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JANIO DE FREITAS
Inflação de nuvens
A objetividade e a firmeza com que o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, sustentou ontem na Câmara que os juros continuarão altos como política de combate à
inflação, que lhe parece ainda
ameaçadora, vai além de um
contravapor na ampla expectativa de alguma redução dos juros a partir de junho, já que a inflação tem diminuído.
Juros oficiais são questão técnica até certo ponto. A partir
daí, começam a se tornar também questão política. No governo passado, a altitude absurda
atingida pelos juros, em diferentes períodos, foi mais tolerada
na opinião pública em razão da
evidência de riscos -ditos de
procedência externa, mas, a rigor, decorrentes de uma política
econômica fragilizante. A tolerância não evitou, porém, que a
altitude dos juros fosse um dos
fatores por onde começou a descrença no governo de Fernando
Henrique Cardoso.
No governo Lula, depressa os
juros se tornaram questão política. Estão no centro das considerações negativas sobre o governo. E a cada dia levam mais
apoiadores a atitudes de crítica.
O deputado Delfim Netto, nesse
sentido, foi ontem de clareza total: "Os juros reais têm que ser
iguais à taxa do PIB, para que
haja crescimento". Os jornais fazem onda com as críticas do vice-presidente José Alencar, e
chegam à tolice de fantasiar que
Lula lhe fizesse uma repreensão,
mas entre os subordinados de
fato a Lula, ou aos condutores
do PT, os juros já levam a romper o dique do silêncio imposto.
Senador Aloizio Mercadante: "A
política econômica tem que ser
mudada. Com essas amarras
não há crescimento".
Nesse quadro, revestido da
contrariedade geral de que só o
setor financeiro está fora, como
beneficiário dos juros, a confirmação da taxa sufocante não ficará sem efeitos agravantes do
clima já ruim. Há elementos suficientes para admitir que o governo esteja caminhando rumo
à sua primeira crise. A julgar pelo conjunto de nuvens que se arma em setores sociais e econômicos, a oposição aos juros paralisantes terminará por se tornar
incontrolável antes que a inflação desça tanto quanto o governo exige para adotar juros toleráveis.
Talvez Lula e seu governo estejam precisando passar por isso.
Talvez prefiram a alternativa de
abrir olhos e encontrar meios altivos de antecipar-se sem perder
a face. A primeira hipótese, consideradas a arrogância e a presunção em vigor, por ora é a mais provável.
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