São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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PT SOB SUSPEITA

João Francisco reafirma ter ouvido relato sobre repasse a José Dirceu

Irmão de Celso Daniel insiste em acareação sobre propina

LIEGE ALBUQUERQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O oftalmologista João Francisco Daniel, 56, irmão do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, quer uma acareação com o assessor do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, e com a ex-mulher do prefeito, Miriam Belchior, na CPI criada para investigar um suposto esquema de propina para financiar campanhas do PT.
João Francisco, em depoimento ao Ministério Público, afirmou que, em conversas em setembro do ano passado, Gilberto teria lhe contado que entregou R$ 1,2 milhão ao presidente do PT, deputado José Dirceu, para financiar campanhas petistas. Miriam teria confirmado que a propina seria para financiar campanhas.
"Quero uma acareação, mas só se for em depoimento aberto, ao contrário do primeiro [26 de junho], que foi fechado à opinião pública", afirma o médico.
João Francisco, ao fazer um balanço da repercussão sobre o assunto desde que foi divulgado seu depoimento ao Ministério Público, no dia 24 de maio, afirma que está "esperançoso".
"Foi uma vitória conseguir a reabertura do processo sobre a morte de meu irmão. Eu e minha família estamos agindo, até hoje, como investigadores, para o caso não cair no esquecimento sem ser investigado a fundo", diz.
O oftalmologista continua acreditando na mesma tese: de que não foi crime comum. "Foi queima de arquivo. Meu irmão foi assassinado porque se rebelou sobre as propinas, que ele tolerava para pagar campanhas, mas que acabou servindo para enriquecimento de algumas pessoas."
"Acho que os trabalhos da CPI estão muito aquém do que já foi investigado". Ele diz "lamentar" que o STF não tenha acolhido o pedido de investigação sobre José Dirceu.
O médico reafirma que tem testemunhas das conversas com Gilberto e Miriam, mas que, por conselho da Promotoria, só prestariam depoimento se o Ministério Público Federal solicitar.
No dia 1º de julho, o ministro do STF Nelson Jobim rejeitou a abertura de inquérito criminal contra José Dirceu e o seu indiciamento, que haviam sido pedidos pelo procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro.
Jobim, relator do caso no Supremo, considerou que as informações colhidas na investigação eram inconsistentes e sem "idoneidade" para caracterizar indícios contra o presidente do PT.
Na época, o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Luiz Antônio Marrey, saiu em defesa dos promotores, negando que tenha havido falhas na apuração.

Grampo
João Francisco afirma que foi descoberto um grampo em uma linha telefônica de sua casa, em São Bernardo do Campo. Espera até o final da semana um laudo encomendado ao técnico que detectou o grampo para entregar ao Ministério Público.
O médico não faz nenhuma acusação sobre quem poderia ter feito o grampo.



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