São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007

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JANIO DE FREITAS

A prioridade é o presente


Propostas do Planalto e de Serra não contribuem para resolver a crise tal como vivida pelos usuários da aviação

EM SEU PRIMEIRO dia no exercício do cargo, o novo ministro da Defesa motivou uma situação embaraçosa para o governo e mais complicadora do problema aéreo, com o acréscimo de um ingrediente também político.
Ao visitar para consulta o seu compadre José Serra, Nelson Jobim deu ocasião a um petardo do governador paulista contra a construção de novo aeroporto em São Paulo ("um escapismo e uma panacéia"), apresentada pela Presidência da República como o seu grande achado para solucionar a desordem no transporte aéreo. A agressividade desmoralizadora, na forma como foi repelida a solução da Presidência, inutiliza os esforços concessivos de Lula para deter o oposicionismo natural e agudo de Serra.
Como agravante, a contraproposta de Serra faz, em princípio, mais sentido do que a adotada às pressas no Planalto. A menos, claro, que o governo haja descoberto uma localização bem mais próxima da cidade do que os aeroportos de Cumbica e Viracopos. Mas, com sua solução, o governo comunicou também que nada será dito sobre local: "Não somos promotores de especulação imobiliária", lembrou a boa meia-verdade de Dilma Rousseff.
Nenhuma das duas propostas, no entanto, sequer contribui para resolver a crise tal como vivida pelos usuários da aviação. Novo aeroporto e ampliação dos atuais são obras demoradas. Nelson Jobim, ainda por cima, nas duas entrevistas referiu-se de preferência à segurança aérea, dada como nova prioridade absoluta, mesmo que "seu preço seja a comodidade" nos aeroportos. Nada menos claro, ou mais confuso.
A crise só tem relação íntima com insegurança aérea para quem se oriente pelo sensacionalismo de determinados noticiários. Do tipo "Aviões da Gol e da TAM quase se chocam no ar". Quase porque "passaram a 1.200 metros um do outro", distância suficiente, entre eles, para uns 30 aviões idênticos aos dois. Os problemas de pessoal e equipamento do controle aéreo, por sua vez, estão no âmbito da FAB. E são funcionais e administrativos, muito mais do que técnicos.
O problema que explode nos saguões dos aeroportos, e que requer solução para já, está visível na desordem das linhas aéreas, reduzidas ao vale-tudo. Deslocar vôos de Congonhas para lá ou para cá responde, sem aliviar, a certa histeria contra o aeroporto paulistano. Se, em qualquer lugar, continuarem permitidas as conexões que as principais empresas adotaram, para melhorar a rentabilidade do vôo e conseguir captar mais do deixado pela Varig, para os passageiros a situação caótica vai perdurar. No máximo, estará dividida entre mais aeroportos.
A regra é simples e velha conhecida: quanto mais conexões, maior a reprodução geral, em quantidade e amplitude, das falhas ocorridas em algumas delas, ainda que poucas na origem. Pior do que não enfrentar esse problema lucrativo para as empresas, a Anac, a tal agência reguladora da aviação civil, avalizou-o. Logo, só poderia tratar as conseqüências negativas com a benevolência que nunca lhe faltou.
As próprias empresas perderam o controle sobre os seus truques. E solucionar essa desordem não é providência que dependa de anos de obras, enquanto os passageiros as esperam e se desesperam nos saguões.


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