São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2004

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"ASSEMBLEÍSMO"

Avaliação é que encontros convocados por Lula são longos e improdutivos e geram morosidade

Para ministros, há excesso de reuniões

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em resposta às cobranças por melhor desempenho gerencial, quatro ministros ouvidos pela Folha atribuem ao "assembleísmo" que marca o estilo de governar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva parte da responsabilidade pela morosidade administrativa.
Em reuniões com a equipe, Lula tem se queixado de que os projetos não saem do papel.
Com a condição de não terem seus nomes revelados, esses quatro ministros (dois petistas) afirmaram que são chamados demais para reuniões improdutivas. Geralmente, elas duram horas e reúnem grande número de colegas.
Mais: dois desses ministros contaram que conversaram com colegas e ouviram que eles também se sentem incomodados com o excesso de reuniões. Há relatos de ministros que têm medo do presidente, que costuma dar broncas nas quais utiliza termos duros.
Dois ministros que participaram de reunião na última segunda-feira com Lula e outros 17 auxiliares para tratar de ações pró-juventude dizem que o encontro durou mais de quatro horas e foi inconclusivo. Na semana passada, o presidente promoveu duas reuniões, na terça e na sexta-feira, para bater o martelo em relação ao novo salário mínimo, mas adiou a decisão. Na sexta, realizou outra sobre investimentos em infra-estrutura.
Desde o último dia 20, terça-feira da semana passada, Lula esteve reunido com grandes grupos de ministros por pelos menos 25 horas e meia -incluído o tempo de duas reuniões ontem para tratar do reajuste do salário mínimo.
O presidente realizou no último mês duas longas reuniões para decidir quais serão os caças novos a serem comprados pela FAB (Força Aérea Brasileira), mas postergou a decisão.
Há ainda reclamações de ministros e líderes partidários que não conseguem se encontrar com Lula. Três líderes de partidos aliados na Câmara nunca estiveram a sós com o presidente: Arlindo Chinaglia (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Sandro Mabel (PL-GO).
Ministros e auxiliares próximos ao presidente afirmam que Lula vai ampliar o seu círculo de relações. O objetivo seria ouvir mais pessoas sobre assuntos importantes, como economia, e se dedicar a uma tarefa simples mas eficaz em relação a parlamentares, a de dar a eles o "prestígio" de um tête-à-tête com o presidente da República e o prazer de poderem dizer em suas bancadas que estiveram a sós com ele.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, era um mestre nesse jogo de sedução política. Bastava complicar um pouco a vida do governo no Congresso para ele chamar um líder ou um deputado influente para um encontro no Palácio da Alvorada. No dia seguinte, o convidado o ajudava a resolver problemas. FHC dizia que isso era a administração de vaidades essencial ao exercício do poder.


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