São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

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JANIO DE FREITAS

A batalha

Enquanto se desenvolvia o novo ramo do jornalismo brasileiro, especializado em atribuir navalhadas mútuas, e nunca factualmente descritas, entre José Dirceu e Aldo Rebelo, a verdadeira divisão no governo fixou-se entre os que imaginam poderes milagrosos na propaganda e os que vêem no crescimento econômico a obrigação e a salvação do governo Lula e do PT. É essa divergência que se empenha, agora, na batalha provavelmente decisiva.
Curioso nesse confronto é que, mesmo sem se darem conta, as duas partes têm posições idênticas a respeito do que as divide: nenhuma das duas confia na política econômica e nos argumentos promissores dos que a conduzem. Afinal de contas, o que os defensores da propaganda buscam, por esse meio, é compensar a incapacidade, também por eles verificada na política econômica, de responder às aspirações gerais e, assim, difundir apoio e confiança no governo. Os defensores de crescimento não querem outra coisa, embora tenham mais motivos, e mais sérios, para sua posição.
Dos chapeuzinhos para ser fotografado/filmado às incessantes aparições sem sentido nos mais diferentes eventos; dos anúncios fantasiosos de TV a várias das viagens sem maior propósito, os crentes na propaganda se impuseram no governo durante 18 meses, desde a posse até agora. Como os ascendentes ao poder passaram, a exemplo de seus antecessores, a viver tão longe dos lugares públicos quanto possível, as constantes pesquisas exclusivas da Presidência mostram-lhes o resultado obtido pelo investimento gigantesco na propaganda, assim registrado pelo Datafolha: de abril do ano passado até 24 e 25 da semana passada, a cotação ruim/péssimo do governo Lula passou de 12% para 30%.
O dado é muito impressionante: a quantidade dos que dão ao governo Lula a pior avaliação possível ficou duas vezes e meia acima da verificada, na cidade de São Paulo, há apenas 15 meses. O que era pouco mais de insignificante um décimo, é agora um terço da população a dar ao governo Lula a cotação mais condenatória.
O veloz e feroz agravamento da rejeição ao governo, já crescendo neste ano com média acima de 1,5% por mês, provoca alterações substanciais na corrente propagandística, liderada até aqui por Luiz Gushiken (por essa posição, que não exclui outros motivos, o real adversário de José Dirceu no grupo do Planalto; seu gabinete, aliás, é o principal alimentador da nova especialidade jornalística). Mas a adesão inicial de Gushiken à política de crescimento, segundo os indícios dados em certas discussões no governo e no PT, já encontra uma força substituta: os comandos do Ministério da Fazenda e do Banco Central partem com vigor para obter ampliação, nos jornais e TV, das afirmações de que "o Brasil está crescendo a 3,5%", e outras afirmações de validade apenas transitória ou de todo inconfiáveis.
Desse novo esforço propagandístico pode-se deduzir que Palocci não está aceitando a emergência, no governo, da linha pelo empenho maior pró-crescimento. Sinal de que a batalha em curso será mais dura. Apesar da concordância manifestada por Lula aos proponentes de alterações na política econômica.


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