São Paulo, Quinta-feira, 29 de Julho de 1999 |
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PAINEL Queixas ao bispo A greve dos caminhoneiros atropelou FHC. O discurso de presidente ontem era o que sempre faz em situações de pressão: finge que eventual desabastecimento e pressão inflacionária não são com ele. Frase a interlocutores: ""Os problemas são o pedágio (governos estaduais) e o frete (tema privado)". Saia justa Esperado para o final do mês, o reajuste dos combustíveis deve ser adiado. A greve dos caminhoneiros dramatizou o problema. Mas é pouco provável que passe de agosto. O governo tem rígidas metas a cumprir com o FMI. E uma delas é tirar US$ 5 bilhões da venda de combustíveis para o Tesouro. Berço esplêndido Avalia-se no Congresso que o governo não deu a devida importância ao movimento dos caminhoneiros. Prova disso é que escolheu Eliseu Padilha para tratar do assunto, que é na realidade um problema econômico. Logo, da alçada de Pedro Malan (Fazenda) e não do ministro dos Transportes. O nó da questão Na opinião de líderes partidários, a real motivação da greve dos caminhoneiros é a recessão. Se houver desabastecimento e um agravamento da onda de inadimplência, o assunto tende a ganhar mais força e a dominar a reabertura dos trabalhos do Congresso na próxima semana. Visão local Presidente do PFL, Bornhausen (SC) tentava ontem detectar a repercussão da greve dos caminhoneiros em Brasília. A corte parecia alheia ao problema das províncias. Para o senador, estão subestimando a determinação dos líderes da greve em atingir seus objetivos. Limites da barganha O governo topa negociar o pedágio e a anotação das multas nas carteiras, duas das reivindicações dos caminhoneiros. Mas não quer conversa a respeito da tarifa para fretes rodoviários. Não colou ACM se decepcionou com a péssima repercussão da proposta de combate à pobreza entre políticos, juristas, empresários e jornalistas. Encomendou estudo técnico a fim de turbinar e ""explicar melhor" o projeto. Quer provar o impossível: não seria aumento de imposto. Cerco político Não é só FHC que vai boicotar a proposta ACM de combate à pobreza. A Câmara quer votar a reforma tributária antes de o pefelista aprovar seu projeto no Senado. Se não conseguir, Michel Temer manda anexar o projeto carlista à proposta tributária que tramita na Câmara. Cabo-de-guerra Brasil e Argentina avançaram na disputa comercial. Anteontem, autoridades davam declarações hostis e não dialogavam. Ontem, dialogavam sem enfrentamento. O governo brasileiro, no entanto, não aceita a resolução argentina que permite restrição de importações de países do Mercosul sem necessidade de provar prática desleal. Acordo difícil Além da paralisação dos caminhoneiros, o governo pode ter outro problema com greves. Os carteiros, uma das poucas categorias públicas que têm conseguido parar nos últimos anos, começam a negociar nesta semana com os Correios. Óleo de peroba Os R$ 60 bi que ACM quer destinar nos próximos dez anos ao combate da pobreza é o valor que o governo gastou com os bancos estaduais. Detalhe: as ajudas foram aprovadas pelo Senado, sempre com apoio do pefelista, que preside a Casa. Visita à Folha O presidente da Abrinq (Fundação pelos Direitos da Criança), Sergio Mindlin, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado do arquiteto Jorge Wilhem, do Comitê Consultivo do Projeto Abrinq, de Renata Villas-Boas, coordenadora do Projeto Prefeito Criança, e de Ricardo Vacaro, do Conselho Administrativo da fundação. TIROTEIO De João Paulo (PT-SP), sobre o governo ter sido surpreendido pela paralisação dos caminhoneiros: - Já é tradição do governo FHC ser atropelado pelo ACM, pela Ford, pela Argentina, pelo FMI, pelos caminhões... CONTRAPONTO Porção Getúlio Um caso que ocorreu com o presidente Getúlio Vargas foi adaptado, em forma de piada, para a era FHC. Um ministro que está sempre querendo verbas para a sua área, como José Serra (Saúde), por exemplo, pede uma audiência: - Presidente, preciso de R$ 100 milhões para não fechar hospitais. O sr. tem de falar com o Malan. O social é prioritário. - Você tem razão! - responde decididamente FHC. Noutra audiência, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, chega esbaforido: - Presidente, o FMI não deixa eu dar os R$ 100 milhões para o Serra. O sr. tem de falar com ele. O ajuste fiscal e a estabilidade econômica são prioritários. - Você tem razão! - responde decididamente FHC. Pedro Parente, que acabou de assumir a Casa Civil e presenciou as duas conversas, diz: - Presidente, o sr. enrolou os dois. O sr. não decidiu nada. Isso não se faz, presidente. - Você tem razão! - responde decididamente FHC. Próximo Texto: Privatização: Grupo dos EUA paga ágio de 90% e leva energética Índice |
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