São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Assessor de Bush discute Alca com o PT

DA REPORTAGEM LOCAL

A implantação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e e o apoio ao governo da Venezuela são os dois "impasses" na relação do governo George W. Bush com um eventual governo do PT.
Ontem, durante uma hora, o embaixador Richard Haass, diretor do Escritório de Planejamento de Políticas do Departamento de Estado do EUA (assessor do secretário de Estado, Colin Powell), reuniu-se com Marco Aurélio Garcia, integrante da coordenação de campanha do presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva e secretário de Cultura de São Paulo, e Jorge Mattoso, secretário de Relações Internacionais do município.
Em visita de três dias ao país, Haass encontrou-se com assessores dos três principais candidatos a presidente, sendo os últimos os petistas. "Ele me pareceu mais pomba [da paz" do que falcão", resumiu Marco Aurélio Garcia, numa referência ao apelido dado a assessores de Bush favoráveis a ações bélicas.

Alca
Garcia abriu a conversa com Haass, expondo as linhas gerais da proposta econômica do PT, enfatizando a necessidade de reduzir "constrangimentos externos" ao país.
O embaixador norte-americano apontou o que classificou de um "paradoxo" petista: o partido defende o aumento das exportações, mas é contrário a Alca. Lembrou que, depois de dez anos de discussões, o Congresso dos EUA deu poderes ao presidente para que assinasse os acordos comerciais que permitirão a integração comercial dos países do continente.
Garcia rebateu dizendo que as restrições a produtos e setores aprovadas pelos parlamentares americanos prejudicam as exportações brasileiras e inviabilizam a Alca, na visão do PT. "É um impasse que precisamos contornar", disse Haass aos petistas.
Garcia afirmou que um eventual governo petista não estimularia o "sentimento antiamericano" nas negociações, mas que agiria, assim como os EUA fazem, de "maneira ativa" para evitar perdas para o país.
O segundo "impasse" foi o questionamento do governo americano sobre o relacionamento e apoio de Lula ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
A resposta foi que o PT apóia o venezuelano porque este é detentor de mandato constitucional para o qual foi eleito. "Não se trata de gostar ou não", disse Garcia. "Nem sempre os melhores são eleitos", rebateu Haass.

Diálogo
O secretário petista relatou que na última reunião de Lula com Chávez, ocorrida em outubro do ano passado, o petista aconselhou o presidente venezuelano a dialogar mais, mesmo com setores oposicionistas, para evitar o seu isolamento e o aumento da tensão social no país.
Outro ponto sobre o qual o embaixador quis conhecer a posição do PT foi a guerra civil vivida na Colômbia.
Garcia avaliou que o Brasil errou por "omissão" ao não tentar participar diretamente da resolução dos conflitos entre governo e guerrilheiros.
Defendeu uma solução negociada, sem ações militares. Ouviu de Haass que os americanos defendem uma saída diplomática, mas que essa talvez não seja possível sem que ocorram antes o que chamou de "exercícios militares".
(PLÍNIO FRAGA)



Texto Anterior: TV não muda e "Lula-lá" de 89 é retomado
Próximo Texto: Haass pede mais ação do Brasil na região
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.