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GOVERNO
Vice não revela origem da censura; ministro culpa "articulistas alugados"
Alencar e Ciro dizem sofrer censura por crítica aos juros
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O vice-presidente da República,
José Alencar (PL), afirmou ontem
no Rio que está sendo censurado
por defender a queda das taxas de
juros no país. Ele teve o apoio do
ministro da Integração Nacional,
Ciro Gomes (PPS), que disse também já ter sido censurado.
José Alencar não disse de onde
teria partido a censura. O vice falou apenas que ela "vem, obviamente, de tudo aquilo que é contra a queda de juros". Questionado se a censura estaria vindo de
integrantes do governo federal, o
vice disse, entrando no elevador e
já longe dos repórteres: "Não".
O ministro foi mais incisivo ao
falar da origem da censura: disse
que ela parte de "articulistas alugados, gente paga para isso". A estratégia deles, segundo o ministro, é "debochar, desmoralizar" a
"pessoa que queira pensar sobre
alternativas que não sejam essa
ortodoxia que nos é imposta por
esse modelo econômico".
Alencar e Ciro Gomes participaram do seminário "Trabalho, Desenvolvimento Social e Crescimento Econômico", em comemoração ao 184º aniversário da
Associação Comercial do Rio de
Janeiro. Eles não chegaram a se
encontrar. O vice-presidente esteve na abertura do evento, de manhã. Ciro Gomes participou de
um painel de discussões, à tarde.
Alencar surpreendeu a platéia
ao falar da censura, em um improviso após discurso em que
enalteceu a entidade aniversariante. Na ocasião, o vice-presidente voltou a defender a queda
das taxas de juros. Ao final, foi
aplaudido de pé pelos cerca de
cem empresários presentes.
Censura
"A Constituição de 1988 acabou
com a censura. Exceto a censura
de bater na taxa de juros existente.
Essa censura existe. Eu tenho sofrido e sido vítima dessa censura.
Até distorcendo o que falo", declarou o vice-presidente.
À tarde, questionado sobre a declaração de Alencar, Ciro Gomes
também afirmou que existe uma
censura. "Eu acho também. Isso é
antigo no Brasil. Disso eu não tenho a menor dúvida. Eu, por
exemplo, já experimentei isso
gravemente, em várias ocasiões",
afirmou o ministro.
O vice-presidente, pouco antes
de reclamar da suposta censura,
traçara uma espécie de histórico
das condições que levaram o Brasil a ter uma taxa de juros tão alta.
Após a explanação, Alencar
concluiu: "Nunca houve na história do Brasil maior transferência
de renda oriunda da produção
-o que, vale dizer, do trabalho-
em benefício do sistema financeiro nacional e internacional".
Alencar afirmou que, embora
"não tenha grande autoridade para falar sobre isso", por não ser
economista, considera estar respaldado pela "experiência de
meio século de vida empresarial".
"Todos sabem da minha origem
modesta, humilde, criado no interior, na roça, de família pobre.
Nem estudar direito pude. Mas sei
que, enquanto as atividades produtivas não puderem remunerar
com vantagem os custos de capital, não deverá haver investimento à medida que o Brasil precisa e
pode em relação ao seu potencial", disse. Alencar é dono da Coteminas, empresa do setor têxtil.
O vice-presidente foi novamente aplaudido quando narrou o
que costuma acontecer a um empresário que recorre a um banco
na tentativa de antecipar uma receita de venda a prazo.
"É um despropósito um cidadão que produz levar sua duplicata a um banco estatal ou privado e
pagar, na melhor das hipóteses,
35% ao ano de juros. Porque a sua
atividade não vai lhe render, obviamente, um terço disso. Então,
ele transfere toda a sua renda para
o setor financeiro", afirmou.
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