|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Documento omite números desfavoráveis
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os documentos sobre as realizações de Luiz Inácio Lula da Silva
mostram o que será o debate eleitoral deste ano e, provavelmente,
o de 2006: um festival de números
parciais exibidos por dois grupos
políticos que, no poder, adotaram
políticas semelhantes, com resultados não muito diferentes.
Dizem os petistas: "Foi revertida a tendência de crescimento da
relação dívida/PIB, que caiu de
61,7% em setembro de 2002 para
57,4% em março de 2004".
Os dados estão corretos, mas
omitem que, quando Lula chegou
ao Palácio do Planalto, a dívida
pública já havia caído para 55,5%
do PIB (Produto Interno Bruto).
Ou seja, o endividamento de
União, Estados e municípios aumentou durante a gestão Lula.
Tão importantes quanto o balanço das ações da administração
petista são as sucessivas menções
negativas aos resultados do governo Fernando Henrique Cardoso, apoiado por tucanos e pefelistas, que hoje atacam Lula com as
mesmas armas retóricas usadas
pelo PT nos tempos de oposição.
Truques
Lula aponta como obra sua a
efetiva melhora da balança comercial, iniciada em 1999 e acelerada a partir de 2002. O PSDB e o
PFL responsabilizam Lula pelo
aumento da carga tributária, que
também começou em 1999 e deu
um salto em 2002.
Os truques são conhecidos, e o
mais comum deles é a escolha de
critérios de comparação favoráveis. O documento petista mostra
que os juros reais (acima da inflação) caíram, tomando como base
a projeção de juros futuros desde
novembro de 2001; se fossem usados os juros passados, por exemplo, o gráfico teria mostrado uma
alta dos juros.
Afirma-se que os programas de
transferência de renda cresceram
durante o governo Lula. Se fossem contabilizados os gastos sociais como um todo, os números
mostrariam estagnação em relação ao governo anterior.
Outro artifício é exibir projeções como se fossem resultados
obtidos: "Serão investidos em
2003/2004 quase cinco vezes mais
em educação de jovens e adultos
do que em 1999/2000".
Alguns temas incômodos são
contornados. "Ao longo de 2003,
o governo fomentou a discussão
do Plano Plurianual", afirma o
texto, sem mencionar que o plano, cuja finalidade é orientar os
orçamentos de 2004 a 2007, não
foi aprovado até hoje.
Como os tucanos, os petistas
evitam ao máximo falar do desemprego, que ambos viram crescer em seus governos. O recurso,
tanto antes como agora, é citar
ações destinadas à geração de empregos e dados favoráveis em alguns setores.
Texto Anterior: Aliados terão cartilha para a defesa de Lula na campanha Próximo Texto: Trechos Índice
|