São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2004

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GIRO PELA ÁFRICA

Em visita ao Gabão, presidente afirma que gestões anteriores só olhavam para o "mundo desenvolvido"

A africanos, Lula diz buscar tempo perdido

JULIA DUAILIBI
ENVIADA ESPECIAL A LIBREVILLE

Ao afirmar que deve ser o presidente do Brasil que mais visitou a África, Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, no Gabão, que tenta recuperar "o tempo perdido" por governos "que só olhavam para o mundo desenvolvido".
"O governo brasileiro vai tentar, no menor tempo possível, recuperar o tempo perdido, em que os governantes brasileiros só olhavam para o mundo desenvolvido", disse Lula, em sua terceira viagem ao continente, durante cerimônia no Palácio do Governo de Libreville, capital do Gabão.
Ao defender a aproximação com os africanos, Lula afirmou que o Brasil "não é rico", mas que tem "potencial". "O fato de o Brasil ser pobre não significa que não possa ajudar outros irmãos e países em condições similares ou até de maior pobreza."
Lula busca o apoio dos africanos para que o Brasil obtenha assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A África ocupa hoje 53 lugares na Assembléia Geral da ONU. O presidente falou ainda sobre a renegociação da dívida do Gabão com o Brasil, de cerca de US$ 36 milhões.
Lula disse ser importante "olhar para o mundo desenvolvido, mas que não se pode esquecer dos historicamente ligados ao povo brasileiro". Ao lado de Omar Bongo, presidente do Gabão, falou sobre "os passos importantes" que o país toma rumo a um "desenvolvimento mais equânime".
"Foram muitos anos em que o sangue de homens e mulheres africanos construíram a riqueza do país e muitos anos sem conhecer a palavra liberdade. Hoje estamos na capital do Gabão, que significa liberdade", disse.
Bongo está no poder desde 1967, sete anos depois de o país ter obtido independência da França.
Já sua posição em relação à democracia de seu país é vista com cautela. Após a tomada do poder, em 1968 ele decretou um sistema unipartidário, só desfeito em 1991. Ainda assim, venceu disputada eleição em 1993 para presidente, reelegendo-se em 1998 para um mandato de sete anos.
Bongo tem poderes quase ditatoriais. Aponta governadores e prefeitos e pode dissolver o Parlamento. Ainda assim, o ministro das Relações Exteriores, Jean Ping, assumirá em setembro a presidência da Assembléia Geral da ONU, o que demonstra aposta internacional no país.
O líder do Gabão, país de maioria cristã, converteu-se ao islamismo e tem 52 filhos. Em 2005 haverá eleição e, se Bongo vencer, ficará mais sete anos no poder.
Ainda durante a visita ao Gabão, Lula assinou memorandos de cooperação técnica entre os dois países.
No jantar de anteontem, oferecido por Bongo, Lula dançou samba com Matilde Ribeiro (Promoção da Igualdade Racial) e ouviu bossa nova. O presidente deixou ontem o país por volta das 12h (8h em Brasília), seguindo viagem para Cabo Verde.


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