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PREVIDÊNCIA
Presidente do STF sinalizou que decisões judiciais podem derrubar tentativa do governo de fixar remuneração máxima
Marco Aurélio vê risco jurídico em teto único
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal), ministro Marco Aurélio de Mello, sinalizou ontem o risco de decisões judiciais
futuras tornarem inócuo, pelo
menos parcialmente, o esforço do
governo pela redução imediata
dos gastos com pessoal por meio
da fixação do teto salarial único
do funcionalismo.
Para ele, parte dos servidores
com remuneração acima de R$
12.720, o limite cogitado pelo governo, encontrará respaldo jurídico para impedir o desconto com
base no argumento sobre direito
adquirido em relação ao salário
ou à aposentadoria em vigor. Para
isso, precisaria apenas provar que
todos os aumentos salariais foram
obtidos a partir de leis válidas.
Ele protestou contra o risco de o
tribunal vir a ser responsabilizado
pelo fracasso de políticas governamentais. "Vamos parar com a
mania de achar que podemos lançar no mundo jurídico normas
com eficácia retroativa. O Judiciário fica depois como responsável
pelo fato de as políticas governamentais não terem dado certo. Fica como vilão", afirmou ele.
Marco Aurélio disse que o STF
analisaria caso a caso e preservaria as "situações legalmente constituídas". Outro ministro afirmou
que há vários casos de supersalários ou superaposentadorias obtidos de forma indevida e, portanto, sujeitos ao desconto após a
adoção do teto. Esse seria o caso
de professores universitários e
policiais federais, entre outros.
Servidores que hoje acumulam
salário e aposentadoria acima do
teto também poderão ficar protegidos do desconto, na opinião do
presidente do Supremo.
Marco Aurélio reafirmou ontem que o teto deveria ser superior a R$ 19 mil, para incluir no salário-base de R$ 12.720, pagos a
ministros do STF, e duas gratificações também recebidas por eles: o
adicional por tempo de serviço e o
jeton por atividade temporária na
Justiça Eleitoral.
A adoção de um teto único para
os três Poderes é um dos pilares
da reforma da Previdência. O objetivo é limitar salários e aposentadorias superiores a ele. Se o direito adquirido for plenamente
reconhecido, o teto só teria efeito
futuro, ou seja, apenas impedirá o
surgimento de novos casos de remuneração acima do limite.
Na hipótese de aprovação do teto e da sua contestação judicial, o
STF examinaria pela primeira vez
a extensão do direito adquirido e
a sua validade em relação a emendas constitucionais. Desde a promulgação da Constituição, em
1988, o tribunal só derrubou duas
emendas por outras razões.
A existência de direito adquirido sobre outro item da reforma
da Previdência, a contribuição de
inativos, é considerada mais polêmica por ministros do Supremo.
A criação de um tributo novo seria menos polêmica que o corte
salarial para ajuste ao teto.
A reforma administrativa do
governo de Fernando Henrique
Cardoso, promulgada em 1998,
previu a adoção do teto e estabeleceu que o valor seria a remuneração dos ministros do Supremo,
mas nunca houve acordo entre os
Poderes para colocá-lo em vigor.
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