São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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ESTRATÉGIA

Lula deve continuar a evitar confronto na televisão na esperança de obter dividendos do duelo entre tucano e Ciro

Crescimento de Serra já preocupa o PT

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A ascensão de José Serra (PSDB) e a queda de Ciro Gomes (PPS) nos mais recentes levantamentos eleitorais provocaram na cúpula da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) um estado de alerta que se traduz em um temor e uma expectativa.
O temor, óbvio, é que o crescimento de Serra, se ampliado e repetido nas próximas semanas, torne-se uma onda eleitoral que venha atropelar o petista no início da disputa do segundo turno. O tucano é tido como adversário mais difícil de ser vencido.
A expectativa é que Ciro e Serra se mantenham em disputa apertada até o primeiro turno, trocando ataques que obrigariam o lado derrotado a aderir a Lula no segundo turno, facilitando a caminha do candidato petista ao Palácio do Planalto.
Desde o ano passado, a estratégia de campanha do PT previa que o segundo turno ocorreria entre Lula e o candidato da situação. A performance de Ciro fez com que fosse revista essa estratégia, levando a um cenário em que o petista se diria o candidato da estabilidade contra supostas incertezas que acompanhariam o candidato do PPS.
Nas reuniões semanais do comando petista, o efeito do horário eleitoral em favor de Serra era previsto, mas com um impacto menor do que o verificado em pesquisa do Ibope, que apontou crescimento de seis pontos do tucano e queda de cinco de Ciro, com uma diferença entre os dois de apenas quatro pontos.
Para os petistas, o voto em Ciro não estava cristalizado e o percentual de Serra subvalorizado, dada à força e transferência de votos tradicionais de um candidato da situação.
No segundo turno, o tucano é tido como candidato mais difícil de ser batido porque iniciaria a disputa em clima de vitória, agregando exponencialmente apoios em seu favor.
Um dos efeitos imediatos da subida de Serra é a interrupção ou a redução significativa de adesão de setores do empresariado e de políticos mais tradicionais à candidatura Lula. Sem o tucano no cenário e com desconfianças sobre Ciro, o petista tinha mais facilidade de costurar esse tipo de apoio.
O PT avalia que os ataques de Serra a Ciro também ajudaram Lula, na medida em que "desconstituíram" a imagem do candidato do PPS, mantido em um patamar inferior ao do petista.
No curto prazo, está mantida a estratégia de não entrar no duelo Ciro-Serra. No cenário dos sonhos de Lula, poderia até possibilitar a vitória no primeiro turno.
Numa visão hoje mais plausível, o cenário mais desejável pelo PT é enfrentar um Ciro bem ferido. No entanto, é óbvio que o petista espera que o candidato do PPS também fragilize Serra.
Num primeiro momento, o PT julgou boa notícia a queda de Ciro, pois estava preocupado com a resistência demonstrada por ele.
O PT planeja aguardar o resultado dos anunciados contra-ataques de Ciro a Serra para ter mais claro quem será o provável adversário no segundo turno.
Nos próximos dez dias, pelo menos, continuará a ser seguido o roteiro "Lulinha quer paz e amor", definição recente do próprio candidato para o comportamento -ora evasivo, ora brincalhão- que busca demonstrar maturidade e evitar conflitos.
Ao avaliar prós e contras de ter Ciro ou Serra como adversário no segundo turno, um cacique petista diz que o tucano é uma "pessoa jurídica" mais forte do que Ciro. Este, entretanto, é "pessoa física" com mais força.
Leia-se: Serra tem condições de reunir apoios mais significativos. Já Ciro, apesar do carisma e de ser tido como bom comunicador, teria menos apoios. Lula poderia dividir com vantagem, crê a cúpula do PT, o empresariado e o mercado financeiro.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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