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JANIO DE FREITAS
A batalha
Enquanto se desenvolvia o
novo ramo do jornalismo
brasileiro, especializado em atribuir navalhadas mútuas, e nunca
factualmente descritas, entre José
Dirceu e Aldo Rebelo, a verdadeira divisão no governo fixou-se entre os que imaginam poderes milagrosos na propaganda e os que
vêem no crescimento econômico a
obrigação e a salvação do governo Lula e do PT. É essa divergência que se empenha, agora, na batalha provavelmente decisiva.
Curioso nesse confronto é que,
mesmo sem se darem conta, as
duas partes têm posições idênticas a respeito do que as divide: nenhuma das duas confia na política econômica e nos argumentos
promissores dos que a conduzem.
Afinal de contas, o que os defensores da propaganda buscam, por
esse meio, é compensar a incapacidade, também por eles verificada na política econômica, de responder às aspirações gerais e, assim, difundir apoio e confiança
no governo. Os defensores de crescimento não querem outra coisa,
embora tenham mais motivos, e
mais sérios, para sua posição.
Dos chapeuzinhos para ser fotografado/filmado às incessantes
aparições sem sentido nos mais
diferentes eventos; dos anúncios
fantasiosos de TV a várias das
viagens sem maior propósito, os
crentes na propaganda se impuseram no governo durante 18 meses, desde a posse até agora. Como
os ascendentes ao poder passaram, a exemplo de seus antecessores, a viver tão longe dos lugares
públicos quanto possível, as constantes pesquisas exclusivas da
Presidência mostram-lhes o resultado obtido pelo investimento gigantesco na propaganda, assim
registrado pelo Datafolha: de
abril do ano passado até 24 e 25
da semana passada, a cotação
ruim/péssimo do governo Lula
passou de 12% para 30%.
O dado é muito impressionante: a quantidade dos que dão ao
governo Lula a pior avaliação
possível ficou duas vezes e meia
acima da verificada, na cidade
de São Paulo, há apenas 15 meses. O que era pouco mais de insignificante um décimo, é agora
um terço da população a dar ao
governo Lula a cotação mais condenatória.
O veloz e feroz agravamento da
rejeição ao governo, já crescendo
neste ano com média acima de
1,5% por mês, provoca alterações
substanciais na corrente propagandística, liderada até aqui por
Luiz Gushiken (por essa posição,
que não exclui outros motivos, o
real adversário de José Dirceu no
grupo do Planalto; seu gabinete,
aliás, é o principal alimentador
da nova especialidade jornalística). Mas a adesão inicial de Gushiken à política de crescimento,
segundo os indícios dados em
certas discussões no governo e no
PT, já encontra uma força substituta: os comandos do Ministério
da Fazenda e do Banco Central
partem com vigor para obter ampliação, nos jornais e TV, das
afirmações de que "o Brasil está
crescendo a 3,5%", e outras afirmações de validade apenas transitória ou de todo inconfiáveis.
Desse novo esforço propagandístico pode-se deduzir que Palocci não está aceitando a emergência, no governo, da linha pelo
empenho maior pró-crescimento.
Sinal de que a batalha em curso
será mais dura. Apesar da concordância manifestada por Lula
aos proponentes de alterações na
política econômica.
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