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Intervenção do governo definiu vitória
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após uma disputa acirrada, o
deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), 49, tornou-se o 104º presidente da Câmara dos Deputados
ao derrotar o candidato da oposição, José Thomaz Nonô (PFL-AL), por 258 votos a 243.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva empenhou-se pessoalmente
na disputa como forma de evitar
que caísse nas mãos da oposição o
terceiro cargo mais importante da
República, comandado nos últimos sete meses por Severino Cavalcanti (PP-PE).
O resultado, proclamado às
21h11, foi obtido depois de uma
operação de guerra deflagrada na
tarde de ontem pelo Planalto, que
enviou à Câmara três ministros,
ameaçou aliados de retaliação e
prometeu atender a diversos pleitos, o principal deles a liberação
de verbas para as emendas de parlamentares ao Orçamento.
Houve ainda seis votos brancos
e dois nulos. Na votação em primeiro turno ocorrida durante a
tarde, que envolveu seis candidatos, Aldo e Nonô empataram com
182 votos cada um. O resultado
acendeu o sinal amarelo no governo, já que Nonô, alimentado
pelo PMDB oposicionista, superara as expectativas.
Apesar de apertada, a vitória do
governo é importante: a presidência da Câmara, agora nas mãos de
um aliado de Lula, é que define a
abertura de processo de impeachment contra o presidente da República.
"A votação de hoje demonstra
que essa Casa é uma instituição livre, esse é um espaço independente e pertence ao seu titular
maior, o povo brasileiro", afirmou Aldo no discurso da vitória.
Horas antes, ele havia dito que teria coragem para condenar os culpados e defender os inocentes, se
referindo aos 16 deputados acusados de envolvimento no escândalo do "mensalão".
Com o apoio no segundo turno
do PP e do PTB -que tiveram
candidatos na primeira votação-, Aldo sofreu, entretanto,
um alto índice de rejeição. A soma
dos deputados que integram os
partidos que o apoiava, mais metade do PMDB, soma 327, 69 a
mais do que os votos que ele realmente conseguiu. Minutos antes
do segundo turno, o Planalto avaliava que venceria a eleição, descontadas as traições, com uma
margem de 30 votos, mas a diferença final acabou sendo a metade do previsto.
O comunista comandará a Câmara por um ano, quatro meses e
dois dias -até 31 de janeiro de
2007. O orçamento anual da Casa
é de R$ 2,5 bilhões, o que supera o
da maioria dos Estados e cidades
brasileiras, separadamente.
Outros quatro candidatos foram eliminados na disputa em
primeiro turno. Ciro Nogueira
(PP-PI), herdeiro político de Severino, teve apenas 76 votos, o
que mostra como ele foi prejudicado pelo governo, que anteontem minou sua candidatura. Luiz
Antônio Fleury (PTB-SP) ficou
com 41 votos, Alceu Collares
(PDT-RS) recebeu 18 e Jair Bolsonaro (PP-RJ) não saiu do zero
-tendo lançado a candidatura
apenas para espinafrar o PT, ele
afirmou que votaria em Ciro.
Para retomar o controle da Câmara, Lula entrou diretamente na
articulação pró-Aldo, seu ex-ministro da Articulação Política e ex-líder do governo na Câmara. Estiveram na Câmara na tarde de ontem Márcio Fortes (Cidades, ligado ao PP), Walfrido dos Mares
Guia (Turismo, PTB) e Alfredo
Nascimento (Transportes, PL).
O PP de Ciro inclinou-se pela
candidatura governista após receber garantias do Palácio de que
seu ministro ganharia prestígio e
verbas. O PTB de Fleury também
fechou com Aldo diante da ameaça do ministro Walfrido de que
renunciaria caso o partido abandonasse o candidato oficial.
O maior temor do Planalto era
que as traições causassem a repetição do que considera "o desastre
de fevereiro". Naquele mês, o
"azarão" Severino derrotou o
candidato governista, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), por 300
votos a 195 no segundo turno.
Depois de uma gestão-relâmpago de pouco mais de sete meses,
Severino renunciou, acusado de
receber propina de um concessionário de restaurantes da Câmara.
Diante disso, o governo estabeleceu como prioridade retomar o
comando da Casa, posto importante na correlação de forças para
as eleições do ano que vem.
Aldo negou que o Planalto tenha usado a máquina para cabalar votos a seu favor. "Todos os
votos do Nonô foram frutos da livre consciência de cada deputado.
Reivindico esse mesmo princípio
para meus votos."
Apesar de ter renunciado sob
acusação de corrupção, Severino,
que tem ascendência sobre o "baixo clero" -grupo de deputados
de pouca expressão política-, foi
citado tanto por Aldo como por
Nonô. O pefelista disse que sempre foi solidário ao ex-presidente
da Câmara. Aldo leu uma citação
de Frei Caneca (1779-1825), frade
carmelita fuzilado em 1825 por
sua atuação em movimentos separatistas e republicanos, lembrando que Severino é autor de
projeto de anistia do frade.
Dois secretários municipais do
prefeito tucano José Serra -Walter Feldmann (PSDB) e Dr. Pinotti (PFL)- reassumiram seus cargos de deputado para votar em
Nonô.
(RANIER BRAGON, FÁBIO ZANINI, ADRIANO CEOLIN, CHICO DE GOIS, LUIZ
FRANCISCO, SILVIO NAVARRO E KENNEDY
ALENCAR)
Leia mais sobre a eleição na Câmara na
www.folha.com.br
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