São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 2002

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OLHAR ESTRANGEIRO

Candidatos que "inganam"

PETER COLLINS

O estrangeiro que passa pelas ruas das cidades brasileiras não pode deixar de se impressionar com a variedade de pessoas que ganham a vida na informalidade, como camelô, engraxate, guarda-carros, flanelinha. Em certo aspecto, é uma admirável demonstração de "empreendedorismo". Mas eles, bem como os outros 54% dos trabalhadores que estão na informalidade, só garantiram trabalho por terem fugido da grande sanguessuga chamada setor público brasileiro, que drena as veias da economia e a deixa com anemia crônica.
Até entre as empresas que operam na formalidade é nada raro haver caixa dois e outros "jeitinhos" para sobreviver à miríade de impostos, contribuições, INSS, FGTS etc. Poucos empresários envergonham-se de fazê-lo. Justificam-se com a pergunta: "Já paguei bastante, e o que recebi de volta?". Escolas públicas ruins, saúde pública inadequada, polícia ineficiente. E exércitos de políticos, compadres e barnabés inventando mais leis, regulamentos e normas para atrapalhar a vida.
Os três níveis de governo, além de sangrarem o povo com impostos, empanturraram-se de dívidas e agora esgotaram a tolerância dos credores. Somando a arrecadação ao déficit fiscal, os gastos públicos equivalem a quase 40% do PIB. Dizia-se que o Brasil era "Belíndia" -a pequena Bélgica de riqueza cercada por uma pobreza de tamanho Índia. Agora, chama-se o Brasil de "Ingana": impostos da Inglaterra, mas serviço público de Gana.
Pois não é estranho que, entre os seis candidatos à Presidência, não haja nenhum que ofereça a perspectiva de um governo mais enxuto, que cobre menos impostos? Qualquer cidadão gastaria o dinheiro de forma dez vezes melhor se o setor público deixasse de tirá-lo de seu bolso.
Quem tem mais dinheiro gasta mais -em cachorros-quentes, sapatos, lustres ou em qualquer outra coisa, mas sobretudo comprando bens e serviços que criam empregos.
E empresas de qualquer porte abririam mais vagas se não fosse pela avalanche de tributação e de leis trabalhistas e pela intromissão governamental em geral.
As pesquisas mostram que o que povo brasileiro mais reivindica é emprego. Não "política industrial", como prometem os presidenciáveis, cujas proezas são frequentemente do tipo "ranários da Sudam", que custam ao contribuinte uma fortuna e tendem a criar pouco emprego.
Todos os candidatos falam na necessidade de um governo ativo, que faça mais. É uma pena que nenhum prometa um governo menor, que custe menos, e, portanto, deixe os brasileiros com mais do seu dinheiro para gastar como quiserem.
Apesar da fama de sovina do ministro da Fazenda, Pedro Malan, os gastos públicos têm aumentado sem parar no governo FHC. O governo conseguiu melhorias em algumas áreas. Tem pago as contas herdadas dos governos gastadores do passado. Mas também, como os governos estaduais e municipais, continua torrando bilhões por sua grande ineficiência.
Infelizmente, ganhe quem ganhar, parece que o próximo governo continuará assim: prometerá fazer mais, mas acabará só gastando mais. Ou seja, vai "inganar" de novo.
Sendo governo uma coisa tão impopular, será que não ganha voto quem prometer menos dele? Será que não há espaço por aqui para uma Margaret Thatcher tupiniquim?


PETER COLLINS, correspondente no Brasil da revista inglesa "The Economist", escreve mensalmente nesta seção, às quintas-feiras



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