São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2005

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DEFESA

Após encontro com o ministro, mulheres de militares encerram acampamento; vice pede "alívio" a jornalistas sobre altas taxas

Alencar põe fim a protesto e reclama de juros

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Defesa e vice-presidente, José Alencar, conseguiu encerrar ontem o protesto de mulheres de militares por reajuste salarial nas Forças Armadas ao visitar o acampamento em frente ao prédio de sua pasta. Apesar disso, voltou a criticar a política de juros e sugeriu que outros ministros fossem questionados sobre o porquê de o reajuste não ser viável.
Às manifestantes, ele pediu paciência e confiança no governo. Aos jornalistas, pediu um "alívio" nas perguntas sobre política econômica, em especial sobre as taxas de juros. "Eu tenho falado demais sobre isso. É preciso que vocês me aliviem um pouco. Vocês têm de perguntar também para outras autoridades", disse.
Mesmo assim, ele repetiu que o pleito do grupo é justo e que as Forças Armadas precisariam de um reajuste de 35% -os militares exigem 23%, como uma segunda parcela prometida pelo governo. "Os militares não estão pleiteando aumento. Eles estão pedindo recuperação de perdas, é diferente. As perdas estão no patamar de 35%, porque a vida é dinâmica e a inflação continua."
Recebido com aplausos e faixas com frases como "José Alencar, última esperança", ele não fez promessas às manifestantes. Disse que se reuniria com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem chamou de "homem com autoridade moral" que merecia a confiança do grupo.
O vice-presidente citou o discurso feito por Lula no dia 19 de abril, em solenidade de promoção de oficiais, como prova de que está preocupado com a categoria. "Eu conversei com o general Albuquerque [comandante do Exército] e pedi que não houvesse esta manifestação porque o presidente fez um discurso admirável", afirmou o ministro.
Segundo Alencar, a decisão de quanto e quando será dado o reajuste é do presidente da República, "estribado nas informações das autoridades fazendárias". Ele disse que o problema está ligado às "dificuldades orçamentárias". "O problema não é falta de sensibilidade do governo, o Orçamento é que é duro." O ministro disse ainda que espera que a reposição ocorra logo. "Se eu pudesse, já tinha dado [o reajuste]", declarou, ao deixar o ministério rumo à Vice-Presidência.

Acampamento
Ao receberem a notícia de que o ministro as receberia, a emoção das manifestantes era visível. Não esperaram Alencar cruzar a avenida para chegar ao acampamento e o cercaram na calçada. "Ministro, o senhor é a nossa última esperança", disse uma delas.
Vestidas com "a farda negra da indignação", elas cobraram do vice-presidente o reajuste prometido e melhores condições para as Forças Armadas. Depois de uma rápida conversa, disseram que iriam "levantar" acampamento e encerrar as manifestações em respeito ao ministro.
"Não vou responder se confiamos no presidente Lula. Nós confiamos no ministro e temos certeza de que ele vai lutar por uma solução", disse Ester Araújo, presidente da Apemfa (Associação dos Pensionistas e Esposas de Militares das Forças Armadas).
Ivone Luzardo, presidente da Unemfa (União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas), lembrou que no ano passado, após o reajuste de 10% em setembro e a promessa de uma segunda parcela em março, os protestos também foram suspensos.
"Retornamos em março porque precisávamos ser ouvidos", disse ela a Alencar. Logo em seguida, Ivone pediu desculpas pelos "excessos" cometidos em manifestações nos últimos dias. "Estamos desesperadas."
Depois que o vice-presidente deixou o local, as participantes do acampamento comemoraram o encontro. Ônibus que passavam com militares que deixavam a Câmara dos Deputados, onde houve uma solenidade em comemoração ao Dia do Exército, buzinavam. De dentro dos veículos, os militares, proibidos de fazer greves ou manifestações, levantavam o polegar em apoio às mulheres.


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