São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2000

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SÃO PAULO
José de Abreu, do PTN, mesmo partido do prefeito Celso Pitta, atacou Paulo Maluf e Romeu Tuma; pefelista e pepebista reagiram acusando o candidato de ser petista
Ataques de microcandidatos dominam último debate antes do primeiro turno

DA REPORTAGEM LOCAL

Ataques do candidato nanico José de Abreu (PTN) contra Paulo Maluf (PPB) e Romeu Tuma (PFL) dominaram o último debate entre os postulantes à Prefeitura de São Paulo. O pepebista e o pefelista reagiram dizendo que ele trabalhava em favor dos rivais.
Maluf declarou que Abreu, que pertence ao mesmo partido do prefeito Celso Pitta, ex-afilhado político do pepebista, estava "a serviço do PT".
No segundo bloco do programa, no qual os candidatos trocavam perguntas entre si, Abreu foi sorteado para questionar Maluf: "O senhor é o homem do poço de petróleo sem petróleo, do estrupa (sic), mas não mata. Na sua própria campanha, falava que rouba, mas faz. Qual será a sua grande obra para a cidade de São Paulo?"
Maluf ignorou os ataques. "Interessante o candidato Zé de Abreu. No outro debate, o senhor veio atacar o candidato que foi prefeito de Pindamonhangaba, Geraldo Alckmin. Depois o senhor atacou Romeu Tuma. Agora, o sr. vem me agredir. O senhor está a serviço do PT", disse.
Único dos sete candidatos homens a estar sem gravata, Abreu -que tem como slogan "Nem doutor nem madame. É hora de um Zé na prefeitura"- vestia blusa da marca francesa Lacoste.

"Lalau"
No mesmo bloco, coube a ele perguntar ao senador Tuma. Primeiro, fez uma questão genérica sobre segurança, mas, ao exercer o direito de réplica, atacou:
"O sr. recebeu 192 telefonemas do sr. Lalau. Por que o sr. não pega sua estrelinha e vai prender o Lalau, que roubou R$ 169 milhões e até chamava o sr. de chefe?"
O candidato do PTN se referia ao ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, foragido da Justiça e acusado de desvio de dinheiro das obras do Fórum Trabalhista de São Paulo. Em gravação de suposta conversa de Nicolau, apareceria referências a relações do ex-juiz com o senador pefelista.
"Zé de Abreu, como disse o dr. Paulo Maluf, está a serviço dos outros candidatos. Jamais tive amizade com o Lalau", rebateu Tuma.
Durante a discussão, pessoas da platéia gritaram: "Cadê o Lalau? Cadê o Lalau?". Um dos filhos de Tuma, Rogério, gritou para Abreu, no intervalo seguinte: "Cadê a rádio pirata, Zé?" -uma referência às rádios sem autorização legal que o candidato do PTN possuiu em São Paulo.

Enéas
Marta Suplicy (PT) também entrou em confronto com um microcandidato -Enéas Carneiro (Prona), que pediu que ela respondesse a uma entre três perguntas: "Sobre o distrito de Marsilac, aqui em São Paulo, eu quero que a sra. me responda: qual o maior problema do ponto de vista de índice de bem-estar social? Como resolvê-lo? Sobre a potamografia (parte da geografia que estuda os rios) de São Paulo, os problemas dela decorrentes para o município, qual a solução que a sra. propõe? A terceira é uma pergunta bem simples, se a sra. souber: qual é a composição do ar atmosférico de São Paulo?"
Antes de responder, Marta fez uma defesa do líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, que havia sido acusado por Enéas de assinar um abaixo-assinado em favor da liberalização das drogas.
"Eu vou responder sobre o Marsilac. É uma região de extrema pobreza na cidade, onde eu vou fazer uma subprefeitura, porque não tem presença do Estado. O índice de escolaridade é metade do que temos na cidade", disse Marta.

Verba-escalão
Abreu entrou em polêmica também com Luiza Erundina (PSB). Ela perguntou-lhe: "O que o senhor acha da verba-escalão?"
O candidato do PTN desconversou: "É a primeira vez que ouvi falar disso". Erundina então explicou que são os recursos destinados para manutenção das escolas municipais. "Ah, por que a senhora não falou que era relacionado à educação"?, respondeu.
Assessores de Alckmin e Maluf recebiam pesquisas que estavam sendo feitas no momento do debate com telespectadores para que dissessem quem estava se saindo melhor. Repassavam os números para seus candidatos nos intervalos. Afirmaram que a avaliação de Alckmin, por exemplo, subiu quando ele criticou Pitta e caiu quando declarou que trabalharia em dobro pela cidade.

Febem
No final do terceiro bloco, Marta dirigiu-se a Alckmin chamando-o de "vice-governador" e questionou-o sobre a Febem -no governo Covas, principalmente no segundo mandato (a partir do ano passado), houve várias rebeliões e fugas.
Em sua resposta, Alckmin argumentou que o governo Covas tem feito uma "revolução" no atendimento aos menores e defendeu sua proposta de governo de melhorar a educação municipal para crianças de até seis anos.
A renegociação do pagamento da dívida da cidade com o governo federal e a bandeira anticorrupção também foram citadas repetidas vezes no programa.

Final
O quarto bloco do programa foi destinado às perguntas dos jornalistas, com comentários de outros candidatos. A série começou com pergunta que questionou as ligações do senador com o governo Collor, com o regime militar e com o ex-juiz Nicolau.
No caso de Collor, Tuma disse que assumiu a Receita Federal como funcionário público. Negou as acusações de tortura, mas, devido ao tempo, não conseguiu se manifestar novamente sobre o ex-juiz.
Alckmin foi questionado sobre a ausência, no horário eleitoral do tucano, do presidente Fernando Henrique Cardoso e a única aparição, anteontem, do governador Mário Covas -colegas de partido com baixos índices de aprovação.
Alckmin disse que, como era pouco conhecido, sua estratégia de propaganda na TV privilegiou-o, de maneira a apresentá-lo para o eleitorado. "Não tenho nada a esconder", afirmou.
Abreu voltou a chamar a atenção quando foi convidado a comentar a gestão de Pitta na prefeitura. O candidato se esquivou da resposta, afirmando que seu partido não faz discriminação. "Não importa que Pitta seja negro", disse, para em seguida afirmar que há uma estratégia do PTN em arregimentar militantes negros.

Audiência
Exibido pela Rede Bandeirantes, o debate começou às 21h05 e terminou às 23h30, cerca de meia hora antes do horário previsto. A partir de 0h de hoje, está encerrada a propaganda eleitoral para o primeiro turno, mesmo as indiretas -como seria o caso de um debate em rádio ou TV.
A audiência média foi de 12 pontos, com pico de 15 pontos -cada ponto significa 80 mil telespectadores na Grande de São Paulo. Segundo a TV Bandeirantes, a audiência foi o dobro da média da emissora para o horário.
Os ministros José Serra (Saúde), Paulo Renato Souza (Educação) e Andrea Matarazzo (Comunicação Social), defensores da candidatura de Alckmin, assistiram ao programa da platéia.

Collor
Em relação ao primeiro debate, realizado no início deste mês, a diferença foi a ausência do ex-presidente Fernando Collor (PRTB), cuja candidatura foi cassada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na terça-feira passada.
Collor entrou, no início da noite de ontem, com pedido de liminar no TSE para participar do programa. Alegava que ainda recorre da cassação, mas o direito de participação foi negado. A decisão foi tomada por unanimidade.
O presidente do TSE, Néri da Silveira, argumentou que no momento Collor não dispõe da condição de candidato, por isso não poderia participar do debate.


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