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DISTRIBUIÇÃO DE RENDA
Para d. Demétrio Valentini, CNBB não pode participar de algo ""onde o PFL dá as cartas"
Bispo faz críticas a projeto de ACM
RICARDO MIRANDA
Coordenador de Política da Sucursal de Brasília
Dom Demétrio Valentini, 59,
um dos mais influentes bispos da
Pastoral Social da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil), disse ontem à Folha que
não gostaria que a entidade integrasse a Comissão Permanente
do Conselho Federal de Combate
à Pobreza -proposta em projeto
pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
D. Demétrio presidiu durante
oito anos a Pastoral Social da
CNBB. "A gente não gostaria de
compor uma comissão onde o
PFL dá as cartas", disse d. Demétrio, bispo de Jales (SP) e presidente da Caritas Brasileira, organismo ligado à CNBB com atuação junto a comunidades carentes. "A Pastoral Social da CNBB
não aceita ser cooptada. Não vamos assinar nenhum cheque em
branco."
A comissão administraria os recursos do Fundo de Combate e
Erradicação da Pobreza, proposto anteontem por ACM, para "erradicar a pobreza" no Brasil até o
ano 2010. A proposta de ACM
prevê aumento de impostos para
abastecer o fundo.
Além da CNBB, a comissão teria entre seus membros permanentes o vice-presidente, Marco
Maciel, o vice-presidente da Câmara, Heráclito Fortes (PI), o vice-presidente do TCU (Tribunal
de Contas da União), Humberto
Souto, e o vice-presidente do Senado, Geraldo Melo (PSDB-RN).
Os três primeiros são ligados ao
PFL, partido de ACM.
D. Demétrio reconheceu que o
combate à pobreza deve ser uma
prioridade, mas discute a origem
da proposta.
"É uma coisa estranha a procedência da proposta. Foi a mesma
pessoa que defendeu o privilégio
escancarado para uma multinacional (Ford) se instalar no seu
Estado (Bahia). A gente fica se
perguntando se esse súbito interesse em combater a pobreza não
é uma cortina de fumaça para interesses eleitorais", disse ele.
O bispo disse que não adianta
querer acabar com a pobreza fazendo leis. "Pobreza não se resolve com projetos, mas com opções
profundas de governo. E a opção
do atual governo, abrindo o país
aos interesses das multinacionais
e dos especuladores, provocou o
agravamento da pobreza. Governo este que tem no senador
(ACM) um dos seus maiores suportes."
De acordo com d. Demétrio, a
CNBB está disposta a discutir a
proposta e a ajudar a melhorá-la
desde que seja feita "uma confissão pública do senador de que é
preciso rever as prioridades assumidas pelo atual governo". D.
Demétrio defendeu uma reforma
fiscal "urgente" para que os pobres não sejam mais onerados.
"É para acabar com a pobreza?
Então vamos colocar as cartas na
mesa. Não aceitamos misturar
interesses eleitorais na discussão", disse. ACM não foi localizado ontem para comentar as afirmações.
O vice-presidente do TCU,
Humberto Souto, disse ontem
que o fundo antipobreza idealizado por ACM precisaria ter uma
fiscalização "rígida e absoluta"
para que seus recursos não se
percam "na burocracia e na corrupção brasileiras".
"Devemos aproveitar a idéia e a
força política do seu líder (ACM)
e criar um conselho independente, capaz de impedir que seus recursos se percam na burocracia e
na corrupção."
Já o senador Geraldo Melo disse
que a proposta de ACM, que ainda não leu, é "o ponto de partida". "A proposta é instigante e
abre uma discussão que está tardando no país", disse.
Colaborou Flávia de Leon,
da Sucursal de Brasília
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