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ELIO GASPARI
Luiz Inácio Soros da Silva
Diante do componente paleolítico que se infiltrou na
marquetagem do debate presidencial, pode-se suspeitar que
George Soros tenha acabado no
PT. O banqueiro que simbolizou
a internacionalização da finança mundial acaba de publicar
um livro ("On globalization",
ou "Sobre a Globalização", ainda inédito no Brasil) no qual diz
coisas assim:
-Há hoje no mundo um desequilíbrio entre os lucros privados e o bem-estar público. O 1%
mais rico da população mundial acumula uma renda igual à
dos 57% mais pobres. Mais de 1
bilhão de pessoas vivem com
menos de um dólar por dia. Não
foi a globalização quem criou
essa situação, mas ela fez muito
pouco para corrigi-la.
-A despeito de todas as suas
virtudes, a globalização prejudicou muita gente que não dispunha do amparo de uma rede de
proteção social.
-Os países mais desenvolvidos gastam algo como 360 bilhões de dólares por ano subsidiando suas lavouras. Enquanto isso, gastam apenas 53,7 bilhões de dólares em ajuda internacional. Os Estados Unidos
continuam a tirar proveito de
suas leis contra a concorrência
desleal, que podem ser usadas
contra a importação de produtos baratos. Essas caraterísticas
criam um jogo desigual.
-As economias emergentes
(tipo Pindorama) estão sofrendo uma drenagem de capitais
somada a custos crescentes de financiamento. Em 1996 as economias emergentes receberam
81,7 bilhões de dólares. Em 2000
elas transferiram 106 bilhões.
-Desde a crise financeira de
1997/99, as taxas de risco das
economias emergentes subiram
de patamar. Noutra manifestação do jogo desigual, as melhores empresas dos países emergentes vêem-se obrigadas a pagar juros mais altos para se financiarem, perdendo competitividade. "Isso é verdade para
países tão diferentes quanto a
África do Sul, a Bulgária e o
Brasil."
-A banca internacional ainda não entendeu a extensão da
crise argentina, provocada pela
decisão do ministro da Economia, Domingo Cavallo, de "sacrificar tudo no altar da paridade com o dólar e no cumprimento das obrigações internacionais".
Tratando da Argentina, Soros
sustenta que o governo dos Estados Unidos construiu uma tragédia. Tinha que escolher entre
apoiar uma política econômica
sem nexo (a paridade cambial)
ou deixar que o país fosse à bancarrota. Apoiou a primeira alternativa e depois mudou-se para a segunda. Deu no que deu.
Soros continua acreditando
na globalização. Apenas dissocia-se da espécie que denomina
"fundamentalistas do mercado".Faz uma série de propostas para reativar os programas de ajuda internacional e defende uma
redefinição do papel do FMI.
Todos os candidatos a presidente podem dizer coisas como
as que Soros disse, mas, se Lula
disser só uma delas, as patrulhas paleolíticas haverão de
chamá-lo de radical, inimigo
dos capitais internacionais, da
globalização e da luz elétrica.
Soros não acabou no PT pelo
que escreveu sobre a economia
global, mas porque em seu livro
referiu-se duas vezes ao programa Bolsa-Escola, "que paga
subsídios às famílias pobres,
desde que suas crianças frequentem a escola regularmente".
O nome e a amplitude do programa foram uma criação do
professor Cristovam Buarque,
quando ele governou Brasília.
Começou a funcionar em 1996 e
no início de 1998 atendia 44 mil
crianças de 22.400 famílias. Dava um salário mínimo para cada domicílio pobre, desde que a
criança não faltasse mais de um
dia por mês às aulas. Derrubou
a evasão escolar dos bolsistas
para 0,4% e a repetência para
7%, contra um índice geral de
17%. Em 2001, o governo federal
fez coisa semelhante, subsidiando com R$ 15 cada criança (até
um limite de R$ 45).
Registre-se que um dos maiores propagandistas do Bolsa-Escola de Cristovam Buarque foi
FFHH. Quando ele elogiava a
iniciativa de um governante petista, ninguém o acusava de estar se apropriando dos acertos
alheios. Essa mania o tucanato
adquiriu há pouco tempo.
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