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São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 2003

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FOGO AMIGO

Na Fiesp, ministro rebateu frase do ministro Graziano (Combate à Fome) que ligou nordestinos à violência em SP

Ciro afirma que Fome Zero é "caridade"

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, classificou o Fome Zero como "caridade" e disse que a iniciativa não acaba com a miséria no país. Ciro criticou também uma declaração sobre nordestinos dada pelo formulador do programa, o ministro José Graziano (Segurança Alimentar).
"Estamos falando de fome de 20 milhões de pessoas, e isso não vai ser revertido com caridade", afirmou Ciro, durante uma palestra para empresários da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), em que expôs as linhas de reformulação da Sudene.
Para Ciro, "a diferença entre comer e não comer hoje ao meio-dia é grave", mas "isso [a distribuição de cartões magnéticos para a compra de alimentos] não vai resolver nada, nem é sustentável ao longo do tempo".
Na saída da palestra, ao ser contestado sobre suas declarações, o ministro afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende a mesma posição que ele. "Precisamos combater a fome agora. Isso é apenas um passo emergencial", declarou.
Ciro Gomes é um dos cotados para ser o coordenador da área social do governo. O presidente Lula negou, em entrevista realizada anteontem, que ele venha a exercer a função. A ministra Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social), cuja pasta elabora um estudo sobre a unificação dos programas sociais do governo, também é cotada.
Na avaliação do ministro, a principal maneira de reverter a miséria no semi-árido nordestino é a criação de "oportunidades competitivas sustentáveis", ou seja, a instalação de indústrias que explorem o potencial econômico de cada região.
"E isso não é para proteger paulista da violência", afirmou, fazendo uma referência indireta à declaração de Graziano.
Em fevereiro, durante palestra também na Fiesp, Graziano fez uma relação entre a violência e a migração nordestina: "Temos de criar emprego lá [Nordeste], (...) porque, se eles continuarem vindo pra cá, vamos ter de continuar andando de carro blindado".
Ciro disse considerar a frase "preconceituosa" e que provém daqueles que estão acostumados com "luxo e egoísmo". Ao ser contestado se se referia a Graziano, afirmou: "Isso é você [jornalista] quem está falando".
A área social da gestão Lula é uma das mais criticadas desde o início do governo. Apontam-se erros na condução do Fome Zero, brigas por competências entre os ministérios e sobreposição dos programas sociais.
Os ministros Graziano e Cristovam Buarque (Educação) defenderam, durante esta semana, a escolha de um coordenador para as pastas sociais. Ciro não quis dizer qual era a sua opinião. Ao ser questionado sobre o assunto, disse apenas: "Não tenho a menor idéia do que você está falando".

Esmolas
Durante a palestra sobre a nova Sudene, Ciro criticou os incentivos fiscais concedidos pelo órgão antes de sua extinção, em 2001, classificando-os como "esmolas". Aos cerca de 50 empresários que estavam no auditório, ele afirmou que está "saindo às ruas" para enfrentar uma "onda de ceticismo" e quebrar o "fatalismo" que existe contra a superintendência.


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