São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 2002

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GOVERNO DE SP

Número de veículos entregues no 1º semestre deste ano é cinco vezes maior do que o total no ano passado

Alckmin multiplica entregas à polícia

JULIA DUAILIBI
CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo do Estado de São Paulo entregou somente no primeiro semestre deste ano cinco vezes mais carros de polícia do que em todo o ano passado.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB), presente à maioria dos eventos de entrega de veículos, é candidato à reeleição.
Em 2002, o governo do Estado distribuiu 2.104 carros para as polícias Civil e Militar. No ano anterior, quando não houve eleições, foram entregues somente 386 veículos.
Em 2000, ano em que Alckmin disputou a Prefeitura de São Paulo, o governo estadual também investiu na compra de automóveis. Foram entregues 4.428 veículos para as polícias Civil e Militar. Em 1999, ano sem eleição, a distribuição foi novamente pequena: apenas 371 carros.
O investimento em veículos também ocorreu em 1998, quando o então governador Mário Covas, morto em março do ano passado, disputou a reeleição. Naquele ano, o governo entregou 2.345 veículos.
Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, a segurança é hoje a segunda maior preocupação entre os paulistas, perdendo apenas para o desemprego.
Os adversários de Alckmin na disputa pelo governo vão trazer para o centro do debate eleitoral o aumento da criminalidade na gestão tucana no Estado.
Como estratégia de defesa, o governador apresentará os números de tudo o que foi investido em segurança nos oito anos de mandato do PSDB -incluindo aí a compra de carros.

Eficácia
A reposição de veículos é um dos instrumentos de combate à criminalidade. Os carros de policiamento têm uma vida útil média de três anos.
O que chama a atenção, no entanto, é o fato de o reforço na segurança, por meio da compra de veículos, ter vindo em anos de eleição durante o governo Covas/Alckmin.
A compra de automóveis por parte do governo como política de segurança é contestada por alguns especialistas no assunto.
"O investimento em carro é custoso. O automóvel fica parado no trânsito, gasta combustível e ainda leva uma mensagem de segurança errada. O retorno, pode-se verificar pela Rota, é muito pequeno", afirma Luís Antônio de Souza, pesquisador do Núcleo de Violência da USP, em referência ao grupo de elite da PM, que realiza rondas ostensivas como forma de coibir a criminalidade.
Segundo Souza, pesquisas qualitativas indicam que veículos têm um impacto enorme no sentimento de segurança das pessoas. "Viatura não é política de segurança", diz o pesquisador, que cita como exemplo de uma política eficaz a melhora nos salários dos policiais.

Superação
De acordo com o governo do Estado, de 1995 até maio deste ano foram entregues 12.671 veículos, totalizando R$ 313 milhões em investimentos.
Em seu primeiro mandato, o governador Mário Covas já havia superado os antecessores, tendo adquirido 4.899 veículos apenas para a PM.
Em todo o governo de Franco Montoro (1983-1986), um dos fundadores do PSDB em 1988, foram adquiridas 2.947 unidades, número superior aos 2.629 veículos que a Polícia Militar recebeu na gestão do ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho (1991-1994), que é ex-oficial da corporação.
De 2000 até junho deste ano, os tucanos já entregaram 5.190 carros para a PM. A frota atual da Polícia Militar, Civil e Técnico Científica no Estado de São Paulo é de 17.838 veículos. Por não existir critério estipulado por lei, ocorrem distorções, geralmente provenientes de pressão política.
O interior, que conta com o lobby de deputados, recebeu quase o mesmo número de unidades que a capital e cidades da Grande São Paulo, onde se concentram os números da violência.

Entregas
De janeiro a junho deste ano, 923 carros foram entregues para as polícias Civil e Militar do interior. A capital e os municípios da Grande São Paulo ficaram com 1.181 veículos.
A Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo não divulga o nome dos municípios beneficiados com a compra de veículos pelo governo.
Segundo um ofício do coronel da Polícia Militar Paulo Marino Lopes, em resposta a uma consulta realizada pelo deputado Emídio de Souza (PT), "a destinação de veículos novos, bem como o remanejamento dos usados, obedecem a uma relação de prioridades estabelecidas pelos Comandos de Policiamento de cada região, o que se repete a cada conclusão de novos procedimentos licitatórios".


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