|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BRASIL PROFUNDO
Diretor do órgão dá informação a deputados; policial é acusado de contrabando de diamantes e está preso
PF diz que agente vendeu arma a cintas-largas
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O agente da Polícia Federal
Marcos Aurélio Soares Bonfim,
preso desde o mês passado acusado de integrar uma quadrilha de
contrabando de diamantes, vendeu, segundo a PF, ao menos uma
espingarda e uma escopeta para
índios cintas-largas que vivem na
reserva Roosevelt, em Rondônia.
A informação foi dada ontem
pelo diretor-geral da PF, Paulo
Lacerda, em audiência das comissões de Minas e Energia e da
Amazônia, na Câmara. Ele se baseou em depoimentos colhidos
pela PF na Operação Kimberley.
Bonfim e outras 11 pessoas foram
presas na ação. Em depoimento, o
agente negou as acusações e disse
que sobrevive com seu salário.
Segundo investigações da PF, os
cintas-largas também trocaram
diamantes extraídos ilegalmente
na reserva por armas em 2003. Lacerda disse que os índios entregaram "rifles e pistolas" à PF em
duas ocasiões (24 de março e 1º de
abril), ambas anteriores ao confronto que gerou a morte de 29
garimpeiros, ocorrido no dia 7.
Os garimpeiros foram encontrados mortos a golpes de tacape,
borduna e lança, na área indígena.
A perícia preliminar indicou só
um ferimento por arma de fogo,
na perna de um dos corpos. Até
agora, a PF colheu cerca de cem
depoimentos no inquérito que
apura o massacre. Doze suspeitos
também foram identificados.
Participaram ainda da audiência pública, o governador de Roraima, Ivo Cassol (PSDB), o diretor do Departamento Nacional de
Produção Mineral, Miguel Antonio Cedraz Nery, e o coordenador
de Documentação da Funai (Fundação Nacional do Índio), José
Apoena Soares de Meireles.
A audiência durou cerca de cinco horas, sem interrupção. Muitos deputados defenderam os garimpeiros, cujos líderes de sindicatos estavam presentes. "Hoje,
índio no país é sinônimo de preguiça, ócio e obesidade", afirmou
Alberto Fraga (PTB-DF).
O coordenador da Funai disse
que mesmo diferentes, usando
carros e telefones, os índios têm
direito ao território. "Não queremos de volta o tempo em que o
negro volte a ser escravo e o índio
volte a andar nu", afirmou.
Em alguns momentos, houve
bate-boca entre os deputados, uns
dizendo que os índios defendiam
seu território, outros que a defesa
da terra não justifica a chacina.
"Não podemos, como parlamentares que juraram sobre a Constituição, defender a entrada de garimpeiros em reservas indígenas.
Pelo amor de Deus, não vamos
rasgar a Constituição", disse Perpétua Almeida (PC do B-AC).
Para o deputado Asdrubal Bentes (PMDB-PA), "estamos vivenciando a falência do Estado de Direito. Na Amazônia, estamos a
mercê da lei de Talião [olho por
olho, dente por dente]." Cassol
também defendeu os garimpeiros
e criticou os índios e a Funai. "Os
índios se acostumaram com mordomia, sombra e água fresca."
O coordenador da Funai reconheceu que os garimpeiros são
"um problema social", mas frisou
que isso não autoriza a extração
de diamantes na terra indígena.
Texto Anterior: Tradição sem teto: Imóvel da TFP é alvo de disputa Próximo Texto: Frases Índice
|