São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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SÃO PAULO

Pré-candidatos elegem segurança pública como tema nš 1 na campanha para chegar ao Palácio dos Bandeirantes

Violência deve ser o principal tema da campanha paulista

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A campanha para a escolha do novo governador de São Paulo está apenas começando, mas o tema que predominará nas discussões entre os candidatos e também na propaganda eleitoral já está definido: será a violência.
Ouvidos pela Folha, os pré-candidatos ao governo do principal Estado do país mostraram que suas propostas revelam uma aproximação à margem das barreiras ideológicas históricas: com diferentes nuances, propõe-se o combate "duro" à criminalidade. Polícia na rua é a palavra de ordem. A matéria prima para discussão é farta, e problemas de grande apelo emocional, como os sequestros, servem de munição.
Números sobre o primeiro trimestre deste ano dão conta de que a banalização do sequestro no Estado é um fato: foram 110 casos de janeiro a março, número 168% superior ao registrado no mesmo período do ano passado.
Dos pré-candidatos que estão em campanha -Paulo Maluf (PPB), o atual governador, Geraldo Alckmin (PSDB), Francisco Rossi (PL), José Genoino (PT) e Orestes Quércia (PMDB)-, apenas Rossi não é incisivo quanto às propostas de recrudescimento do policiamento, afirmando ser "simplista" a adoção do jargão "Rota na rua", marca de Maluf.
Maluf revela-se à vontade com um tema recorrente em todas as suas campanhas: "O problema da segurança com certeza viabiliza minha candidatura. Hoje, o que a população quer é alguém não autoritário, mas que tenha autoridade no poder; que, quando manda, as coisas acontecem".
Aproveitando seu próprio mote, o ex-prefeito vai para cima do principal oponente na atual disputa: "Um governo fraco, frouxo e covarde como é o do Alckmin não vai tomar nenhuma atitude para colocar ordem no Estado".
Ele insiste na idéia de que "preso deve trabalhar" e faz questão, sempre que tem uma chance, de reforçar seu jargão: "Vou, sim, colocar a Rota na rua. Bandido não vai mais atirar contra a polícia".
Por falar em Rota -o batalhão de elite da PM paulista identificado com maneiras truculentas de conduzir a repressão ao crime-, esse tema já deixou o candidato petista, José Genoino, em situação delicada. Em entrevista à Folha em janeiro deste ano, ele afirmou que a Rota deve não só agir, mas "atuar com energia e força". Esse alinhamento com a proposta clássica da direita causou protestos no PT e foi alvo de muitas críticas.
Hoje, Genoino reformula sua colocação: "Defendo que haja polícia na rua, ostensiva, comunitária, interativa. Mas eu sou contra a Rota na rua, em policiamento ostensivo. As forças especiais da polícia -como Rota, Garra e o Choque- devem agir em situações especiais e limites".
Genoino afirma que é necessário o investimento na inteligência, na perícia e na investigação. Na sua avaliação, "a polícia de São Paulo usa basicamente dois métodos: o informante, que gera promiscuidade, e o pau-de-arara, que fere os direitos humanos". Paralelamente à questão policial propriamente dita, o deputado petista diz que deve haver uma política de "prevenção social, para que o crime não seja meio de vida".
Alvo prioritário das críticas dos concorrentes, o governador Geraldo Alckmin oferece duas possibilidades para que se conheça sua posição diante da criminalidade: o que diz e o que faz no comando do Executivo paulista.
Assim, ele abre o leque das responsabilidades, afirmando que "a questão da violência é o grande desafio do mundo moderno", repete que "essa é uma guerra longa, uma guerra dura", e dimensiona o "desafio" geograficamente: "Nós temos na região metropolitana de São Paulo 1 milésimo do território nacional e mais de 10% da população brasileira".
Em termo de ação, Alckmin acena com o "endurecimento" contra o crime por intermédio de suas mais recentes medidas: nomeou um oficial "linha dura" para comandar a PM ("Os bandidos têm de respeitar a polícia e saber que vão encontrar pedreira pela frente", disse o coronel Alberto Silveira Rodrigues), anunciou a criação de mais uma companhia da Rota na capital, posou para fotos de fuzil na mão em festividade policial e disse que vai criar uma penitenciária se segurança máxima só para sequestradores.
Ao mesmo tempo em que critica o que classifica de atitudes "marqueteiras" do atual governo, Francisco Rossi lança farpas ao seu ex-aliado do segundo turno da eleição de 98, Paulo Maluf. "Eu acho muito simplório sair dizendo que o negócio é colocar a Rota na rua. Além de ser uma proposta simplista, resvala na prepotência e na violência". Para Rossi, o sistema atual de segurança "faliu", representa "o ponto fraco do governo Alckmin" e, por isso, "vai ser explorado pelos candidatos".
Quanto a propostas concretas, o pré-candidato do PL afirma que constituiu um grupo de trabalho para poder "falar com responsabilidade sobre o assunto". Aponta para apenas uma medida efetiva: "Nós temos que trabalhar na direção da unificação das polícias".
Orestes Quércia afirmou à Folha que é candidato ao governo do Estado, embora em seu partido, o PMDB, exista a versão de que o que ele quer mesmo é disputar uma vaga ao senado. Seja como for, Quércia afirma que sua prioridade é segurança: "Eu divido a questão em três aspectos. Primeiro a necessidade de se tirar as crianças abandonadas das ruas, uma vez que mais da metade dos crimes no Estado são cometidos por menores; vamos recriar a Secretaria do Menor e agir com uma rigidez enorme nessa área. Segundo, é polícia na rua, policiamento preventivo, patrulhamento padrão, revivendo o antigo conceito do guarda de quarteirão, o mesmo guarda no mesmo local. Por fim, o planejamento e o comando da Polícia Militar e da Polícia Civil, que não existe hoje".


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