São Paulo, sexta-feira, 29 de abril de 2005

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CAMPO MINADO

Grupo segue para Brasília; empresas reclamam de estragos

MST invade pedágios no PR e cobra contribuição

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A caminho de Brasília, para a marcha nacional do movimento, integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram ontem ao menos oito praças de pedágio de rodovias do Paraná. Outras duas foram pontos de manifestações relâmpagos no fim da tarde.
Cerca de mil sem-terra do Estado se deslocaram de acampamentos de quatro regiões rumo a Londrina -onde haverá concentração hoje- e foram tomando as praças que encontraram pelo caminho. Houve casos de o mesmo grupo invadir mais de uma praça. Os sem-terra viajaram de ônibus de um ponto a outro.
Na maioria dos casos, as praças invadidas tiveram o pedágio liberado. Em Cascavel (oeste) e Arapongas (norte), pela manhã, os motoristas comemoraram o passe livre com buzinaço.
Já em Mauá da Serra, no norte do Estado, os sem-terra instituíram um "pedágio-contribuição". Na Lapa (sul), o "pedágio" foi um boné do MST, vendido a R$ 10.
Avisada, a Polícia Militar acompanhou as manifestações à distância e, até o final da tarde, não houve registro de tumulto -apenas de depredações. O governo do Paraná prometeu uma nota oficial da Secretaria da Segurança, mas até o início da noite de ontem ela não tinha sido divulgada.
A ABCR (Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias) denunciou tratamento hostil aos funcionários das praças por parte dos sem-terra e estragos em pelo menos dois locais.

Capuz
Os líderes das cerca de 80 pessoas que tomaram a praça de Mauá da Serra às 9h chegaram encapuzados e cortaram a comunicação, segundo o diretor regional da ABCR, João Chiminazzo Neto. Eles tiraram a proteção do rosto depois de inutilizarem as câmaras de vídeo, disse o diretor. Segundo ele, repetiu-se a estratégia de outras invasões, "para evitar que sejam identificados e responsabilizados na Justiça". Também houve relato de cancelas quebradas na Lapa.
"Quem anda encapuzado é o "Primeiro Comando Rural" [movimento de donos de terra] e a milícia armada da Polícia Militar [grupo de policiais acusado de dar segurança a fazendeiros]", disse o líder do MST José Damasceno, negando a denúncia da ABCR. "Os sem-terra agem com o sol quente na cara", afirmou.
"Temos a situação sob controle e não invadimos, ocupamos as praças. É uma forma de fazer relação com a população [chamar a atenção] para o debate da reforma agrária", disse.
O diretor da ABCR disse identificar "linguagem de comício" nas acusações do líder sem terra contra os preços praticados pelas concessionárias. Ele usou de cautela, mas fazia referência ao governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que, na campanha eleitoral de 2002, prometeu baixar ou acabar com o pedágio.
Em 2003, o governo respaldou o MST na primeira invasão a praças de pedágio em protesto contra o reajuste. Requião e as seis concessionárias travam uma batalha judicial desde o início do governo.
Chiminazzo disse que o usuário das rodovias paga os prejuízos de um dia sem cobrança e das depredações. "Nossa indignação é que a polícia fica assistindo à cena sem agir, não cumprindo a função de proteger o patrimônio público."


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