São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ESTATAIS

Joel Santos Filho diz que prometeu dinheiro a Maurício Marinho, funcionário dos Correios flagrado ao receber R$ 3.000, para vencer licitação

Na CPI, autor de gravação confirma propina

FERNANDA KRAKOVICS
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em depoimento à CPI dos Correios, Joel Santos Filho, autor da gravação de um vídeo que mostra cobrança de propina na estatal, disse ontem que acertou com o funcionário Maurício Marinho o pagamento de R$ 15 mil para ganhar uma licitação na estatal.
Segundo Joel, os R$ 3.000 que o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração dos Correios aparece colocando no bolso, durante a gravação, seriam um adiantamento para cobrir eventuais despesas de Marinho no levantamento de informações que beneficiariam a empresa.
No depoimento ontem, Joel disse que toda a situação criada por ele era fictícia. Ele se apresentou ao ex-chefe de departamento com o nome de Goldman e disse que era diretor de uma empresa de informática chamada Allcom.
Joel foi contratado pelo empresário Arthur Washeck para fazer a gravação. O objetivo alegado por ambos seria derrubar Marinho, que estaria prejudicando os negócios de Washeck nos Correios.
Maurício Marinho afirmou à CPI e à Polícia Federal que os R$ 3.000 recebidos por ele eram referentes a uma consultoria em um trabalho paralelo aos Correios. O funcionário também disse que eram "bravatas" os esquemas de corrupção detalhados na gravação, além da declaração de que agia em nome do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).
"Os R$ 3.000 eram para que a gente pudesse efetivamente ganhar uma licitação nos Correios", afirmou Joel, que não citou o termo propina. Ele teria dito a Marinho, por telefone, que havia conseguido "adiantar um agrado", referindo-se aos R$ 3.000.
Joel foi quatro vezes conversar com Marinho nos Correios e recebeu R$ 10 mil para fazer a gravação. Seu acompanhante em uma das reuniões, João Carlos Mancuso, teria recebido R$ 5.000. "O depoimento do Joel confirma que Maurício Marinho não dizia a verdade quando disse que fez bravatas porque ele repetiu três ou quatro vezes a mesma coisa, de forma coerente", disse o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR).
Ontem à noite, Maurício Marinho mudou sua versão sobre os R$ 3.000 que embolsou na gravação. Aos deputados da Corregedoria, ele afirmou que não recebeu o valor como adiantamento a uma consultoria que prestaria a empresários, mas não quis esclarecer a razão desse pagamento.
Para a oposição, Joel puxou a conversa com Marinho para o lado da área de informática porque o objetivo seria expor supostas irregularidades na diretoria de tecnologia dos Correios. O então diretor de tecnologia, Eduardo Medeiros, é da cota do PT. Sua vaga era disputada por PMDB e PTB.
O depoimento de Joel durou cerca de cinco horas. O segundo interrogatório previsto, o de Jairo Martins, foi adiado porque ele estava em Campo Grande (MS). Antes do depoimento de Arlindo Molina, que teria tentado chantagear Jefferson, a sessão foi interrompida para que a CPI assistisse a trechos inéditos da gravação.
Joel e Arlindo Molina dividiram a mesma cela na PF ao serem presos por conta do escândalo. "Isso é grave. Eles tiveram toda oportunidade para tramar o que iam dizer", disse o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP).


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