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JANIO DE FREITAS
O neo-autoritarismo
Ao serem convidados para os seus cargos, os ministros -exceto só Antonio
Palocci e talvez Guido Mantega- não foram informados de
que o governo adotaria uma política econômica contrária a tudo o que justificara a vitória oposicionista de Luiz Inácio Lula da
Silva e não lhes seriam entregues
nem os recursos, já escassos, autorizados pelo Orçamento aprovado no Congresso com os votos
também do PT. Todos assumiram portando planos entusiasmantes.
Não é preciso especular se houve, ali, certa deslealdade. Outro
caminho é suficiente. É o das implicações da realidade surpreendente sobre cada um dos convidados e nomeados. É uma obviedade que a reputação de um ministro é feita pelo seu desempenho no ministério, a ponto de
que, muitas vezes, seja decisiva
para o futuro da sua carreira de
político ou de técnico. E que o desempenho não depende só do ministro e de sua equipe, mas das
condições proporcionadas e das
circunstâncias.
Logo, reivindicar condições para ação producente começa por
ser um dever de todo administrador público e termina por ser um
direito pessoal. Não no governo
liderado pelo PT. Deles é explicitamente exigido que calem suas
reivindicações e mesmo as ansiedades pelo papel decepcionante
que ofereçam. Por mais tênue
que seja, a desobediência pode
expor a uma repreensão deplorável como a de Lula ao ministro
Cristovam Buarque, que não expôs nem um centésimo do descaso deliberado para com o Ministério da Educação. Se Cristovam
Buarque, como disse Lula, não
sabe que "apressado come cru",
Lula não mostra perceber que,
em país de urgências, quem não
tem pressa faz, no máximo, demagogia.
O falatório de um recurso judicial da senadora Heloísa Helena
e do deputado Lindberg Farias
contra a taxação de inativos é, de
fato, um excesso provocativo.
Mas aos parlamentares que discordam com seriedade, por convicção e por coerência, de certas
intenções do governo, não poderiam ser dirigidos os comentários
e ameaças desrespeitosos e arrogantes que os têm atingido. A
menos que o partido que mais se
opôs ao regime autoritário fardado esteja, agora, criando o
neo-autoritarismo.
Para satisfazer a imagem de
homem de esquerda que José Genoino faz si, pode-se dizer que a
prepotência e o vocabulário com
que a expõe sugerem um neostalinista. Mas, sem tal condescendência, sua pretensão autoritária só pode sugerir condutas
muito próprias da pior direita. E
seu exemplo já produziu um discípulo, na figura neófita do senador Tião Viana.
Lula se propõe a conversar com
os ministros, com os parlamentares e com outros petistas sobre as
reformas como o governo as deseja. Mas já está bastante que
claro que não vai para ouvir, para ponderar as suas e as opiniões
diferentes. Lula, que tem dado a
concluir, não ouve mais. É um
grande vitorioso, e os outros não
são mais do que simples vitoriosos, se chegam a isso. A verdade,
então, só pode ser a sua, mesmo
que não seja propriamente sua,
senão de uma dessas influências
que proporcionam mais aplausos, mais aceitação onde havia
rejeição.
A nova modalidade de "pensamento único", exigida pelo comando do governo e do PT, é antidemocrática, violenta e fascistóide. A ninguém se pode reconhecer o direito ou a autoridade
para exigir atitudes contrárias à
própria convicção.
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