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OLHAR ESTRANGEIRO
Candidatos que "inganam"
PETER COLLINS
O estrangeiro que passa
pelas ruas das cidades brasileiras não pode deixar de se impressionar com a variedade de
pessoas que ganham a vida na informalidade, como camelô, engraxate, guarda-carros, flanelinha. Em certo aspecto, é uma admirável demonstração de "empreendedorismo". Mas eles, bem
como os outros 54% dos trabalhadores que estão na informalidade, só garantiram trabalho por terem fugido da grande sanguessuga chamada setor público brasileiro, que drena as veias da economia e a deixa com anemia crônica.
Até entre as empresas que operam na formalidade é nada raro
haver caixa dois e outros "jeitinhos" para sobreviver à miríade
de impostos, contribuições, INSS,
FGTS etc. Poucos empresários envergonham-se de fazê-lo. Justificam-se com a pergunta: "Já paguei bastante, e o que recebi de
volta?". Escolas públicas ruins,
saúde pública inadequada, polícia ineficiente. E exércitos de políticos, compadres e barnabés inventando mais leis, regulamentos
e normas para atrapalhar a vida.
Os três níveis de governo, além
de sangrarem o povo com impostos, empanturraram-se de dívidas
e agora esgotaram a tolerância
dos credores. Somando a arrecadação ao déficit fiscal, os gastos
públicos equivalem a quase 40%
do PIB. Dizia-se que o Brasil era
"Belíndia" -a pequena Bélgica
de riqueza cercada por uma pobreza de tamanho Índia. Agora,
chama-se o Brasil de "Ingana":
impostos da Inglaterra, mas serviço público de Gana.
Pois não é estranho que, entre
os seis candidatos à Presidência,
não haja nenhum que ofereça a
perspectiva de um governo mais
enxuto, que cobre menos impostos? Qualquer cidadão gastaria o
dinheiro de forma dez vezes melhor se o setor público deixasse de
tirá-lo de seu bolso.
Quem tem mais dinheiro gasta
mais -em cachorros-quentes, sapatos, lustres ou em qualquer outra coisa, mas sobretudo comprando bens e serviços que criam
empregos.
E empresas de qualquer porte
abririam mais vagas se não fosse
pela avalanche de tributação e de
leis trabalhistas e pela intromissão governamental em geral.
As pesquisas mostram que o
que povo brasileiro mais reivindica é emprego. Não "política industrial", como prometem os presidenciáveis, cujas proezas são
frequentemente do tipo "ranários
da Sudam", que custam ao contribuinte uma fortuna e tendem a
criar pouco emprego.
Todos os candidatos falam na
necessidade de um governo ativo,
que faça mais. É uma pena que
nenhum prometa um governo
menor, que custe menos, e, portanto, deixe os brasileiros com
mais do seu dinheiro para gastar
como quiserem.
Apesar da fama de sovina do
ministro da Fazenda, Pedro Malan, os gastos públicos têm aumentado sem parar no governo
FHC. O governo conseguiu melhorias em algumas áreas. Tem
pago as contas herdadas dos governos gastadores do passado.
Mas também, como os governos
estaduais e municipais, continua
torrando bilhões por sua grande
ineficiência.
Infelizmente, ganhe quem ganhar, parece que o próximo governo continuará assim: prometerá fazer mais, mas acabará só
gastando mais. Ou seja, vai "inganar" de novo.
Sendo governo uma coisa tão
impopular, será que não ganha
voto quem prometer menos dele?
Será que não há espaço por aqui
para uma Margaret Thatcher tupiniquim?
PETER COLLINS, correspondente no
Brasil da revista inglesa "The Economist", escreve mensalmente nesta seção,
às quintas-feiras
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