferência no meu trabalho. Cabe à Polícia Federal investigar. Já o Ministério Público deve fazer o controle externo. É assim que se age", afirmou.
O delegado disse que deixou o caso porque o "prazo de sua missão se esgotou". Segundo ele, o período de trabalho poderia ser renovado, mas dificilmente isso ocorrerá, diante das críticas que tem recebido.
"Estou sendo vítima de uma grande armação. Não sei de quem está partindo, mas com certeza é gente que quer impedir o andamento das investigações, mas isso não acontecerá", disse.

Vítimas
Integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público rechaçam as acusações envolvendo Valadares. Para eles, todos os que trabalham no processo podem vir a ser vítimas de denúncias.
"O objetivo disso tudo é desmoralizar as investigações de uma forma geral, atrapalhando os avanços já obtidos e impedindo outros progressos", afirmou Hélbio Dias Leite, delegado da PF. "Todo mundo sabe que corre esse risco. Não faço idéia de onde partiu, mas os investigados são pessoas que estão desesperadas e que tentam paralisar os trabalhos", acrescentou.
"Fico preocupado com esse tipo de coisa, mas nada impedirá o trabalho. Se um ou outro deixar o caso, será substituído por alguém que dará continuidade. Não há possibilidade de parar as investigações", disse José Santoro, procurador da coordenação da 5ª Câmara da Procuradoria Geral da República.
(RENATA GIRALDI)

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