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TELES
Um ano depois da privatização da telefonia, R$ 22 bilhões arrecadados viraram pó com a crise cambial
Gasto com juros já soma "4 Telebrás"
GUSTAVO PATÚ
Coordenador de Economia da Sucursal de Brasília
VIVALDO DE SOUSA
da Sucursal de Brasília
Os gastos do governo federal
com juros depois da privatização
da Telebrás, que completa um
ano hoje, equivalem a mais de
quatro vezes o valor arrecadado
com a venda da estatal.
Na maior privatização da história do país, foram arrecadados R$
22 bilhões destinados à redução
da dívida pública. Na época, o valor era suficiente para um semestre inteiro de despesas federais
com juros.
No entanto, a crise econômica
que culminou na desvalorização
do real, em janeiro, fez com que a
quantia virasse pó diante da alta
dos juros e do aumento do valor
em reais da dívida externa.
Os encargos da dívida federal
pós-venda da Telebrás já atingiram R$ 89 bilhões, considerando
apenas dez meses -o Banco
Central ainda não calculou os gastos de junho e julho deste ano.
A explosão dessa despesa aconteceu em dois momentos. No primeiro, em setembro do ano passado, o BC elevou os juros de 19%
para 49% ao ano, na tentativa de
evitar a fuga de investidores estrangeiros do país.
A estratégia teve custo altíssimo
e resultados modestos. Em janeiro, o governo desistiu do controle
do valor da moeda e permitiu a
subida do dólar -que levou às alturas a dívida externa e os títulos
corrigidos pelo câmbio.
Os resultados podem ser mais
bem observados na evolução da
dívida federal, que na época da
venda da Telebrás beirava os R$
200 bilhões e, em maio último, já
estava em R$ 298 bilhões.
É claro que, sem o dinheiro da
venda da Telebrás, a situação seria ainda pior hoje. Do valor atingido no leilão, R$ 15,9 bilhões já
foram pagos ao Tesouro Nacional, o que evitou um aumento de
dívida da mesma proporção.
Os compradores pagaram 40%
à vista (R$ 8,8 bilhões) e ficaram
de pagar o resto em duas parcelas
de 30% (R$ 6,6 bilhões) em 1999 e
2000.
Em busca de dinheiro para tapar os buracos em suas contas, o
governo conseguiu neste ano receber adiantamentos, com os devidos descontos. Do que ficou faltando, no próximo dia 4 entram
R$ 3 bilhões e, um ano depois,
mais R$ 3,1 bilhões.
Se R$ 22 bilhões parecem pouco
perto das dimensões do déficit
público, deve-se levar em conta
que, a juros de 20% ao ano (nada
anormais para os padrões brasileiros), esse valor se transformaria
em uma dívida de R$ 136 bilhões
em dez anos.
Ou, em outro cálculo com a
mesma taxa, a privatização permitiu ao governo economizar R$
4,4 bilhões anuais em juros
-mais ou menos o que o Ministério da Educação tem para investir a cada ano.
O destino do dinheiro da Telebrás gerou polêmica antes da privatização, com divisões internas
no governo.
De um lado estavam os defensores do uso dos recursos em projetos sociais ou investimentos voltados para o crescimento da economia.
No chamado grupo "desenvolvimentista" esteve o próprio ministro Sérgio Motta (Comunicações), um dos arquitetos da privatização, morto em abril de 98.
Os vencedores foram os membros da equipe econômica, concentrados no Ministério da Fazenda e no Banco Central, para os
quais todos os recursos da privatização devem ser usados para abater a dívida pública.
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