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JANIO DE FREITAS
A prioridade é o presente
Propostas do Planalto e de Serra não contribuem para resolver a crise tal como vivida pelos usuários da aviação
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EM SEU PRIMEIRO dia no exercício do cargo, o novo ministro
da Defesa motivou uma situação embaraçosa para o governo e
mais complicadora do problema aéreo, com o acréscimo de um ingrediente também político.
Ao visitar para consulta o seu
compadre José Serra, Nelson Jobim
deu ocasião a um petardo do governador paulista contra a construção
de novo aeroporto em São Paulo
("um escapismo e uma panacéia"),
apresentada pela Presidência da República como o seu grande achado
para solucionar a desordem no
transporte aéreo. A agressividade
desmoralizadora, na forma como foi
repelida a solução da Presidência,
inutiliza os esforços concessivos de
Lula para deter o oposicionismo natural e agudo de Serra.
Como agravante, a contraproposta de Serra faz, em princípio, mais
sentido do que a adotada às pressas
no Planalto. A menos, claro, que o
governo haja descoberto uma localização bem mais próxima da cidade
do que os aeroportos de Cumbica e
Viracopos. Mas, com sua solução, o
governo comunicou também que
nada será dito sobre local: "Não somos promotores de especulação
imobiliária", lembrou a boa meia-verdade de Dilma Rousseff.
Nenhuma das duas propostas, no
entanto, sequer contribui para resolver a crise tal como vivida pelos
usuários da aviação. Novo aeroporto
e ampliação dos atuais são obras demoradas. Nelson Jobim, ainda por
cima, nas duas entrevistas referiu-se
de preferência à segurança aérea,
dada como nova prioridade absoluta, mesmo que "seu preço seja a comodidade" nos aeroportos. Nada
menos claro, ou mais confuso.
A crise só tem relação íntima com
insegurança aérea para quem se
oriente pelo sensacionalismo de determinados noticiários. Do tipo
"Aviões da Gol e da TAM quase se
chocam no ar". Quase porque "passaram a 1.200 metros um do outro",
distância suficiente, entre eles, para
uns 30 aviões idênticos aos dois. Os
problemas de pessoal e equipamento do controle aéreo, por sua vez, estão no âmbito da FAB. E são funcionais e administrativos, muito mais
do que técnicos.
O problema que explode nos saguões dos aeroportos, e que requer
solução para já, está visível na desordem das linhas aéreas, reduzidas ao
vale-tudo. Deslocar vôos de Congonhas para lá ou para cá responde,
sem aliviar, a certa histeria contra o
aeroporto paulistano. Se, em qualquer lugar, continuarem permitidas
as conexões que as principais empresas adotaram, para melhorar a
rentabilidade do vôo e conseguir
captar mais do deixado pela Varig,
para os passageiros a situação caótica vai perdurar. No máximo, estará
dividida entre mais aeroportos.
A regra é simples e velha conhecida: quanto mais conexões, maior a
reprodução geral, em quantidade e
amplitude, das falhas ocorridas em
algumas delas, ainda que poucas na
origem. Pior do que não enfrentar
esse problema lucrativo para as empresas, a Anac, a tal agência reguladora da aviação civil, avalizou-o. Logo, só poderia tratar as conseqüências negativas com a benevolência
que nunca lhe faltou.
As próprias empresas perderam o
controle sobre os seus truques. E solucionar essa desordem não é providência que dependa de anos de
obras, enquanto os passageiros as
esperam e se desesperam nos saguões.
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