São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

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GOVERNO

Vice não revela origem da censura; ministro culpa "articulistas alugados"

Alencar e Ciro dizem sofrer censura por crítica aos juros

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O vice-presidente da República, José Alencar (PL), afirmou ontem no Rio que está sendo censurado por defender a queda das taxas de juros no país. Ele teve o apoio do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PPS), que disse também já ter sido censurado.
José Alencar não disse de onde teria partido a censura. O vice falou apenas que ela "vem, obviamente, de tudo aquilo que é contra a queda de juros". Questionado se a censura estaria vindo de integrantes do governo federal, o vice disse, entrando no elevador e já longe dos repórteres: "Não".
O ministro foi mais incisivo ao falar da origem da censura: disse que ela parte de "articulistas alugados, gente paga para isso". A estratégia deles, segundo o ministro, é "debochar, desmoralizar" a "pessoa que queira pensar sobre alternativas que não sejam essa ortodoxia que nos é imposta por esse modelo econômico".
Alencar e Ciro Gomes participaram do seminário "Trabalho, Desenvolvimento Social e Crescimento Econômico", em comemoração ao 184º aniversário da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Eles não chegaram a se encontrar. O vice-presidente esteve na abertura do evento, de manhã. Ciro Gomes participou de um painel de discussões, à tarde.
Alencar surpreendeu a platéia ao falar da censura, em um improviso após discurso em que enalteceu a entidade aniversariante. Na ocasião, o vice-presidente voltou a defender a queda das taxas de juros. Ao final, foi aplaudido de pé pelos cerca de cem empresários presentes.

Censura
"A Constituição de 1988 acabou com a censura. Exceto a censura de bater na taxa de juros existente. Essa censura existe. Eu tenho sofrido e sido vítima dessa censura. Até distorcendo o que falo", declarou o vice-presidente.
À tarde, questionado sobre a declaração de Alencar, Ciro Gomes também afirmou que existe uma censura. "Eu acho também. Isso é antigo no Brasil. Disso eu não tenho a menor dúvida. Eu, por exemplo, já experimentei isso gravemente, em várias ocasiões", afirmou o ministro.
O vice-presidente, pouco antes de reclamar da suposta censura, traçara uma espécie de histórico das condições que levaram o Brasil a ter uma taxa de juros tão alta.
Após a explanação, Alencar concluiu: "Nunca houve na história do Brasil maior transferência de renda oriunda da produção -o que, vale dizer, do trabalho- em benefício do sistema financeiro nacional e internacional".
Alencar afirmou que, embora "não tenha grande autoridade para falar sobre isso", por não ser economista, considera estar respaldado pela "experiência de meio século de vida empresarial".
"Todos sabem da minha origem modesta, humilde, criado no interior, na roça, de família pobre. Nem estudar direito pude. Mas sei que, enquanto as atividades produtivas não puderem remunerar com vantagem os custos de capital, não deverá haver investimento à medida que o Brasil precisa e pode em relação ao seu potencial", disse. Alencar é dono da Coteminas, empresa do setor têxtil.
O vice-presidente foi novamente aplaudido quando narrou o que costuma acontecer a um empresário que recorre a um banco na tentativa de antecipar uma receita de venda a prazo.
"É um despropósito um cidadão que produz levar sua duplicata a um banco estatal ou privado e pagar, na melhor das hipóteses, 35% ao ano de juros. Porque a sua atividade não vai lhe render, obviamente, um terço disso. Então, ele transfere toda a sua renda para o setor financeiro", afirmou.


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