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Governo empenha mais verbas para
emendas propostas por cassáveis
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Oito dos deputados que protagonizam a crise política dos últimos meses estão entre os que
mais se beneficiaram neste ano
dos compromissos de liberação
de dinheiro público para suas bases políticas, via emendas parlamentares. Três deles ainda tentam evitar a perda do mandato:
João Paulo Cunha (PT-SP), Paulo
Rocha (PT-PA) e Pedro Henry
(PP-MT).
Entre os 33 deputados que tinham até ontem pelo menos R$ 1
milhão em emendas candidatas a
sair do papel, o Siafi registrava os
nomes de Roberto Jefferson (deputado que denunciou o "mensalão" e teve o mandato cassado) e
de dois outros deputados que renunciaram aos mandatos por envolvimento no mesmo escândalo
-Carlos Rodrigues (PL-RJ) e
Valdemar Costa Neto (PL-SP)-,
além de Henry, Rocha e João Paulo, que enfrentam processos de
cassação por supostamente terem
se beneficiado pelo esquema.
Esses compromissos de gastos,
conhecidos como "empenhos",
somaram R$ 34 milhões em sete
dias, desde a renúncia de Severino
Cavalcanti (PP-PE), um dos integrantes da lista de deputados com
mais de R$ 1 milhão em emendas
candidatas a sair do papel.
Entre a véspera da renúncia e a
última segunda-feira, o ex-presidente da Câmara teve quase R$
700 mil de dinheiro público reservado para projetos que apresentou ao Orçamento. Também integra a lista o deputado Gonzaga
Patriota (PSB-PE), suposto co-autor do documento que garantia
prorrogação ilegal e licença para o
empresário Sebastião Buani operar restaurante na Câmara.
Depois do PT, o PP é o partido
mais favorecido até aqui com os
compromissos de gastos do governo com emendas parlamentares, revelam ainda registros do
Siafi (sistema de acompanhamentos de gastos federais), levantados
pelo gabinete do deputado distrital Augusto Carvalho (PPS).
O recordista na corrida pela liberação até aqui é o deputado
Francisco Dornelles (PP-RJ). Até
ontem, o governo havia se comprometido a pagar R$ 1,9 milhão
de suas emendas.
"Isso é picaretagem, o governo
empenha e não paga, não dá para
levar a sério", disse Dornelles, entre risos, ao ser informado da condição de líder nas benesses do governo. A reação do deputado sugeria o fracasso de um dos instrumentos do Planalto na busca de
votos para o candidato governista
à presidência da Câmara. Ontem,
Dornelles abandonou a disputa
pelo comando da Câmara em favor do principal adversário do governista Aldo Rebelo (PC do B-SP), José Thomaz Nonô (PFL).
No Orçamento da União de
2005, cada deputado e senador
pôde apresentar projetos de gastos públicos até o limite de R$ 3,5
milhões. A liberação de dinheiro
tradicionalmente segue critérios
políticos, e o "empenho" das
emendas é apenas o primeiro passo para tirá-las do papel.
Em busca de votos para Aldo
Rebelo, o Planalto teria prometido empenhar R$ 500 milhões em
emendas parlamentares. Até ontem, de mais de R$ 1 bilhão em
emendas parlamentares individuais autorizadas no Orçamento,
cerca de 13% (R$ 141 milhões)
eram objeto de compromisso preliminar de gasto. Apenas R$ 3,9
milhões haviam sido pagos.
Um dos mais beneficiados com
o ritmo acelerado dos empenhos
nos últimos dias foi outro voto
perdido para o Planalto. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) teve
R$ 440 mil de emendas empenhadas na véspera da votação. "Eu só
posso achar que o governo está
perdido ou que gosta de apanhar,
como a mulher do malandro: acabei de votar no Ciro [Nogueira,
PP-PI]", disse ele, que era candidato, entre gargalhadas.
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