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MARCHA LENTA
Liberação contida de verbas aprovadas no Orçamento atinge programas de combate à fome e ao trabalho infantil
Até agora, União só investiu 0,4% do previsto
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os investimentos do governo
Luiz Inácio Lula da Silva em habitação, saneamento, organização
agrária e trabalho não saíram da
estaca zero a poucos dias de terminar a primeira terça parte do
ano. Do total de R$ 14,1 bilhões de
investimentos da União autorizados pela lei orçamentária de 2003,
apenas 0,40% havia saído do papel (ou R$ 0,40 a cada R$ 100), indica pesquisa no Siafi (sistema informatizado de acompanhamento de gastos federais).
O ritmo lento da liberação de dinheiro público atinge até o Fundo
de Combate e Erradicação da Pobreza, que banca gastos de programas como a Erradicação do Trabalho Infantil. A concessão de
bolsas para crianças pobres deixarem de trabalhar em atividades
consideradas penosas ou degradantes (entre R$ 25 e R$ 40) havia
consumido até meados do mês 10,76% dos R$ 251 milhões previstos no Orçamento.
No mesmo período, o programa de combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes consumiu 64,42% do total, uma rara exceção no ritmo de
gastos. O dinheiro que deixa de
ser gasto ajuda o governo a cumprir a meta de superávit primário
(economia para pagamento de juros da dívida), fixada em 4,25%
do PIB, o equivalente a R$ 68 bilhões em 2003.
Para cumprir a meta acertada
com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o governo bloqueou
72% dos investimentos. Teoricamente, sobrariam 28%. Se mantiver o ritmo registrado até aqui, no
entanto, Lula fechará seu primeiro ano de mandato liberando
pouco mais de R$ 1 a cada R$ 100
previstos para investimentos.
Por ora, o governo só se comprometeu em gastar (empenhou,
no jargão técnico) cerca de 2,5%
do total previsto no Orçamento
deste ano.
Mesmo no Ministério das Cidades -o mais atingido pelo corte
de gastos anunciado em fevereiro-, o ritmo dos pagamentos
poderia ser maior.
A pasta teve um corte de 85%
nos gastos de investimento de
2003. Com isso, poderia investir
até dezembro 15% do que havia
sido previsto inicialmente no Orçamento, mas gastou 0,13%, mantendo paralisadas obras em saneamento, por exemplo.
A explicação, segundo a secretária-executiva das Cidades, Ermínia Maricato, é que o ministério
optou por concluir 1.670 obras
deixadas incompletas pelo governo Fernando Henrique Cardoso.
Ainda assim, o ministério depende de um aumento do limite de
gastos para pagar as obras e a contrapartida a um empréstimo do
BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento) em projeto de
urbanização de favelas.
O Ministério do Desenvolvimento Agrário -a segunda
maior vítima dos cortes na área
social- teria o equivalente a 64%
dos investimentos previstos no
Orçamento para gastar. Até 11 de
abril, nenhum investimento havia
sido feito. O Siafi não registra liberação de dinheiro para novos assentamentos de trabalhadores
sem terra nem para a consolidação de assentamentos antigos.
Cultura
Na mesma situação (zero em investimento) encontram-se outros
cinco ministérios: Trabalho, Cultura, Esporte, Integração Nacional e Assistência e Promoção Social. Os números mostram que os
ministros não gastaram nem o
volume de gastos desbloqueados,
tornando sem sentido o discurso
de Gilberto Gil (Cultura).
Na semana passada, ele reclamou da falta de dinheiro e defendeu uma "urgente descompressão fazendária".
O Ministério dos Transportes ficou bem próximo do grupo dos
sem-investimentos. O programa
de manutenção da malha rodoviária federal, com gasto estimado
em R$ 630 milhões, por exemplo,
continua paralisado.
A pasta social que mais investiu
até aqui foi o Ministério da Educação. Foram pagos 2,03% do total de quase R$ 620 milhões autorizados pelo Congresso na lei orçamentária para investimento.
Em toda a Esplanada, Cristovam
Buarque só perdeu de Luiz Fernando Furlan, do Ministério do
Desenvolvimento, que gastou
2,07% do total de investimentos,
com despesas concentradas no
programa "Metrologia e Qualidade Industrial".
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