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"ASSEMBLEÍSMO"
Avaliação é que encontros convocados por Lula são longos e improdutivos e geram morosidade
Para ministros, há excesso de reuniões
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em resposta às cobranças por
melhor desempenho gerencial,
quatro ministros ouvidos pela
Folha atribuem ao "assembleísmo" que marca o estilo de
governar do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva parte da
responsabilidade pela morosidade administrativa.
Em reuniões com a equipe,
Lula tem se queixado de que os
projetos não saem do papel.
Com a condição de não terem seus nomes revelados, esses quatro ministros (dois petistas) afirmaram que são chamados demais para reuniões
improdutivas. Geralmente, elas
duram horas e reúnem grande
número de colegas.
Mais: dois desses ministros
contaram que conversaram
com colegas e ouviram que eles
também se sentem incomodados com o excesso de reuniões.
Há relatos de ministros que
têm medo do presidente, que
costuma dar broncas nas quais
utiliza termos duros.
Dois ministros que participaram de reunião na última segunda-feira com Lula e outros
17 auxiliares para tratar de
ações pró-juventude dizem
que o encontro durou mais de
quatro horas e foi inconclusivo.
Na semana passada, o presidente promoveu duas reuniões, na terça e na sexta-feira,
para bater o martelo em relação ao novo salário mínimo,
mas adiou a decisão. Na sexta,
realizou outra sobre investimentos em infra-estrutura.
Desde o último dia 20, terça-feira da semana passada, Lula
esteve reunido com grandes
grupos de ministros por pelos
menos 25 horas e meia -incluído o tempo de duas reuniões ontem para tratar do reajuste do salário mínimo.
O presidente realizou no último mês duas longas reuniões
para decidir quais serão os caças
novos a serem comprados pela
FAB (Força Aérea Brasileira),
mas postergou a decisão.
Há ainda reclamações de ministros e líderes partidários que
não conseguem se encontrar
com Lula. Três líderes de partidos aliados na Câmara nunca estiveram a sós com o presidente:
Arlindo Chinaglia (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Sandro Mabel (PL-GO).
Ministros e auxiliares próximos ao presidente afirmam
que Lula vai ampliar o seu círculo de relações. O objetivo seria ouvir mais pessoas sobre assuntos importantes, como economia, e se dedicar a uma tarefa simples mas eficaz em relação a parlamentares, a de dar a
eles o "prestígio" de um tête-à-tête com o presidente da República e o prazer de poderem dizer em suas bancadas que estiveram a sós com ele.
O ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso, por exemplo, era um mestre nesse jogo
de sedução política. Bastava
complicar um pouco a vida do
governo no Congresso para ele
chamar um líder ou um deputado influente para um encontro no Palácio da Alvorada. No
dia seguinte, o convidado o
ajudava a resolver problemas.
FHC dizia que isso era a administração de vaidades essencial
ao exercício do poder.
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