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CELSO PINTO
O pacote do INSS
Já está pronto no governo o pacote que vai mudar a previdência
dos trabalhadores privados no
INSS. A intenção é anunciá-lo o
mais rápido possível, mas caberá
ao núcleo político do Planalto decidir quando e de que forma
apresentá-lo.
Serão medidas infraconstitucionais, ou seja, por lei ordinária. Será preciso apenas obter maioria
simples e uma votação. As mudanças recentes na previdência
dos servidores públicos exigiram
uma reforma constitucional, com
quórum de três quintos e duas votações na Câmara e duas no Senado.
O objetivo central da mudança
é aproximar ao máximo os benefícios recebidos das contribuições
feitas. A reforma constitucional
do ano passado, ao fixar uma
idade mínima para aposentadoria pública (55 anos para mulheres e 60 anos para homens), como
alternativa para o tempo de serviço (35 anos), abriu espaço para
mudanças também no INSS.
Um ponto que vai mudar é o
período para o cálculo da aposentadoria. Hoje, a aposentadoria é
calculada pela média das contribuições dos últimos 36 meses.
Com isso, abre-se uma brecha para um "planejamento previdenciário": paga-se pouco até os três
anos anteriores à aposentadoria.
A intenção é ampliar bastante o
prazo para o cálculo.
Outra mudança será uma
maior equiparação dos sistemas
de contribuição dos trabalhadores cooperativados e autônomos
em relação aos assalariados. Autônomos e, em especial, cooperativados acabam contribuindo
bem menos do que os assalariados.
O pacote do INSS foi apresentado, na segunda-feira à tarde, pelo
Ministério da Previdência ao novo ministro da Casa Civil, Pedro
Parente. A intenção, contudo, é
não divulgá-lo até o sinal verde
da área política e depois de montada a estratégia de comunicação, para tentar minimizar resistências.
Existe uma dificuldade política
óbvia na venda do pacote. O buraco gerado pela previdência pública é quatro vezes maior do que
o gerado pelo INSS. Em 1998, considerando o buraco de União (R$
17 bilhões), Estados (R$ 13,6 bilhões) e municípios (R$ 2,5 bilhões), o déficit dos servidores
chegou a R$ 33,1 bilhões. O déficit
do INSS ficou em R$ 7,8 bilhões.
Para este ano, as estimativas
não são muito diferentes. O déficit dos servidores da União é estimado em R$ 18 bilhões, o dos Estados em R$ 14 bilhões e o dos
municípios em R$ 2,6 bilhões, um
total de R$ 34,6 bilhões. O déficit
do INSS é estimado em cerca de
R$ 10,5 bilhões.
O mais grave é que, enquanto os
R$ 33 bilhões de déficit do setor
público, em 1998, beneficiaram
3,2 milhões de servidores, o déficit
de R$ 7,8 bilhões do INSS beneficiou 18 milhões de trabalhadores.
Tanto pelo tamanho, quanto
pela iniquidade, portanto, seria
mais relevante atacar o problema
do déficit da previdência pública.
São duas as razões para o governo ter escolhido, ao contrário,
concentrar baterias no INSS e só
voltar a pensar em novas mudanças no setor público depois da tramitação dessas mudanças, ou seja, talvez no próximo ano.
A primeira é que, embora o déficit dos servidores seja muito
maior, o déficit do INSS está crescendo muito mais rapidamente.
Em 1998, o déficit dos servidores
da União cresceu 7,6%, enquanto
o déficit do INSS saltou 186%. Para este ano, a previsão é que o déficit dos servidores da União cresça uns 5,5%, enquanto o déficit
do INSS deve crescer mais de
35%.
O déficit dos servidores da
União tem crescido menos por várias razões. O quadro de funcionários está estagnado e os salários não são reajustados há cinco
anos. O impacto maior da corrida
por aposentadorias pelo medo da
reforma já passou no setor público, mas ainda existe no setor privado. Outra razão para o maior
déficit do INSS é a crescente participação do trabalho informal,
sem carteira assinada.
A segunda razão para evitar
mexer agora na previdência pública é que a parte mais importante da reforma aprovada, a que
cria contribuição dos aposentados e aumenta a contribuição dos
ativos, está em julgamento no Supremo Tribunal Federal. É preciso esperar uma decisão do STF.
Não será fácil aprovar o pacote
do INSS, mas a área econômica
está convencida que é uma medida vital para o equilíbrio fiscal.
Seu impacto fiscal imediato é bem
maior do que o da reforma tributária ou o da Lei de Responsabilidade Fiscal, dois outros projetos
considerados prioritários em Brasília.
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