São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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O QUE DEU CERTO

Geração de renda recupera a cidade

GILBERTO DIMENSTEIN
DO CONSELHO EDITORIAL

Está em andamento em Recife a criação de projeto batizado de "Porto Digital" -uma experiência que mistura tecnologia de ponta e recuperação urbana-, sustentado pela Universidade Federal de Pernambuco, governo estadual, empresários e entidades não-governamentais.
Até pouco tempo uma zona degradada, ocupada por marginais e prostitutas, o bairro do Recife, criado pelos holandeses, parecia irremediavelmente condenado ao abandono, sem qualquer perspectiva econômica.
Numa articulação de várias esferas do poder público e iniciativa privada, os prédios foram recuperados, gerando lazer e cultura, num estilo semelhante ao que ocorreu no Pelourinho, em Salvador -novos frequentadores transitam pelo bairro.
Nesse espaço está em andamento uma experiência capaz de garantir essa recuperação, fugindo dos riscos dos modismos dos bares: dar incentivos para que ali se concentre a produção de tecnologia digital, usando os armazéns abandonados da região portuária como incubadoras de empresas ou centros de pesquisa.
Para lá vão ser transferidos, instalados nos prédios históricos, a Secretaria de Ciência e Tecnologia e um laboratório da Universidade Federal de Pernambuco.
Ao transformar um espaço urbano em pólo tecnológico, gerando renda e empregos sofisticados, Recife tenta assegurar que as reformas não signifiquem apenas fachadas.
Em várias partes do mundo, bairros foram recuperados porque o poder público foi indutor de atividades econômicas, atraindo moradores de maior poder aquisitivo e capazes de abrir lojas ou ateliês. Em Nova York, a prefeitura facilitou a venda dos chamados "lofts", antigas fábricas, a artistas -e, assim, rejuvenesceram-se locais hoje badalados no Soho, Tribeca ou Chelsea, decadentes depois da mudança do perfil econômico da região.
Essa mesma linha é seguida em Santo André, no chamado "Programa Integrado de Inclusão Social", no qual estão envolvidas a Organização das Nações Unidas e a PUC de São Paulo. Foram desenvolvidas melhorias sociais em quatro favelas nas áreas de educação, saúde e lazer, além de infra-estrutura.
Em troca do direito de participar do programa de renda mínima, exigiu-se das famílias que participassem de cursos e oficinas, visando desenvolver habilidades profissionais. Surgiram quatro cooperativas, ajudadas por incubadoras: oficinas de costura, prestação de serviço de limpeza, construção civil e manutenção predial. As costureiras, por exemplo, tiveram a ajuda do Senai.
O êxito do projeto é atribuído à articulação entre diferentes esferas da prefeitura e do poder local. Antes do início do programa, secretarias de educação, habitação, saúde e desenvolvimento econômico montaram uma estratégia conjunta de intervenção.
A chave do sucesso é descobrir a vocação da comunidade e, a partir daí, ajudá-la a construir um plano de geração de renda.
É o que se vê em Curitiba, onde acoplou-se a construção de habitações a pequenos espaços para que os moradores desenvolvam alguma atividade comercial. E, agora, como em Santo André, galpões são incorporados com a criação de cooperativas.


PS- mais detalhes estão em meu site ( www.dimenstein.com.br).


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