São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

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ANÁLISE

Documento omite números desfavoráveis

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os documentos sobre as realizações de Luiz Inácio Lula da Silva mostram o que será o debate eleitoral deste ano e, provavelmente, o de 2006: um festival de números parciais exibidos por dois grupos políticos que, no poder, adotaram políticas semelhantes, com resultados não muito diferentes.
Dizem os petistas: "Foi revertida a tendência de crescimento da relação dívida/PIB, que caiu de 61,7% em setembro de 2002 para 57,4% em março de 2004".
Os dados estão corretos, mas omitem que, quando Lula chegou ao Palácio do Planalto, a dívida pública já havia caído para 55,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Ou seja, o endividamento de União, Estados e municípios aumentou durante a gestão Lula.
Tão importantes quanto o balanço das ações da administração petista são as sucessivas menções negativas aos resultados do governo Fernando Henrique Cardoso, apoiado por tucanos e pefelistas, que hoje atacam Lula com as mesmas armas retóricas usadas pelo PT nos tempos de oposição.

Truques
Lula aponta como obra sua a efetiva melhora da balança comercial, iniciada em 1999 e acelerada a partir de 2002. O PSDB e o PFL responsabilizam Lula pelo aumento da carga tributária, que também começou em 1999 e deu um salto em 2002.
Os truques são conhecidos, e o mais comum deles é a escolha de critérios de comparação favoráveis. O documento petista mostra que os juros reais (acima da inflação) caíram, tomando como base a projeção de juros futuros desde novembro de 2001; se fossem usados os juros passados, por exemplo, o gráfico teria mostrado uma alta dos juros.
Afirma-se que os programas de transferência de renda cresceram durante o governo Lula. Se fossem contabilizados os gastos sociais como um todo, os números mostrariam estagnação em relação ao governo anterior.
Outro artifício é exibir projeções como se fossem resultados obtidos: "Serão investidos em 2003/2004 quase cinco vezes mais em educação de jovens e adultos do que em 1999/2000".
Alguns temas incômodos são contornados. "Ao longo de 2003, o governo fomentou a discussão do Plano Plurianual", afirma o texto, sem mencionar que o plano, cuja finalidade é orientar os orçamentos de 2004 a 2007, não foi aprovado até hoje.
Como os tucanos, os petistas evitam ao máximo falar do desemprego, que ambos viram crescer em seus governos. O recurso, tanto antes como agora, é citar ações destinadas à geração de empregos e dados favoráveis em alguns setores.


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