São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2005

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Intervenção do governo definiu vitória

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após uma disputa acirrada, o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), 49, tornou-se o 104º presidente da Câmara dos Deputados ao derrotar o candidato da oposição, José Thomaz Nonô (PFL-AL), por 258 votos a 243.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva empenhou-se pessoalmente na disputa como forma de evitar que caísse nas mãos da oposição o terceiro cargo mais importante da República, comandado nos últimos sete meses por Severino Cavalcanti (PP-PE).
O resultado, proclamado às 21h11, foi obtido depois de uma operação de guerra deflagrada na tarde de ontem pelo Planalto, que enviou à Câmara três ministros, ameaçou aliados de retaliação e prometeu atender a diversos pleitos, o principal deles a liberação de verbas para as emendas de parlamentares ao Orçamento.
Houve ainda seis votos brancos e dois nulos. Na votação em primeiro turno ocorrida durante a tarde, que envolveu seis candidatos, Aldo e Nonô empataram com 182 votos cada um. O resultado acendeu o sinal amarelo no governo, já que Nonô, alimentado pelo PMDB oposicionista, superara as expectativas.
Apesar de apertada, a vitória do governo é importante: a presidência da Câmara, agora nas mãos de um aliado de Lula, é que define a abertura de processo de impeachment contra o presidente da República.
"A votação de hoje demonstra que essa Casa é uma instituição livre, esse é um espaço independente e pertence ao seu titular maior, o povo brasileiro", afirmou Aldo no discurso da vitória. Horas antes, ele havia dito que teria coragem para condenar os culpados e defender os inocentes, se referindo aos 16 deputados acusados de envolvimento no escândalo do "mensalão".
Com o apoio no segundo turno do PP e do PTB -que tiveram candidatos na primeira votação-, Aldo sofreu, entretanto, um alto índice de rejeição. A soma dos deputados que integram os partidos que o apoiava, mais metade do PMDB, soma 327, 69 a mais do que os votos que ele realmente conseguiu. Minutos antes do segundo turno, o Planalto avaliava que venceria a eleição, descontadas as traições, com uma margem de 30 votos, mas a diferença final acabou sendo a metade do previsto.
O comunista comandará a Câmara por um ano, quatro meses e dois dias -até 31 de janeiro de 2007. O orçamento anual da Casa é de R$ 2,5 bilhões, o que supera o da maioria dos Estados e cidades brasileiras, separadamente.
Outros quatro candidatos foram eliminados na disputa em primeiro turno. Ciro Nogueira (PP-PI), herdeiro político de Severino, teve apenas 76 votos, o que mostra como ele foi prejudicado pelo governo, que anteontem minou sua candidatura. Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) ficou com 41 votos, Alceu Collares (PDT-RS) recebeu 18 e Jair Bolsonaro (PP-RJ) não saiu do zero -tendo lançado a candidatura apenas para espinafrar o PT, ele afirmou que votaria em Ciro.
Para retomar o controle da Câmara, Lula entrou diretamente na articulação pró-Aldo, seu ex-ministro da Articulação Política e ex-líder do governo na Câmara. Estiveram na Câmara na tarde de ontem Márcio Fortes (Cidades, ligado ao PP), Walfrido dos Mares Guia (Turismo, PTB) e Alfredo Nascimento (Transportes, PL).
O PP de Ciro inclinou-se pela candidatura governista após receber garantias do Palácio de que seu ministro ganharia prestígio e verbas. O PTB de Fleury também fechou com Aldo diante da ameaça do ministro Walfrido de que renunciaria caso o partido abandonasse o candidato oficial.
O maior temor do Planalto era que as traições causassem a repetição do que considera "o desastre de fevereiro". Naquele mês, o "azarão" Severino derrotou o candidato governista, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), por 300 votos a 195 no segundo turno.
Depois de uma gestão-relâmpago de pouco mais de sete meses, Severino renunciou, acusado de receber propina de um concessionário de restaurantes da Câmara. Diante disso, o governo estabeleceu como prioridade retomar o comando da Casa, posto importante na correlação de forças para as eleições do ano que vem.
Aldo negou que o Planalto tenha usado a máquina para cabalar votos a seu favor. "Todos os votos do Nonô foram frutos da livre consciência de cada deputado. Reivindico esse mesmo princípio para meus votos."
Apesar de ter renunciado sob acusação de corrupção, Severino, que tem ascendência sobre o "baixo clero" -grupo de deputados de pouca expressão política-, foi citado tanto por Aldo como por Nonô. O pefelista disse que sempre foi solidário ao ex-presidente da Câmara. Aldo leu uma citação de Frei Caneca (1779-1825), frade carmelita fuzilado em 1825 por sua atuação em movimentos separatistas e republicanos, lembrando que Severino é autor de projeto de anistia do frade.
Dois secretários municipais do prefeito tucano José Serra -Walter Feldmann (PSDB) e Dr. Pinotti (PFL)- reassumiram seus cargos de deputado para votar em Nonô.
(RANIER BRAGON, FÁBIO ZANINI, ADRIANO CEOLIN, CHICO DE GOIS, LUIZ FRANCISCO, SILVIO NAVARRO E KENNEDY ALENCAR)


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