São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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JANIO DE FREITAS

O sobe e desce

A apontada volta de José Serra ao possível empate com Ciro Gomes, embora muito dependente de confirmação pelo Datafolha, reanimou mais do que a sua candidatura. É a própria disputa eleitoral que recupera vivacidade e emoção.
Os maus índices de Serra deixaram a mídia meio borocoxô, os serristas deprimidos, inventaram até o tucano independente.
O pior papel ficou com o Datafolha, cujo ônus de confirmar ou reprovar as pesquisas do Ibope e do Vox Populi -um modo de ser agradável com um lado, mas desagradável com o outro- transformou-se ontem em voto de Minerva. A pesquisa CNT/ Sensus não subscreveu o novo empate técnico no segundo lugar. Nem a queda estonteante de Ciro Gomes e a formidável subida de José Serra em apenas quatro a seis dias de programa eleitoral gratuito, como afirmaram Ibope e Vox Populi.
O movimento de queda e subida é o mesmo e, sem dúvida, é lógico, considerados fatores desde o relaxado programa de TV de Ciro Gomes até a continuada projeção favorecida de José Serra na mídia, além da intensidade dos ataques deste àquele. Movimento idêntico, porém contido. Onde o Ibope encontrou perda de 5 pontos por Ciro Gomes, a CNT/ Sensus registra 3,1, passando de 28,6% para 25,5%; os 6 pontos a mais que o Ibope atribuiu a José Serra ficam em 1,3 no CNT/Sensus, passando-o de 13,4% a 14,7%.
Para completar a diferença entre as pesquisas, José Serra ainda dista 4,8 pontos percentuais de Ciro Gomes na CNT/Sensus, ainda que aplicada a margem de erro de 3 pontos percentuais a favor de José Serra e contra Ciro Gomes, como foi feito com o Ibope para a afirmação de que os dois estão em empate técnico.
A nova pesquisa CNT/Sensus chamou mais atenção do que suas edições anteriores por fazer mais sentido com alguns dados do Ibope do que os números do próprio Ibope. É o caso da disparidade entre as imensas descida e subida provocadas pelos programas do horário gratuito, Serra ganhando 1% a cada dia e Ciro perdendo quase isso. O que causa estranheza por terem só 48% dos eleitores visto algum programa (logo, 52% não viram nenhum) e de 19% acharem que os programas de Serra são bons. Esses números não impediriam os índices atribuídos aos candidatos, mas os tornariam bem difíceis.
As diferenças entre as duas pesquisas e as questões suscitadas pela pesquisa do Ibope -o que não é raro- são ingredientes estimulantes da oxigenação trazida à disputa eleitoral. O esperado, porém, é que a melhor disputa piore o nível dos disputantes diretos. José Serra, por achar que o ataque ao adversário é que lhe dá e poderá dar mais condições de subir. Ciro Gomes, pela dedução de que, se é guerra, que o seja plenamente. Isso fará a alegria dos que não superaram as exasperações da adolescência e precisam muito de agressividade tola, própria ou alheia. Mas fazer-se pretendente à Presidência da República na base de desaforos é uma sugestão para que aí não se percam os votos inteligentes e sérios.


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